1 – O olhar divino vê o sofrimento do povo
O ensinamento de Jesus, de que “a boca fala daquilo que está o coração está cheio” (Lc 6,45) pode ser transferido para o olhar. Olhamos e vemos as situações de acordo com aquilo que cultivamos no coração. Moisés viu o povo cansado de caminhar no deserto, prestes a entrar em crise. Um olhar de pastor que sente o coração tocado pelo cansaço do povo atravessando a crise de caminhar no deserto. Esta é a primeira profecia, incentivando-nos a olhar o cansaço do nosso povo que atravessa o deserto da crise provocado pela pandemia . Como Moisés, é tempo de fazer memória do amor divino, que liberta de escravidões, que resgata o povo com o coração é indulgente, paciente, bondoso e compassivo, como cantávamos no salmo responsorial.
2 – Olhar amoroso de Jesus
O ensinamento de Jesus, que nossas palavras refletem o coração pessoal, vale também para as atitudes. Todos vemos a mesma situação, mas o filtro do olhar encontra-se no coração. Um coração raivoso, considerará a crise com raiva e transformará sua vida em reclamações, possivelmente, contaminando outras pessoas. Um coração resignado, aceitará a crise e, talvez dirá que é vontade de Deus; fica na sua resignação e não toma atitude. O Coração manso e humilde de Jesus vê a crise com os olhos de Deus e toma atitude: louva o Pai e se aproxima do povo para partilhar o cansaço e a fadiga na travessia da crise. Toma atitude de assumir o sofrimento do irmão e da irmã oferecendo a ele o seu jugo e seu fardo. Atitude de quem se faz próximo por ter o coração repleto de amor. No dizer do salmista: “te cerca de carinho e compaixão”. Na travessia da crise serve o carinho, a compaixão, a proximidade... jugos suaves. O contrário disso — raiva, reclamações, agressões — são pesos que tornam a crise ainda mais pesada.
3 - Da contemplação para a ação
“A boca fala daquilo que o coração está cheio”, ensina Jesus. O coração de Moisés vê o povo com os olhos de Deus e toma atitude fazendo memória do amor libertador do Coração divino. Jesus vê o povo com seu Coração repleto de mansidão e humildade e toma atitude aproximando-se com carinho e compaixão. Para alguém desatento, pode parecer manifestação sentimental. Na realidade, trata-se de uma dinâmica que vai da contemplação para a ação. O amor sempre é ativo e libertador. O amor sempre aproxima para sustentar a vida. “Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos Deus, mas foi ele que nos amou e enviou seu Filho”. Amor e atitude para nos salvar. Na travessia da crise, repetimos a mesma dinâmica: coração repleto de amor para agir porque no amor Deus está conosco. “Se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece conosco e seu amor é plenamente realizado entre nós”. Amor “realizado entre nós”. Hoje, a Solenidade do Coração de Jesus desafia-nos a crer na força do amor. É um desafio que acontece em tempo de crise; desafiados a sentir a força do amor divino em atitudes fraternas para com o povo cansado e fadigado de nossos dias. Amém!