Eis
ainda uma parábola sobre a má riqueza. Notemos, em primeiro lugar, que é a
única parábola em que Jesus dá um nome a um dos protagonistas da história que
inventa. O pobre chama-se Lázaro. Este nome, em hebraico, significa “Deus
socorreu”. É bem isto que Jesus fez pelo seu amigo. O rico, esse, é descrito
com todo o fausto que o rodeava: vestidos luxuosos, festins suntuosos e
quotidianos. Mas não tem nome. Ele é “o rico”. Aos olhos de Deus, os que ocupam
o primeiro lugar são os pobres. Vamos mais longe. Uma frase é central no
relato: “Lázaro bem desejava saciar-se do que caía da mesa do rico, mas até os
cães vinham lamber-lhe as chagas”. Uma frase muito próxima da parábola do filho
pródigo, quando o filho mais novo lamenta não poder comer as bolotas dos porcos.
O filho mais novo simboliza, sem dúvida, o homem pecador fechado na sua
solidão. O pobre Lázaro, esse, é vítima do pecado do rico, mas o resultado é o
mesmo: não são vistos por ninguém. Ninguém lhes dá atenção. Só os cães vêm
lamber as chagas do pobre. Temos aí uma descrição muito realista do que são
muitas vezes as nossas relações. “O rico” é um nome anônimo . As nossas
relações não são muitas vezes anônimas? Mesmo com os nossos mais próximos, não
acontece, por vezes, que não os vemos verdadeiramente, a ponto de esquecer
simplesmente de lhes dizer bom dia, de estar atentos a eles. A indiferença é
verdadeiramente um pecado que pode matar. Nomeando o pobre Lázaro, Jesus
recorda-nos, ao contrário, que, para Ele e para o seu Pai, cada ser humano é
olhado como único. Jesus veio compensar o olhar vazio e anônimo do rico. Veio socorrer todos os pobres – é o
sentido do nome de Lázaro! Mais ainda que Moisés e os profetas, é Jesus que
devemos escutar, para agir como Ele.
segunda-feira, setembro 30, 2019
quinta-feira, setembro 26, 2019
DIA DE SÃO PAULO VI
Paulo
VI, Giovanni Battista Montini, é conhecido por ser o Pontífice que finalizou o
Concílio Vaticano II, que havia sido inaugurado pelo seu predecessor João
XXIII.
Entretanto,
muitos acontecimentos importantes do seu pontificado são pouco conhecidos. Eram
tempos em que os meios de comunicação não tinham o alcance que têm atualmente,
com a internet e com as redes sociais.
A
seguir, confira oito coisas que você provavelmente não conhecia sobre São Paulo
VI:
1.
Em 27 de novembro de 1970, no Aeroporto Internacional de Manila (Filipinas),
Paulo VI recebeu duas punhaladas do pintor boliviano Benjamín Mendoza y Amor
Flores, que sofria de problemas mentais e que disfarçado de sacerdote tentou
assassinar o Pontífice com um punhal.
2.
Foi o primeiro Pontífice que usou avião em suas viagens.
3.
Foi o primeiro Pontífice que visitou os cinco continentes e, antes de São João
Paulo II, ele já havia recebido o apelido de “Papa Peregrino”. Realizou uma
visita pastoral ao continente africano; e também visitou a Colômbia e os
Estados Unidos, na América; Portugal, na Europa; Austrália, na Oceania;
Filipinas e Índia, na Ásia.
4.
Além disso, foi o primeiro Papa que visitou a Terra Santa. Em Jerusalém, em
1964, encontrou-se com o patriarca ortodoxo Atenágoras I e celebraram juntos o
levantamento das mútuas excomunhões impostas depois do Grande Cisma entre o
Oriente e o Ocidente, em 1054. O Papa Francisco visitou a Terra Santa em 2014
para celebrar os 50 anos deste acontecimento.
5.
Foi o último Pontífice que teve uma cerimônia de coroação e o primeiro a
dispensar o uso da tiara, durante as sessões do Concílio Vaticano II.
Eventualmente, doou a sua tiara, um presente da sua antiga Arquidiocese de
Milão, à Basílica do Santuário Nacional da Imaculada Conceição, em Washington
(Estados Unidos), como um sinal do seu apreço pelos católicos norte-americanos.
6.
Exerceu o seu ministério sacerdotal durante 58 anos. Foi ordenado em 29 de maio
de 1920 e faleceu no dia 6 de agosto de 1978.
7.
Nino Lo Bello, veterano “vaticanista” norte-americano, garantiu que Paulo VI,
um apaixonado pela leitura, levava na sua bagagem durante suas viagens até 75
livros para escolher quais ler.
8.
Paulo VI criou os cardeais Karol Wojtyla, em 1967, e Joseph Ratzinger, em 1977,
que alguns anos depois foram os seus sucessores, São João Paulo II e Bento XVI,
respectivamente.
Fonte: CLÉOFAS
MÊS DA BÍBLIA
Setembro
é o mês da Bíblia e, no próximo domingo, dia 29, celebraremos o dia nacional da
Bíblia, dedicado a despertar e promover entre os fiéis o conhecimento e o amor
dos Livros Sagrados, a Palavra de Deus escrita, redigida sob a moção do Divino
Espírito Santo, motivando-os para sua leitura cotidiana, atenta e piedosa e, ao
mesmo tempo, premunindo-os contra os erros correntes com relação à Bíblia mal
interpretada.
“Na
Igreja, veneramos extremamente as Sagradas Escrituras, apesar da fé cristã não
ser uma ‘religião do Livro’: o cristianismo é a ‘religião da Palavra de Deus’,
não de ‘uma palavra escrita e muda, mas do Verbo encarnado e vivo’” (Bento XVI
- Verbum Domini, 7)
É
de São Jerônimo, o grande tradutor dos Livros Santos, a célebre frase: “Ignorar
a Sagrada Escritura é ignorar o próprio Cristo”. Portanto, o conhecimento e o
amor às Escrituras decorrem do conhecimento e do amor que todos devemos a Nosso
Senhor.
O
ponto central da Bíblia, convergência de todas as profecias, é Jesus Cristo. O
Antigo Testamento é preparação para a sua vinda e o Novo, a realização do seu
Reino. “O Novo estava latente no Antigo e o Antigo se esclarece no Novo” (Santo
Agostinho).
Dizemos
que a Bíblia é um livro divino e humano: inspirada por Deus, mas escrita por
homens, por Deus movidos e assistidos enquanto escreviam.
A
Bíblia não é um livro só, mas um conjunto de 73 livros, redigidos por autores
diferentes, em épocas, línguas, estilos e locais diversos, num espaço de tempo
de cerca de mil e quinhentos anos. Sua unidade se deve ao fato de terem sido
todos eles inspirados por Deus, seu autor principal e garantia da sua
inerrância.
Mas
a Bíblia não é um livro de ciências humanas. Por isso a Igreja Católica reprova
a leitura fundamentalista da Bíblia, que teve sua origem na época da Reforma
Protestante e que pretende dar a ela uma interpretação literal em todos os seus
detalhes, o que não é correto.
Além
disso, a Bíblia não é um livro fácil de ser lido e interpretado. São Pedro,
falando das Epístolas de São Paulo, nos diz que “nelas há algumas passagens
difíceis de entender, cujo sentido os espíritos ignorantes ou pouco fortalecidos
deturpam, para a sua própria ruína, como o fazem também com as demais
Escrituras” (II Pd 3, 16).
Daí
a advertência do mesmo São Pedro: “Sabei que nenhuma profecia da Escritura é de
interpretação pessoal. Porque jamais uma profecia foi proferida por efeito de
uma vontade humana. Homens inspirados pelo Espírito Santo falaram da parte de
Deus” (2Pd 1, 20-21). Assim, o ofício de
interpretar autenticamente a Palavra de Deus escrita (a Bíblia Sagrada) ou
transmitida oralmente (a Sagrada Tradição) foi confiado unicamente ao
Magistério vivo da Igreja, cuja autoridade se exerce em nome de Jesus Cristo,
que disse aos Apóstolos e seus sucessores “até a consumação dos séculos”: “Ide
e ensinai a todos os povos tudo o que vos ensinei... quem vos ouve a mim ouve”.
Fonte: Dom Fernando Arêas Rifan
quarta-feira, setembro 25, 2019
POR QUE A SANTA IGREJA PRETERIU O TERMO TRANSUBSTANCIAÇÃO PARA DESIGNAR O GRANDE MILAGRE DA PRESENÇA REAL?
A
Igreja usa este termo, e não outro, porque este exprime, com exatidão
filosófica, a realidade do fato miraculoso da Presença Real. Nenhum outro modo
de dizer seria tão exato, dizem os teólogos.
Transubstanciação
designa um trânsito ou passagem da totalidade de uma substância (matéria e
forma) para outra; e é isto, precisamente, o que se deu no milagre eucarístico.
Não
poderia a Igreja empregar a palavra transformação?
A
palavra transformação (mudança de forma) (1) não exprimiria a realidade
eucarística. Filosoficamente, mudança de forma não é o mesmo que conversão de
substância. Numa mudança de forma permanece a matéria prima como termo de
trânsito de uma forma para outra; a água transformando-se em vapor e a madeira
transformando-se em carvão têm a matéria prima como suporte permanente que
perde e adquire formas.
Na
completa conversão substancial ou transubstanciação não fica matéria como
suporte da mudança. O todo substancial é mudado. Assim, na Eucaristia, pão e
vinho, mudados no Corpo e Sangue de Cristo, perdem não só as formas de pão e
vinho mas também a própria matéria; forma e matéria que constituem a substância
do pão se convertem na matéria e forma do Corpo de Cristo.
Daí
se vê que a transubstanciação é um milagre. As mudanças de forma são fenômenos
naturais, e não miraculosos. A matéria muda de forma mediante a corrupção de
uma forma precedente e o natural e consequente aparecimento de nova forma.
Assim a madeira que se queima transforma-se em carvão pela corrupção natural da
forma de madeira e aparecimento natural da forma de carvão; o alimento se
transforma em sangue pela natural corrupção da forma alimento e aparecimento
natural da forma sangue em nosso organismo. As transformações podem, pois,
realizar-se e comumente se realizam pelos princípios ativos da natureza. Não
assim uma transubstanciação propriamente chamada. Não há, em nossa natureza,
mudança ou conversão total de substâncias, propriamente, no sentido filosófico,
senão mediante ação miraculosa. E a única (“maravilhosa e singular”, diz o
Tridentino) é a transubstanciação eucarística.
A
Teologia ensina que, na Eucaristia, permanecem os acidentes de pão e vinho. Os
acidentes não são matéria? E como se disse acima que a matéria e a forma do pão
foram mudadas na matéria e forma do Corpo de Cristo?
Não
se devem confundir os termos filosóficos matéria e acidentes. A matéria tem
acidentes, reveste-se de acidentes; mas não é acidente.
Os
filósofos ensinam que, em todo ser deste mundo perceptível, há a considerar a
substância (resultante de matéria e forma) e os acidentes (que manifestam a
substância exteriormente).
A
substância é a realidade intrínseca, subsistente por si, inatingível aos
sentidos, imutável através das mudanças por que passa constantemente o ser. Os
acidentes são realidades externas, insubsistentes em si mesmas e subsistentes
na substância e dela dependentes. O pão, por exemplo, apresenta-se com um
conjunto de realidades efêmeras, insubsistentes em si; quantidade, tamanho,
peso, sabor, cor, princípios nutritivos, etc. Estas realidades não existem e
não podem existir senão num “sujeito” que seja delas capaz; este “sujeito” é a
“substância“, realidade intrínseca, que faz com que o pão seja pão, e não outro
ser.
Nesta
realidade intrínseca — substância do pão — os filósofos ainda veem: matéria e
forma. A matéria é um “substratum” comum a todo ser material e que se determina
pela forma, constitutivo do ser em determinada categoria do mundo material.
A
matéria e a forma são realidades intrínsecas de todo ser material. São
imperceptíveis, atingíveis tão só através dos acidentes pela abstração de nossa
inteligência. A matéria é, pois, filosoficamente, uma realidade completamente
distinta dos acidentes. Somos levados a confundir matéria com acidentes porque
ela se nos apresenta no universo sempre revestida dos acidentes, principalmente
do acidente quantidade.
Concluímos:
os acidentes que na Eucaristia permanecem (cor, cheiro, tamanho, peso,
quantidade, princípios nutritivos do pão ou do vinho) não aderem mais às
substâncias de pão e de vinho; portanto, não aderem à matéria, nem à forma de
pão e de vinho, que não mais existem onde não existe substância de vinho e pão.
Se um
acidente não pode existir sem a substância a que deve aderir, como existem na
Eucaristia acidentes de pão e de vinho, se ali não existem substâncias de pão e
de vinho?
Os
acidentes de pão e de vinho subsistem misteriosamente na Eucaristia sem o
sujeito ou substância de que são próprios — ensina Santo Tomás. — É o mesmo
poder de Deus que sustenta estes acidentes.
Por
que não transmudou Deus também os acidentes de pão e vinho e os deixou na
Eucaristia?
Por
dois motivos:
1.
Por exercitar a nossa fé.
2.
Por destinar-se a Eucaristia a ser alimento.
Se
fossem mudados os acidentes de pão e vinho, ou Cristo os converteria nos
acidentes próprios de sua Humanidade ou em acidentes diversos, talvez os de Sua
imagem. Na primeira hipótese, nenhum mérito teria a nossa fé; na segunda como
na primeira, não poderia Nosso Senhor vir a ser o nosso alimento, como
prometera e desejava.
Precisamente
porque Cristo queria ser alimento das almas — “Se não comerdes a carne do Filho
do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós” (João, 6, 53) —
foi que se ocultou sob espécies de pão e vinho.
Para
estar presente na hóstia, podia Cristo recorrer a outro modo que não o da
«transubstanciação»?
Certamente
podia, se o quisesse. A verdade, porém, é que suas palavras — “Isto é o meu
corpo” — somente se podem compreender recorrendo-se à “transubstanciação”, como
vimos.
E se
alguém afirmasse a presença de Cristo na Eucaristia por outro modo, cometeria
erro doutrinário?
Cometeria
gravíssimo erro e seria um herege, pois a Santa Igreja definiu que a presença
do Senhor no Santíssimo Sacramento é em virtude da transubstanciação. E ninguém
pode negar tal sem heresia (Dez. 884) (2)
Assim
erraram, apesar de afirmar que Cristo estava presente na hóstia: Lutero,
Wicleff, e numerosos heresiarcas. Admitiam a presença de Cristo na Eucaristia,
mas explicavam-na hereticamente. Ensinavam que Cristo ali estava com a
substância do pão ou na substância do pão, ou sob a substância do pão.
Alguns,
como Osiander, chegaram a dizer que Cristo está na Eucaristia por uma espécie
de união hipostática:
“Assim
como o Verbo assumiu a natureza humana e a uniu a si, da mesma forma — diziam —
Cristo, na Eucaristia, une a si o pão e o vinho”
Houve
luteranos que ensinaram estar Cristo na hóstia em virtude da “ubiquidade
divina”.
Está
claro que, em todas estas hipóteses, Cristo não podia dizer, como disse: —
“Isto (substância de pão) é o meu corpo”. Teria que dizer: “Eu estou presente
nisto”, ou então: “Eu me uno a isto”, etc.
Só
a transubstanciação, portanto, explica o modo pelo qual Cristo está presente na
Eucaristia, em congruência com as palavras da Escritura.
Mas,
como se disse acima, não existe exemplo de transubstanciação na natureza; como
pôde Cristo violar as leis da natureza operando a transubstanciação
eucarística?
Cristo,
Deus que é, e autor da natureza, portanto autor também de suas leis, podia
realizar o que naturalmente não se realiza segundo leis ordinárias.
No
Evangelho, vemo-Lo realizando estupendos milagres. Haja vista a ressurreição de
Lázaro, a multiplicação dos pães, a cura à distância de um servo do centurião,
o haver-Se transfigurado no Tabor, o ter ressuscitado, aparecido e Se ocultado
aos Apóstolos; todos fenômenos não sujeitos a leis ordinárias da natureza. Quem
fez tudo isto podia também efetuar uma transubstanciação colocando-Se oculto,
misteriosamente, na Eucaristia. Por que não?
A
palavra de Jesus realiza o que significa. Ele disse: – “Lázaro, sai fora do
sepulcro!” e Lázaro saiu. Ele disse ao vendaval da tempestade: — “Cala-te e
emudece!” e o temporal cessou. Se Ele disse — “Isto é o meu corpo”, cumprindo a
promessa de dar Seu Corpo como alimento, Suas palavras tinham bastante poder
para realizar o que significavam, ou seja, uma transubstanciação do pão e do
vinho em Seu Corpo e Sangue.
Como
pode Cristo, com Seu Corpo, estar presente em milhares de hóstias, em muitos e
diversos lugares, e estar, ao mesmo tempo, no Céu? Por Sua Divindade,
compreende-se ainda… mas Seu Corpo não pode estar em tantos lugares…
Jesus
está presente em todas as hóstias consagradas e também no céu e isto com o Seu
Corpo real, vivo e verdadeiro e não só pela Divindade. É o que nos manda crer a
fé. O “como” de tal mistério transcende nosso entendimento, mas não é
contraditório, antes é filosoficamente explicável à razão humana.
Já
dissemos que Cristo está na hóstia a modo de substância, isto é, como as
substâncias estão sob os acidentes. Ora, a substância está sob os acidentes não
localizada, não circunscrita por partes às partes dos acidentes. A substância,
imaterial que é, não tem partes para se circunscrever às partes dos acidentes.
Nem tão pouco existe para ela espaço e distância. Espaço e distância são
relativos à quantidade, que é acidente da matéria. Por isto, dizem os filósofos
que a substância está toda em todo o ser e toda em cada parte mínima do ser e
toda em todos os seres da mesma espécie, independente de espaço. A substância
de muitos seres da mesma espécie é a mesmíssima em todos os seres desta espécie
e está em todos eles completa, por mais distantes e diferençados
acidentalmente. Assim, a substância de pão está completa em todos e em cada um
dos pães do mundo, por mais diferençados que sejam. O ser pão convém a todos os
pães e não se localiza circunscritamente em nenhum pão e não se distancia de um
pão para outro.
Ora,
dizendo que o Corpo de Cristo se acha na hóstia e no cálice a modo de
substância, óbvio que ele não se localiza nem nesta nem naquela hóstia, como
não se localiza em partes determinadas da hóstia. Cristo está todo em cada
partícula consagrada, e está completamente num fragmento separada da Hóstia, do
mesmo modo que a substância de pão estava, antes da consagração, totalmente na
obreia de trigo e em qualquer minúsculo fragmento dela. De igual maneira estará
na hóstia que se consagra na Ásia e na que se consagra na América, assim como a
substância do pão na Ásia e na África é a mesmíssima (3).
Concluindo:
no Céu, Jesus está localmente, com sua Humanidade Santa; na Eucaristia, está
sacramentalmente (do modo próprio a este Sacramento) com esta mesma Humanidade.
E o “modo próprio” deste Sacramento é o modo de substância.
Estando
na Eucaristia a modo de substância, está Jesus aí de modo imaterial, portanto
sem as dimensões extensivas de Seu Corpo?
Cristo
não está no Sacramento sem as dimensões extensivas de Seu Corpo. Está aí com
todas elas, com seu tamanho natural, com a integridade de seus membros humanos,
com a própria matéria de Seu Corpo. Somente, por um milagre inaudito, estas
dimensões extensivas de Cristo, seus membros, etc., estão aí presentes a modo
de substância, isto é, pelo mesmo modo que a substância do pão estava nEle
antes de consagrado, portanto, sem ocupar lugar, sem relação de distâncias, sem
estender partes quantitativas e circunscrevê-las a extensões determinadas — que
este é o modo de estar das substâncias.
Como
se vê, é modo extraordinário, maravilhoso, de que não há outro exemplo no mundo
criado. Mas, quem ousaria negar a Deus Nosso Senhor poder para tanto?
Se
Cristo está na hóstia a modo de substância, e a substância em si é
incorruptível, que dizer da Presença Real quando a hóstia se deteriora?
A
presença de Cristo na hóstia se dá a modo de substância e tal presença se
condiciona aos acidentes de pão e vinho cuja substância foi maravilhosamente
convertida em Seu Corpo e Sangue. As espécies sagradas são sinal e condição de
Sua presença. Por isto, quando as espécies se alteram de maneira que, se não
transubstanciadas, haveria de cessar nelas a substância de pão e vinho, então
cessa de estar presente sob elas o Corpo e o Sangue de Cristo.
Muito
lógica esta doutrina. Pois a substância do pão e do vinho não foi substituída,
e sim convertida, transubstanciada; de substância de pão e vinho passou a ser
substância do Corpo e do Sangue de Cristo sob os mesmos acidentes. Logo, estes
que antes condicionavam externamente a presença da substância do pão e lhe
serviam de sinal, condicionam agora e assinalam a presença da substância do
Corpo de Nosso Senhor.
Noutras
palavras: os acidentes da hóstia exercem para com a substância do Corpo de
Cristo a mesma função que exerciam para com a substância do pão antes de
consagrado. A substância do pão só existia onde eles existiam incorruptos.
Assim também, a substância do Corpo de Cristo só subsistirá sob eles enquanto
eles subsistirem.
Acresce
ainda que Cristo Se tornou presente sob as espécies de pão e vinho por querer
tornar-Se alimento. Portanto, tão logo as aparências de pão e vinho percam as
virtualidades alimentícias pela corrupção, cessa a utilidade da presença de
Cristo… (4)
Que
conclusões tirar do modo pelo qual Cristo está presente na Eucaristia?
Podemos
tirar variadas conclusões, úteis ao conhecimento da Eucaristia. Enumeremos
três:
1.
Este modo de presença está fora de toda lei natural e se efetua pelo poder de
Deus. Logo, para entendê-lo, necessitamos do auxílio da fé, da humildade, da
oração.
Por
isto, conforme o aviso da “Imitação de Cristo”, devemos fugir de querer
perscrutar este Sacramento com estudos simplesmente terrenos se não queremos
submergir num abismo de confusões e dúvidas.
“Mais
pode Deus fazer que o homem entender” (5)
2.
A presença a modo de substância é a “chave” de todas as soluções dos problemas
eucarísticos. Quer no tocante à Presença Real, quer no tocante ao sacrifício,
quer no tocante à comunhão sacramental, numerosos problemas se esclarecem à luz
deste enunciado universal: Cristo está aí presente a modo da substância.
3.
Não é com o auxílio da imaginação e fantasia que haveremos de entender, quanto
é possível ao humano entendimento, este modo de presença de Nosso Senhor.
Alguns conhecimentos filosóficos são necessários, amparados sempre pela luz da
fé.
Não
raro os ataques dos ímpios ao dogma da Presença Real procedem da ignorância do
sentido exato em que ele é proposto à nossa crença. Com algumas noções de
filosofia sobre substância e seu modo de estar sob os acidentes, os
protestantes veriam quão ineptos e infundados os seus ataques.
Referências:
(1)
A palavra forma está aqui empregada em sentido filosófico. Não exprime
conformação externa do objeto. É antes a realidade interna que atualiza a
matéria prima, como dizem os filósofos.
(2)
Si quis… negaveritque mirabilem illam et singularem conversionem totius
substantiae panis in corpus et totius substantiae vini in sanguinem, manentibus
dumtaxat sprcirbus panis rt vini, quam quidem conversionem catholica ecclesia
aptissime transubstantiationem appellat: A.S.
(3)
Nem se, objete que a substância dês te pão na Ásia é individuada e portanto
distinta da substância dos outros pães. A substância de pão, enquanto
substância, é a mesma para todos. E se, neste pão, ela se individua, isto se dá
não enquanto ela é substância, mas sim enquanto afetada do acidente quantidade.
Sabemos que as substâncias se individuam «matéria signata quantitate» como
axioma a filosofia.
Igualmente,
não se pode deduzir de quanto dissemos que transubstanciada a substância de um
pedaço de pão, por isto transubstanciada está toda e qualquer substância de pão
existente. O que se transubstancia é precisamente esta substância determinada,
sob estes acidentes de pão. Logo, embora Jesus esteja, em virtude da presença a
modo de substância, sob muitas e diversas aparências, independentemente de
espaço, só estará e só poderá estar sob estas espécies que foram atualmente
consagradas e transubstanciadas.
(4)
Daqui se infere também a razão por que não seria válida a consagração do pão ou
vinho totalmente deteriorados. É que, deteriorados, estes acidentes não aderem
mais às substâncias de pão e de vinho, as únicas que por ordenação divina podem
ser transubstanciadas no Corpo e Sangue de Jesus Cristo.
(5)
Imitação de Cristo, Liv IV, Cap. 18.
Fonte: rumoasantidade.com.br
Fonte: rumoasantidade.com.br
terça-feira, setembro 24, 2019
A PRESENÇA REAL - DE QUE MODO ESTÁ JESUS NA EUCARISTIA?
De que
modo Nosso Senhor está presente na hóstia, pois que não é aí percebido pelos
sentidos?
Responde
a teologia que o Senhor está presente na hóstia a modo de substância. E, como a
substância dos seres foge à percepção dos sentidos, assim não pode Cristo ser
aí percebido.
Precedentemente
dissemos que Jesus está aí presente a modo de espírito, o que exprime a mesma
verdade teológica. Somente devemos precaver-nos de supor que presença a modo de
espírito exclua a presença do Corpo de Nosso Senhor. É exatamente o Corpo de
Cristo que está aí de modo espiritual, isto é, fora das leis ordinárias a que
se sujeitam os corpos e, antes, regendo-se por leis que regem os espíritos. É o
Corpo de Cristo que aí está, porém a modo de espírito.
Como
a terminologia estar presente a modo de espírito pode induzir o leitor não
atento
ao erro contra que o premunimos, a maioria dos teólogos com Santo Tomás prefere
dizer que Cristo está presente na Eucaristia a modo de substância.
Este
modo de estar presente é um modo natural, ou extraordinário?
Está
claro que é um modo extraordinário, milagroso, de que não há exemplo em a
natureza. O Concílio Tridentino afirmou que Cristo está na hóstia consagrada em
virtude de uma conversão “maravilhosa e singular da substancia do pão na substância
do Corpo de Cristo” (Dez. 884)
Dizendo
que esta conversão é “singular“, quer o Santo Concílio dizer que não existe
outro exemplo símile na natureza. Dizendo-a “maravilhosa“, significa que excede
as forças naturais e se realiza por ação particular de Deus; daí também um dos
motivos por que o Sacramento da Eucaristia é justamente chamado “mistério de
fé“.
“Esta
conversão maravilhosa e única, diz ainda o Concílio, foi conveniente e
propriamente denominada, pela Igreja Católica, transubstanciação” (Dez. 877)
Como
podemos saber que houve de fato esta mudança de substância ou transubstanciação
do pão para o Corpo de Cristo, se o Evangelho não nos fala de tal coisa?
O
Evangelho não emprega o termo transubstanciação, mas os textos que provam a
presença real de Jesus na Eucaristia provam indiretamente a transubstanciação.
Pois a presença real não se pode entender, nos termos em que Jesus no-la
assegurou, senão mediante a conversão da substância do pão na substância do
Corpo de Cristo.
Vejamos.
Jesus toma o pão e afirma: “Isto é o meu corpo”. No momento em que toma entre
as mãos o pão, isto ainda é pão. Pelo poder onipotente de sua palavra, Ele quer
operar um milagre que o torne presente de modo novo. E Ele diz: “Isto é o meu
corpo”. Isto, que há alguns segundos antes, era pão, agora é o meu corpo.
Esta
palavra pronunciada sobre o pão: “Isto é o meu corpo” — significando obviamente
que isto (que era pão) é agora Jesus Cristo, afirma claramente que houve uma
mudança no ser apresentado aos nossos sentidos.
O
ser apresentado converteu-se essencialmente em outro, mediante as palavras
divinas do próprio Verbo. Esta conversão essencial, porém, não atinge as
exterioridades do ser, não atinge isto que chamamos acidentes (cor, cheiro,
forma externa, quantidade extensiva, etc.) pois os acidentes permanecem os
mesmos (de pão). Logo, houve uma mudança no íntimo do ser essencial, que os
filósofos chamam substância.
Muito
cabível, portanto, o ensinamento do Concílio Tridentino:
“Porque
Jesus Cristo nosso Redentor disse que o que Ele oferecia sob as aparências de
pão era verdadeiramente seu Corpo, por isso, sempre foi persuasão da Igreja de
Deus — e agora o Santo Concílio o declara de novo — que pela consagração do pão
e do vinho se efetua a conversão de toda a substância do pão na substância do
Corpo de Nosso Senhor, e de toda a substância do vinho na substância de seu
sangue. Esta conversão foi conveniente e propriamente denominada, pela Santa
Igreja Católica, transubstanciação” (Dez. 877, 997, 1469)
Fonte: rumoasantidade.com.br
segunda-feira, setembro 23, 2019
XXV DOMINGO DO TEMPO COMUM
Eis
Jesus que Se põe a dissertar sobre a economia, mas uma economia que parece
envolver falsários... Como compreender tal parábola na boca de Jesus? Podemos
logo pensar que Ele não quer dar o administrador desonesto como exemplo, mesmo
se o mestre deste faz o seu elogio. Jesus chama-o explicitamente
"administrador desonesto, com esperteza". Jesus conhece o coração do
homem, um coração perverso. Mas Jesus não fica nesta dimensão do coração do
homem. Ele sabe que em todo o homem, por mais pervertido que seja, há sempre um
cantinho positivo. Ele vê a prova de habilidade do administrador para conseguir
safar-se. Esta habilidade é colocada ao serviço de um mal. Mas, em si mesma,
pode ser posta ao serviço do bem. Então, diz Jesus, se vós, meus discípulos,
que sois chamados "filhos da luz", sabeis ser tão habilidosos a
respeito da vossa vida cristã, quantas coisas poderão mudar! Jesus aproveita
para recordar o seu ensino constante sobre o dinheiro e a riqueza material. Não
podemos viver sem dinheiro. Mas saibamos utilizá-lo com habilidade, para o bem.
Que ele não se torne um mestre tirânico. Saibamos utilizá-lo, não para nos
enriquecermos egoisticamente, mas para o pôr ao serviço do bem dos outros, a
começar pelos mais pobres. Aqui, a nossa habilidade deve estar ao serviço do
bem! Não levaremos dinheiro no nosso caixão. Mas o bem que com ele tivermos
feito seguirá para além da morte, "nas moradas eternas". A lição
continua sempre válida hoje!
sábado, setembro 21, 2019
O QUE AS PINTURAS DE SÃO MATEUS DE CARAVAGGIO NOS ENSINAM SOBRE O PREÇO DA GRANDIOSIDADE
Essas
famosas interpretações da vida do santo nos mostram o que é preciso para viver
nossa melhor vida
Em
1599, um jovem artista chamado Michelangelo Merisi da Caravaggio assinou um
contrato para decorar a capela funerária de um rico cardeal. A capela deveria
ser dedicada a São Mateus, onomástico do cardeal.
A
pintura à esquerda do altar mostrava o chamado de São Mateus por Jesus para
deixar de cobrar impostos e tornar-se discípulo. A pintura à direita mostrava
seu martírio. A pintura no meio, diretamente acima do altar-mor, mostrava a
inspiração de São Mateus, enquanto ele trabalhava duro para escrever seu
Evangelho.
O
próprio Caravaggio era um homem altamente conflituoso. Ele foi um pintor
magnífico que ultrapassou os limites da grandiosidade na arte, e seu trabalho é
cheio de iluminação dramática e composições altamente elaboradas.
Mas
em sua vida real Caravaggio viveu muitos problemas. Ele brigava com todos ao
seu redor, e é até suspeito de ter cometido assassinato. Sem um pincel na mão,
ele era só dificuldades, mas como artista ele é incomparável tanto pela sua
técnica quanto pela profundidade de sua percepção.
As
três pinturas de São Mateus foram concluídas e agora decoram a Capela
Contarelli em Roma. Quando vistas uma após a outra, elas contam uma história
poderosa sobre o custo de se alcançar a grandiosidade.
Na
primeira pintura – O chamado de São Mateus – Mateus está amontoado em uma sala
escura com seus amigos, enquanto Jesus e São Pedro estão à porta e apontam para
ele. A identidade do próprio Mateus não é totalmente clara. Ele provavelmente é
o homem barbudo que parece estar apontando para si mesmo como se dissesse:
“Quem? Eu?” Outra teoria é que o homem barbudo está realmente apontando para o
jovem no final da mesa, com a cabeça caída como se dissesse: “Quem? Ele?” Se o
jovem de cabeça baixa for Mateus, a cena capta o momento imediatamente antes de
ele levantar a cabeça e ver Cristo pela primeira vez.
De
qualquer maneira, o momento está repleto de importância. A mão de Cristo pode
parecer familiar, e isso é porque é uma réplica exata da mão de Adão da Capela
Sistina. Naquela famosa pintura, a mão de Adão está prestes a tocar a mão de
Deus. Há eletricidade entre os dois dedos quando a mão de Deus se prepara para
transmitir uma alma ao primeiro homem – é o momento da criação. Para Mateus,
encontrar Jesus é o seu renascimento. Ele está sendo chamado a uma nova vida.
Quando
olho para esta pintura, sinto a mão de Deus sobre mim também. Deixado por conta
própria, estou muito disposto a sentar na escuridão metafórica, desperdiçando
meus dias com preguiça e falta de direção. Eu sempre tomarei o caminho mais
fácil, sempre seguirei o caminho de menor resistência. Mas de vez em quando,
Deus grita comigo alto o suficiente e eu olho para cima o tempo suficiente para
vê-lo me chamando para sair pela porta e entrar na luz.
A
segunda das pinturas de Caravaggio, tematicamente, é A inspiração de São
Mateus. Nela, um anjo sussurra lembretes e dicas úteis para Mateus enquanto ele
escreve seu Evangelho. Mateus está tenso de emoção e imerso em um devaneio
artístico. Esta é a segunda versão da pintura. A primeira que Caravaggio pintou
ficou gerou controvérsias com seu patrão, pois mostrava Mateus muito humilde e
rústico. Então foi pintada uma segunda vez.
Apesar
de eu gostar muito dessa pintura, ela é a minha menos favorita entre as três.
Tento imaginar o estado de espírito de Caravaggio, pois ele foi forçado a
recomeçar quando já havia produzido uma pintura perfeitamente boa. Embora
Mateus esteja no meio do entusiasmo do esforço criativo, ele também deve ter
trabalhado intensamente em sua obra. Ele pode até parecer cansado ou
desesperado para ser um escritor suficientemente bom.
Como
escritor, às vezes encontro situações semelhantes de insegurança. Como padre,
sinto insegurança diariamente. Deus chamou cada um de nós a uma vida heróica, a
ser grandes à nossa maneira. Isso é verdade. É igualmente verdade que
compreender esse chamado implica hesitações, dúvidas e trabalho duro. Mas vamos
ceder às dificuldades? Ou estamos dispostos a pagar o custo para alcançar uma
vida realmente digna de ser vivida?
A
terceira pintura da série é minha favorita – O Martírio de São Mateus. Caravaggio
também lutou nesta. Os raios X da pintura revelam que a versão atual é pintada
em cima de uma versão anterior. O que ele finalmente pintou valeu o esforço,
porque é incrível. O centro da cena é um ato único e violento. Todo mundo recua
horrorizado, incluindo o próprio Caravaggio. Ele se colocou na pintura, o homem
barbudo atrás, parecendo triste e um pouco culpado. As duas pessoas em primeiro
plano estão sem roupa porque estavam prestes a ser batizadas na pia que fica
aos seus pés. O fundo é o altar da igreja.
Mateus
foi martirizado na Etiópia, onde fora pregar. O rei e a rainha da Etiópia se
tornaram cristãos, mas o rei seguinte, Hirtacus, achou Mateus problemático e
mandou matar-lo. Na pintura, o assassino está disfarçado de um dos candidatos
ao batismo. Quando Mateus está prestes a receber o golpe mortal, ele já está
sangrando e seu sangue se mistura com a água batismal, assim como o coração de
Cristo rebenta com sangue e água na cruz.
Assim
como o sangue de São Mateus se mistura com a água sacramental aos pés do altar,
toda nova vida requer uma morte. Para seguir em frente, devo enterrar um pedaço
de mim antes de me levantar do ventre da pia batismal.
Nas
pinturas arrojadas de Caravaggio há uma reflexão profunda sobre a natureza do
que significa viver e morrer, o que significa lutar e sofrer. Para o artista, o
martírio de São Mateus é a vitória final do santo.
É
muito fácil recuar e viver uma existência medíocre que já é um tipo de morte
involuntária. Ou podemos aceitar os desafios que Deus coloca diante de nós e
viver nossa melhor vida, enfrentando os custos.
Fonte: Aleteia
quinta-feira, setembro 19, 2019
SOBRIEDADE E PAZ
Domingo
passado celebramos Nossa Senhora das Dores ou Nossa Senhora da Piedade,
padroeira da Pastoral da Sobriedade, como mãe que chora e sofre por tantos
filhos extraviados pelas drogas e outras dependências. Quantas famílias
destruídas e atingidas por esse sofrimento!
Considerando
que 25% da população brasileira está, direta ou indiretamente, ligada ao
fenômeno das drogas, e que cada vez mais cedo os adolescentes entram em contato
com elas, carregando consigo, em média, quatro outras pessoas, chamadas de
codependentes, membros da família e amigos, a Pastoral da Sobriedade,
instituição da Igreja do Brasil, como uma atuação especial diante desse
problema, vem prestando nesse setor imenso benefício à sociedade, como ação
concreta na prevenção e recuperação da dependência química.
Trata-se
de uma ação pastoral conjunta que busca a integração entre todas as Pastorais,
Movimentos, Comunidades Terapêuticas, Casas de Recuperação para, através da
pedagogia da fé e da ciência, usando a terapia de grupo, resgatar e reinserir
os excluídos, conduzindo a uma mudança de vida através da conversão. A Pastoral
da Sobriedade nos propõe a libertação da dependência das drogas, do álcool, dos
vícios, das manias, das compulsões e pecados, ajudando a resgatar valores, numa
transformação de vida e valorização da pessoa humana. Como Bispo referencial
dessa Pastoral no Estado do Rio de Janeiro, desejo que se institua em todas as
paróquias essa benéfica instituição da Igreja.
Aqui,
na região de Campos, em Cajueiro, distrito de São João da Barra, temos um
excelente apoio à Pastoral da Sobriedade: a Comunidade Refúgio, um centro de
tratamento terapêutico para a recuperação dos dependentes químicos. Precisamos
da ajuda de todos para que essa comunidade se mantenha e possa continuar a
fazer o bem a essas pessoas.
Nas
reuniões semanais da Pastoral da Sobriedade, instituída em quase todas as
Paróquias brasileiras, incutem-se, através do convencimento, as virtudes
humanas e cristãs, base da serenidade e da sobriedade. Virtude é a disposição
habitual e firme para fazer o bem. Permite à pessoa não só praticar atos bons,
mas dar o melhor de si: tender ao bem, procura-lo e escolhe-lo na prática. As
virtudes humanas são atitudes firmes, disposições estáveis, perfeições
habituais da inteligência e da vontade que regulam nossos atos, ordenando
nossas paixões e guiando-nos segundo a razão e a fé. Facilitam, assim, e nos
ajudam a ter domínio e alegria para levar uma vida moralmente boa. Pessoa
virtuosa é aquela que livremente pratica o bem. As virtudes morais são adquiridas
humanamente. São os frutos e os germes de atos moralmente bons; dispõem todas
as forças do ser humano para entrar em comunhão com Deus.
Entre
as virtudes humanas está a temperança, ou sobriedade, virtude moral que modera
a atração dos prazeres e proporciona o equilíbrio no uso dos bens criados.
Assegura o domínio da vontade sobre os instintos e mantém os desejos nos
limites da honestidade, gerando a paz.
A
PASTORAL DA SOBRIEDADE vem nos propor a libertação das dependências das drogas,
ou o correto uso da liberdade que Deus nos deu: “Comportai-vos como homens
livres, e não à maneira dos que tomam a liberdade como véu para encobrir a
malícia” (S. Pedro - 1Pd 2, 16). “Vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Não
abuseis, porém, da liberdade como pretexto para prazeres carnais” (São Paulo -
Gl 5, 13).
*Bispo
da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
Fonte:
Dom Fernando Arêas Rifan
quarta-feira, setembro 18, 2019
CONHEÇA A BÍBLIA: EVANGELHOS
Chamamos
“Evangelho” a um género literário de escritos do Novo Testamento que tem apenas
quatro exemplares na literatura universal: os Evangelhos segundo Mateus,
Marcos, Lucas e João. Este género de escritos apareceu depois das Cartas
autênticas de Paulo e propôs-se transmitir factos e palavras da vida de Jesus
de Nazaré, que as Cartas não tinham ainda referido. Os Evangelhos
transmitem-nos factos históricos (Dv 19), mas não de maneira “fria” e “isenta”,
à maneira da historiografia moderna; os factos e as palavras de Jesus são
coloridos pela experiência das comunidades da primeira geração cristã, que vai
dos anos 30 a 70.
QUATRO EVANGELHOS
É
esta experiência das comunidades cristãs que vai influir na tonalidade própria
de cada um dos quatro Evangelhos. Por detrás da autoria individual dos
Evangelhos a qual vem da Tradição do séc. II e não se encontra no texto dos
Evangelhos está também uma ou várias comunidades cristãs. A Constituição Dei
Verbum não declara que determinado Evangelho pertence a determinado evangelista
como seu autor. Afirma apenas “a origem apostólica dos quatro Evangelhos (…)
segundo Mateus, Marcos, Lucas e João” (n.° 18); isto é, são-lhes atribuídos. A
Tradição ligava os Evangelhos de Mateus e de João aos respectivos Apóstolos; o
de Lucas a Lucas, companheiro de Paulo; o de Marcos, a um companheiro de Pedro
com esse nome. Com isso, pretendia-se ligar estes escritos à sua fonte, que é
Cristo, e às suas testemunhas oculares. De facto, os Quatro Evangelhos
representam o último estádio da tradição acerca das obras e das palavras de
Jesus.
O
1.° período é constituído pelo próprio Jesus, de 6 a.C. a 30 d.C.. Jesus não
escreveu; apenas anunciou oralmente a mensagem, através dos caminhos da
Galileia, da Samaria e da Judeia, reunindo à sua volta um pequeno grupo de
discípulos a quem iniciou nos mistérios do Reino dos céus (Mt 13,11).
O
2.° período tem o seu início depois da morte e ressurreição de Jesus. Depois da
desilusão (Lc 24,18-21) e do medo (Jo 20,19-23), os Apóstolos, com a força do
Espírito do Pentecostes (Act 2,1-13), lançaram-se no anúncio da mensagem do
Mestre, não se preocupando muito com a escrita mas com a urgência do anúncio do
Reino. Rapidamente se formaram muitas comunidades cristãs, tanto na Palestina
como nas cidades do Império. Este 2.° período, ou primeira geração cristã, vai
dos anos 30 a 70.
O
3.° período é constituído pela segunda geração cristã, ou seja, pelos
discípulos dos Apóstolos e de outras testemunhas oculares de Jesus. Cada um
deles tinha deixado mais marcada alguma tradição acerca de Jesus; agora,
juntam-se as diferentes “tradições” para não se perder a memória do Senhor.
Este período vai dos anos 60 a 100. É neste período que aparece a redacção
definitiva dos Quatro Evangelhos.
A
tonalidade própria de cada um desses Evangelhos, a nível literário e teológico,
faz com que eles sejam semelhantes, mas também diferentes entre si. Essa
tonalidade tem origem no estilo de cada evangelista e na intenção teológica de
responder às necessidades específicas da comunidade a quem dirige o seu
Evangelho.
EVANGELHOS SINÓPTICOS
Por
seguirem o mesmo esquema fundamental de Marcos, chamamos a Marcos, Mateus e
Lucas “Evangelhos Sinópticos”; porque, se os dispusermos em colunas paralelas e
fizermos deles uma leitura de conjunto, deparamos com semelhanças fundamentais
e com diferenças de pormenor. Diferente dos “Evangelhos Sinópticos” é o
Evangelho segundo São João, escrito entre os anos 90-100. Este Evangelho não
segue o esquema histórico-geográfico de Mt, Mc e Lc (que tem origem em Mc) e é
mais abundante em discursos de Jesus, com base nos factos da sua vida. Aparece,
por isso, como o Evangelho teológico por excelência. O ambiente onde nasceu o
Evangelho segundo São João e a sua relação com os Sinópticos continua a ser
objecto de estudo por parte dos especialistas na matéria.
PORQUÊ QUATRO
EVANGELHOS?
A
Igreja aceitou apenas os Quatro Evangelhos, escritos entre os anos 60 e 100.
Porquê apenas quatro?
Parece
que desde o princípio da Igreja houve uma certa propensão para o uso de um
único Evangelho. Isso não significa que se negasse a autoridade dos outros.
Naturalmente, os cristãos vindos do Judaísmo preferiam o Evangelho de Mateus,
escrito sobretudo para lhes falar da relação de Cristo com a Lei de Moisés (Mt
5,17-7,29). Talvez tenham utilizado este Evangelho em discussões com os outros
cristãos vindos da civilização helenista, que sustentavam não ser necessária a
observância da Lei de Moisés (AT).
Marcião
é também um caso especial a este respeito: usa o Evangelho de Lucas por lhe
parecer o Evangelho que fala do amor de Deus, presente entre os homens em Jesus
Cristo; mesmo assim, elimina algumas partes onde esse amor não lhe parece
evidente ou onde se fala do Antigo Testamento, que ele rejeitou em bloco.
O
movimento gnóstico utilizou e manipulou sobretudo o Evangelho de João (ver Jo
14,2-3; 17,16). Tassiano pretendia um compromisso entre as duas tendências (o
uso de um único Evangelho e os quatro), harmonizando-os num só (o Diatesseron).
Esta harmonização foi largamente seguida nas igrejas siríacas do Oriente, mas
praticamente rejeitada nas igrejas ocidentais de língua grega e latina. De
facto, fazendo dos Quatro Evangelhos apenas um só, destruíam-se as quatro
teologias sobre Jesus, ficando apenas uma “História de Jesus”. Ora os
Evangelhos são muito mais do que a História de Jesus.
EVANGELHOS APÓCRIFOS E
FORMAÇÃO DO CÂNON
Muitos
outros “evangelhos” apócrifos isto é, falsos conheceram uma certa celebridade,
a partir do séc. II. Os mais conhecidos foram: “Evangelho dos Hebreus”,
“Evangelho dos Ebionitas”, “Evangelho de Pedro”, “Evangelho de Tomé” e
Proto-Evangelho de Tiago. De alguns restam apenas fragmentos e breves notícias.
Eram histórias populares mais ou menos edificantes sobre factos da vida de
Jesus ou simples colecções de algumas palavras a Ele atribuídas. A Igreja soube
sempre separar o trigo do joio, a partir de três critérios necessários para um
Evangelho ser autêntico: 1) ter uma ligação directa com o grupo dos Apóstolos;
nasce daqui a atribuição de cada um deles a um nome importante, se possível,
testemunha ocular de Jesus: Evangelho segundo Mateus, segundo Marcos, segundo
Lucas e segundo João (critério apostólico); 2) incluir palavras e factos
históricos da vida de Jesus, e não apenas um destes conteúdos (critério
literário); 3) ser utilizado na pregação e na liturgia da Igreja universal
(critério litúrgico).
A
partir destas exigências, muito cedo foram excluídas da Igreja essas histórias
que se apresentavam como “evangelhos”. A luta contra os hereges, sobretudo
contra Marcião, na segunda metade do séc. II, forneceu à Igreja uma motivação
mais para encontrar e colocar ao alcance dos cristãos a colecção ou Cânon dos
livros seguramente inspirados pelo Espírito Santo.
De
qualquer modo, o Cânon só progressivamente, e a partir dos princípios já
referidos, se foi formando, entre o séc. II e IV. Assim, as igrejas de língua
siríaca utilizavam, por vezes, o Diatesseron em vez dos Quatro Evangelhos e não
incluíam as Cartas Católicas mais pequenas (2 e 3 Jo, Jd, 2 Pe), tal como o
Apocalipse. Aliás, o último livro da Bíblia foi também o último a entrar no
Cânon, devido à desconfiança da Igreja acerca deste género de literatura, que
se prestava a muitas manipulações da Palavra de Deus, como acontece ainda hoje.
Neste sentido, é a Igreja que, pelo seu sentido da fé, aceita no seu seio os
livros inspirados por Deus; mas é também a Igreja quem reconhece oficialmente,
para utilidade dos fiéis, o Cânon (norma) dos livros inspirados pelo Espírito
Santo.
Fonte: Aleteia
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