sábado, abril 07, 2018

ORIENTAÇÕES LITÚRGICAS,POR DOM NELSON FRANCELINO




MISSA É MISSA, NÃO UM ESPETÁCULO. ELA NÃO PRECISA SER ADJETIVADA PARA COMPLETAR SEU SIGNIFICADO!

Algumas pessoas podem correr o risco de participarem da Missa apenas de modo emocional e sentimental. Buscam Missas diferenciadas apenas para celebrar seus momentos sociais ou procurarem por cura e libertação. De fato, pela Missa podemos agradecer a Deus tantas coisas e podemos pedir outras, no entanto, esse não pode ser o nosso foco. Sobretudo, não podemos antagonizar a Missa Católica a um “novo estilo de Missa”, ou adapta-lá ao meu gosto ou prazer, como se o modo de celebrar ou a pessoa do celebrante acrescentasse algo a mais, pensando que seguir as normas litúrgicas e o Missal, sem adendos, a missa seria “morta”, “sem emoção”, sem “tocar o coração”. Essa forma de pensar de alguns católicos sem formação tem determinado muitos abusos por parte dos celebrantes ou comunidades que exige do padre “ certos apetrechos” que vão dando adjetivos a missa e despertando ou alterando o próprio sentido do celebrante, que se ver na necessidade de aprimorar certos dons artísticos, a ponto de se auto definir artista da principal da missa e transformando os presbitérios e verdadeiros palcos para seus shows e suas criatividades que os lançam à beira do ridículo e, muitas vezes, ao precipício do vazio espiritual. Essa mentalidade tem que ser combatida por todos nós! 


Ora, o Rito romano é único para todas as nossas paróquias e nenhum ministro ordenado pode modificá-lo sem que haja um ordenamento da Igreja. Se algum movimento da Igreja vive a Missa de uma maneira diferente, ele é livre para isso, desde que não se firam as normas litúrgicas, nem se menospreze a Missa que não siga tal escopo, nem profane o lugar sagrado que tem no altar, crucifixo, no ambão, na cátedra e sacrário seus lugares de maior expressão e não no Padre. Lá ele está a serviço do mistério litúrgico e não como agente central. Devido à isso, o nosso querido papa emérito Bento XVI retoma um velho costume de se colocar no centro do Altar um crucifixo e o missal Romano nos pede que se tenha seja sob ou ao redor para marcar a verdadeira expressão do mistério da Santa missa do qual o padre deve estar a serviço. 


Portanto: Missa é Missa, não precisa de adjetivos!


A grandeza infinita da Santa Missa deve fazer-nos compreender que não somos sujeitos da Liturgia, protagonistas dela, mas sim Jesus. Amor e adoração devem ser as práticas mais dominantes nos ritos e não a nossa emoção; mesmo que eu não “sinta” nada, a Missa continua sendo missa com seu valor; mesmo que eu não tenha vontade de ir à Missa, devo ir porque objetivamente ela é meritória e me santifica. O estado de alma, na hora da celebração, deve ser o mesmo em que se achava o nosso divino Redentor, quando fez o sacrifício de si mesmo: uma humilde submissão do espírito, isto é, a adoração, o amor, o louvor e ao agradecimento à Suma Majestade de Deus. E mesmo que eu não consiga dispor minha alma para isso, o Senhor completa em mim o que não posso ou que não consigo. O verdadeiro modo de assistência e de celebrar à Santa Missa é aquele que nos torna vítimas imoladas como Jesus, que nos põe à Mesa de seu Banquete, mesmo sem merecimento. É unir nosso sacrifício ao Dele, sem resistências de modo a “reproduzir em nós os sofrimentos de Jesus”, dando-nos “uma união comum com Cristo em seus sofrimentos e a conformidade com Ele e sua morte” (Fl 3,10).


São Gregório Magno ensinava: “O santo Sacrifício do altar será para nós uma Hóstia (vítima) verdadeiramente aceita por Deus, quando nós mesmos nos fizermos vítimas.” Por isso, nas antigas comunidades cristãs os fiéis, para a celebração da Santa Missa, tendo à frente o Papa, iam em procissão até o altar, vestidos com vestes de penitência e cantando a Ladainha dos Santos. Na verdade, quando vamos à Santa Missa, devemos ir, repetindo com São Tomé: “Vamos nós também para morrermos com Ele!” (Jo 11, 16); vamos nós também para nos entregarmos a Ele, nos unirmos ao seu amor! Vamos nós também para nos comprometermos com os pobres, os esquecidos, os doentes, para sermos sal e luz deste mundo! 


Quando Santa Margarida Maria Alacoque assistia à Santa Missa, e ficava olhando o altar, não deixava nunca de lançar um olhar para o crucifixo e para as velas acessas. Para que se imprimissem bem duas coisas na mente e no coração: o crucifixo fazia-lhe lembrar o que Jesus tinha feito por ela; e as velas acesas lhe recordavam o que ela devia fazer por Jesus, isto é, sacrificar-se e imolar-se por Ele e pelas almas, se consumir de amor pelos irmãos, em todas as suas necessidades, sem discriminação; servir aos humildes e ter misericórdia para com os pecadores.


Nunca refletimos bastante sobre o Mistério maravilhoso da Santa Missa que renova sobre os nossos altares o Banquete Sagrado da última Ceia e o Sacrifício do Calvário. Nunca amaremos demais a Eucaristia; nunca nos curvaremos demais à Liturgia; nunca refletiremos o bastante sobre nosso compromisso de amor aos pequenos; nunca receberemos tantas graças de misericórdia, senão pela Missa. 


Santa Teresa de Jesus dizia às suas filhas: “Sem a Santa Missa, que seria de nós? Tudo pereceria neste mundo, pois somente ela pode deter o braço de Deus.” Sem a Santa Missa, certamente muitos de nós já teríamos nos perdido, certamente viraríamos animais e não homens. “Sem a Santa Missa, a Terra já teria sido aniquilada, há muito tempo, por causa dos pecados dos homens.”, ensinava Santo Afonso de Ligório. 


Segundo São Tomás de Aquino: “A Eucaristia é o sacramento do Amor, significa amor, produz amor”. Defendamos a Missa Católica, ela é nosso dever, nosso direito e nossa salvação.


Procuremos fugir dessa mentalidade ilusionista e consumista que nos faz constantemente receber mensagens e fotos pelo whatsapp de tantas missas teatralizadas, verdadeiros espetáculos onde esse Sagrado significado perene é facilmente esquecido e abandonado em troca de aplausos e elogios, tais como: hoje, padre, o Senhor e a equipe de ornamentação, de canto arrasaram, cheguei até chorar...


Nesses tempos de teatralização e shows midiáticos, reforcemos a nossa catequese liturgica. 

Dom Nelson Francelino Ferreira
Bispo Diocesano