Nos Domingos que precederam a este, prevaleceu o tema da “semente” plantada no terreno do coração. Um modo de dizer que as mudanças sociais, e também as mudanças nos relacionamentos com as pessoas, iniciam-se no coração, no interior da pessoa e não vem de fora, por alguma imposição. É pela mudança de coração que se terá uma sociedade nova, com relacionamentos mais fraternos. Agora, a partir deste 17º Domingo do Tempo Comum - A, a Liturgia conduz os celebrantes a considerar o valor do Reino de Deus, que é uma pérola; um verdadeiro tesouro (Evangelho).
É um Reino que se constrói não de cima para baixo, mas a partir de dentro, fermentando a sociedade com os valores do Evangelho, ouvindo o povo, vendo as necessidades do povo, percebendo o que o povo precisa para viver dignamente. O segredo para isso, explica o autor da 1ª leitura, está em Salomão, que intercede a graça de ouvir o que o povo tem a dizer. Salomão não pretende governar a partir de teorias de sábios e com estratégias políticas, mas ouvindo o que o povo diz e tem a dizer. A partir desse fato ele terá condições de conduzir os destinos do povo na justiça e na retidão.
Mas, não somente ouvir a voz do povo, antes disso, é preciso ouvir a voz divina, que fala ao povo através da sua Palavra. Paulo, na 2ª leitura, usa alguns termos que podem causar confusão, principalmente quando fala de “predestinação”. Nossa compreensão de “predestinação” é que existe um destino, no qual tudo está definido e o que acontece assim acontece porque tinha que acontecer. Segundo os estudiosos o sentido Bíblico de “predestinação” é outro. Com o termo “predestinação”, Paulo está propondo um caminho de fé que conduz à glória divina. O caminho do povo, portanto, tem uma meta já estabelecida, “predestinada”, para se participar da glória divina, para se participar da vida plena: trata-se do caminho do Evangelho com sua proposta do Reino. É neste caminho “predestinado” que somos chamados a caminhar, mas não obrigados. Existe a liberdade e na liberdade humana, marcada pela obediência e pela desobediência, feita de graça e de pecado, que Deus escreve sua história, sempre convidando o homem a participar do projeto do seu Reino. Quem compreende e encontra a história divina na vida pessoal (e igualmente na vida comunitária) encontra um tesouro.
As parábolas que Jesus conta, no Evangelho deste Domingo, contêm três aspectos que merecem ser considerados, no contexto de nossa reflexão. O primeiro é que o Reino de Deus não é feito de propagandas ou publicidades, mas é simples e se manifesta na simplicidade. Por isso está escondido e precisa ser encontrado. Tudo que é propagandeado não precisa ser descoberto, porque é mostrado e não necessita o esforço da busca e da procura. O Reino é uma pérola que aparece quando existe acolhimento fraterno, quando é possível rir com quem ri, chorar com quem chora... gestos simples, portanto, que escondem a pérola do Reino.
O segundo elemento é o risco do investimento: o homem descobriu, vendeu tudo e comprou o campo. Atitude diferente foi a daquele jovem rico (Mt 19), que não arriscou suas seguranças para comprar o campo da vida onde se encontra a pérola do Reino. E, por fim, o terceiro elemento é a necessidade de avaliar os valores “pescados” no decorrer da vida e perceber o que é pérola do Reino e o que não é. Não se pode viver apegado a tesouros que contêm coisas novas e velhas. O que conta é o novo do Reino.