terça-feira, outubro 04, 2016

XXVII DOMINGO DO TEMPO COMUM



Tudo leva a crer que os apóstolos ficaram um tanto quanto desconcertados com a resposta de Jesus. Eles haviam pedido a Jesus que aumentassem sua fé, mas Jesus não atende o pedido e começa a falar dos efeitos da fé. Efeitos de uma fé grande e inabalável, diga-se de passagem, mas comparada a um grão de mostarda. A fala de Jesus é paradoxal. Além do mais, Jesus fala no condicional: “se tivésseis fé...” Por que será que Jesus não realiza um milagre para aumentar a fé? Por que será que Jesus, em vez de responder diretamente, prefere destacar os efeitos da fé, aquilo que a fé pode realizar em nossas vidas? A bem da verdade, também eu não sei dizer o motivo. É certo que Jesus poderia muito bem ter mostrado uma estrada, ter definido um método, um caminho para o crescimento na fé. Poderia ter dito: sigam por este caminho e vocês crescerão na fé. Sigam por esta estrada, e vocês perceberão como a fé aumentará. Mas não fez nada disso. Preferiu apenas mostrar a força da fé na vida de quem crê. A interrogação e a surpresa continuam no ar. 

Mas, nem tudo está perdido. Algumas pistas aparecem no Evangelho que ouvimos. A conversa de Jesus com os discípulos não deixa dúvidas que um dos caminhos para crescer na fé é a humildade. É o que podemos perceber na parábola contada por Jesus logo depois da sua comparação da fé com o grão de mostarda. Nas entrelinhas da parábola, Jesus está dizendo que fé não se conquista pelo conhecimento de teorias religiosas, nem tampouco que cresce com estratégias de coaching. A fé não é uma questão de conhecimento, de estruturação mental e racional para se conseguir efeitos. De certa forma, a fé foge da regra de causa e efeito. A fé cresce dentro de nós pela humildade traduzida em serviço. É o que diz a parábola de Jesus. Ser humildade é primeira condição para se crescer na fé. Na mesma parábola, Jesus indica a segunda condição: o serviço. O crescimento da fé acontece por meio do serviço humilde. Colocar-se ao serviço de Deus, dispor-se a servir o próximo é ingressar no caminho do crescimento da fé. Assim fez Abraão, o pai da fé, que se colocou a serviço de Deus para formar um povo novo. Assim fez Maria, a mãe de Jesus, que se fez servidora de Deus, servidora de Isabel; e assim cresceu na fé. 


Tanto Abraão como Maria entram no quadro dos justos, daqueles vivem, daqueles que resistem pela fé, pela força da fé, como concluía a 1ª leitura. Da mesma forma, podemos citar o exemplo de muitos santos e santas que, humildemente, colocaram-se a serviço do projeto divino, na Igreja, através da fraternidade. Pessoas como nós que fizeram o caminho no crescimento da fé. Olhemos o exemplo de Santa Teresa de Calcultá; aqui no Brasil, o exemplo da Beata Irmã Dulce, de São Frei Galvão... pessoas que viveram da fé, construíram obras sem condições financeiras e nem humanas, cresceram porque humildemente se colocaram a serviço do projeto divino e a serviço de quem necessitava ser ajudado. Não é a fé que faz as obras crescerem, mas o crescimento das obras — o transportar uma amoreira de um lugar para o outro — é resultado da fé. É o reconhecimento que mesmo desafiado por todo tipo de dificuldade, até mesmo ameaçado pelo mal, não cede, não vacila, não duvida por se ter fé firme e forte.


Não tenho fé por meus méritos, porque eu sou melhor, porque eu posso tudo. A fé não é uma força positiva que eu produzo dentro de mim. Por isso, a humildade como necessária para o crescimento na fé e da fé na vida pessoal. É Deus quem concede a fé, na medida que eu permito sua ação em minha vida. Crescer na fé é saber que Deus age em mim e tal ação provoca o serviço a Deus e aos irmãos. Volto a repetir, para concluir minha reflexão, que a fé, a partir da meditação da parábola, no Evangelho de hoje, não é uma questão de conhecimento intelectual, mas é uma consequência de quem humildemente se coloca a serviço de Deus e dos irmãos. À medida que serve a Deus e aos irmãos a pessoa percebe a ação divina em sua vida e cresce na fé. Quem vive assim é capaz de coisas impensáveis, como transportar uma amoreira de um lugar ao outro. De pessoas, fisicamente fracas, que transportaram “amoreiras” de um lugar ao outro, a Igreja está repleta. São santos e santas, mas também pessoas que convivem conosco e, graças à fé transportam amoreiras de dificuldades para o outro lado da vida. Por isso, vale a pena acolher o conselho de Paulo quando diz que “Deus não nos deu um espírito de timidez, mas de fortaleza, de amor e sobriedade”. Este é o Espírito de quem vive pela fé e nada teme, porque vive em Deus e quem vive em Deus não é tímido, é corajoso, mesmo diante de desafios impossíveis, como transportar uma amoreira de um lugar para o outro. Amém!


No final da celebração Padre Marcos manteve a tradição da distribuição dos doces ainda por ocasião da Festa dos Santos Cosme e Damião, celebrada no último dia 26 de setembro.