A
resposta de Jesus, no entanto, supera o horizonte estreito da pergunta e vai
muito mais além, situando-se ao nível das opções profundas que o homem deve
fazer... O relevante, na perspectiva de Jesus, não é definir qual o mandamento
mais importante, mas encontrar a raiz de todos os mandamentos. E, na
perspectiva de Jesus, essa raiz gira à volta de duas coordenadas: o amor a Deus
e o amor ao próximo.
O compromisso religioso (que é proposto aos
crentes, quer do Antigo, quer do Novo Testamento) resume-se no amor a Deus e no
amor ao próximo. Na perspectiva de Jesus, que é que isto quer dizer?
De
acordo com os relatos evangélicos, Jesus nunca se preocupou excessivamente com
o cumprimento dos rituais litúrgicos que a religião judaica propunha, nem viveu
obcecado com o oferecimento de dons materiais a Deus. A grande preocupação de
Jesus foi, em contrapartida, discernir a vontade do Pai e a cumpri-la com fidelidade
e amor. "Amar a Deus" é pois, na perspectiva de Jesus, estar atento
aos projetos do Pai e procurar concretizar, na vida do dia a dia, os seus
planos. Ora, na vida de Jesus, o cumprimento da vontade do Pai passa por fazer
da vida uma entrega de amor aos irmãos, se necessário até ao dom total de si
mesmo.
Assim,
na perspectiva de Jesus, "amor a Deus" e "amor aos irmãos"
estão intimamente associados. Não são dois mandamentos diversos, mas duas faces
da mesma moeda. "Amar a Deus" é cumprir o seu projeto de amor, que se
concretiza na solidariedade, na partilha, no serviço, no dom da vida aos
irmãos.
Como
é que deve ser esse "amor aos irmãos"? Este texto só explica que é
preciso "amar o próximo como a si mesmo". As palavras "como a si
mesmo" não significam qualquer espécie de condicionalismo, mas que é
preciso amar totalmente, de todo o coração.
Noutros
textos mateanos, Jesus explica aos seus discípulos que é preciso amar os
inimigos e orar pelos perseguidores (cf. Mt 5,43-48). Trata-se, portanto, de um
amor sem limites, sem medida e que não distingue entre bons e maus, amigos e
inimigos. Aliás, Lucas, ao contar este mesmo episódio que o Evangelho de hoje
nos apresenta, acrescenta-lhe a história do "bom samaritano",
explicando que esse "amor aos irmãos" pedido por Jesus é
incondicional e deve atingir todo o irmão que encontrarmos nos caminhos da
vida, mesmo que ele seja um estrangeiro ou inimigo (cf. Lc 10,25-37).