segunda-feira, abril 30, 2018

V DOMINGO DA PÁSCOA, PRIMEIRA COMUNHÃO



Permanecer em Deus

No contexto do caminho espiritual, a vida cristã é um caminho que conduz ao encontro com Deus para com Deus “permanecer”. É o convite feito por Jesus, no Evangelho deste Domingo: “permanecei em mim”. Muitos autores da Teologia Espiritual cristã dizem que uma definição de Deus, dentre as mais belas, é esta: "Deus é aquele que permanece"; não muda. O permanecer em Deus, por isso, é a grande aspiração do coração humano: caminhar para encontrar-se com "aquele que permanece"; aquele que pode ser encontrado no amor (2L) e nele "permanecer" (E). Só tem condições de colher frutos na vida humana aquele que direciona sua vida para ir ao encontro de Jesus e nele permanecer como um ramo permanece na videira (E).

João, no início da 2ª leitura, convida a amar com atitudes concretas e com a verdade. Nosso conceito de verdade relaciona a adequação entre o pensamento e a realidade dos fatos. No conceito Bíblico “verdade” indica a atitude de "fidelidade", atitude de quem é fiel. Deus é verdadeiro porque é fiel, diz o Deuteronômio (Dt 7,9). Num contexto de pecado e de infidelidades da parte do povo — é aqui que retomamos nosso tema — Deus “permanece” verdadeiro, Deus “permanece” fiel em seu amor para com o povo. Diferente de Deus, que "permanece fiel" (verdadeiro), o homem é marcado pela instabilidade, de onde sua dificuldade de ser fiel, ser “verdadeiro”. Logicamente, para viver na fidelidade a Deus e cultivar o projeto divino em sua vida, em palavras e atitudes, o homem precisa “permanecer” em Deus e, para isso acontecer, necessita continuamente redirecionar o caminho para Deus. É o processo da conversão.

Converter-se significa refazer o caminho para enraizar-se — permanecer — na estabilidade de Deus. Aqueles que confiam no poder humano, em carros e cavalos, a Bíblia chama de loucos, porque sempre viverão na instabilidade da vida humana (Sl 20,7); são construtores de vidas sobre a areia, no dizer de Jesus (Mt 7,26-27). A estabilidade de uma pessoa, de uma família, de uma comunidade não está no poder humano, mas na força da fé. A segurança da vida não pode vir de outro homem, mesmo que esteja armado com o mais poderoso arsenal bélico, porque nada que é humano “permanece”. Sempre virá um outro mais forte e tomará o poder. Somente Deus é aquele que "permanece".


Permanecer em Jesus

O tema do "permanecer em mim" aparece no longo discurso de despedida de Jesus, proclamado no Evangelho deste Domingo. "Permanecer em mim" é o Mandamento dado por Jesus pouco antes de sua morte. Estudiosos de João dizem que João introduziu este discurso no seu Evangelho na situação de cansaço na sua comunidade eclesial. A inserção do ensinamento de Jesus, de nele permanecer, portanto, tinha a finalidade de recuperar este Mandamento do Senhor para não cair no desânimo e continuar sendo fiel no caminho do discipulado. Para isso, a necessidade imprescindível de "permanecer em Jesus".

A comparação de Jesus com a vinha tem dois aspectos, no processo do “permanecer”. Um aspecto remete à infidelidade do povo, no Antigo Testamento. Depois de ter conhecido e visto toda a dedicação de Deus para com sua vinha (Is 5; Ez 19,10-12), o povo caiu na infidelidade. O outro aspecto é a condição para se produzir frutos de vida no caminho do discipulado: não é possível produzir frutos se se estiver separado de Jesus. Quem viver distante de Jesus deixa de ser seu discípulo, secará e acabará consumido no fogo (E). Isso significa que a vida cristã só tem sentido e é verdadeiramente autentica se produz frutos.

A conclusão da parábola da vinha demonstra uma finalidade clara de "permanecer em Jesus": "nisto meu Pai é glorificado: que deis muitos frutos e vos torneis meus discípulos" (E). A glória de Deus é a presença da vida divina frutificando no meio da humanidade. A glorificação divina, a sua presença, não acontece pelo esplendor das catedrais e nas grandes concentrações de pessoas em congressos e jornadas, mas pelo fruto da vida divina sendo produzido em quem se faz discípulo e discípula de Jesus, no cotidiano da existência. Lá onde o discípulo e a discípula produzem frutos da vida divina, ali Deus é glorificado.