Confrontado
com a questão, Jesus convidou os seus interlocutores a mostrar a moeda do
imposto e a reconhecerem a imagem gravada na moeda (a imagem de César). Depois,
Jesus concluiu: "dai a César o que é de César e a Deus o que é de
Deus" (vers. 21). O que é que esta afirmação significa? Significa uma
espécie de repartição equitativa das obrigações do homem entre o poder político
e o poder religioso?
Provavelmente,
Jesus quis sugerir que o homem não pode nem deve alhear-se das suas obrigações
para com a comunidade em que está integrado. Em qualquer circunstância, ele
deve ser um cidadão exemplar e contribuir para o bem comum. A isso, chama-se
"dar a César o que é de César".
No
entanto, o que é mais importante é que o homem reconheça a Deus como o seu
único senhor. As moedas romanas têm a imagem de César: que sejam dadas a César.
O homem, no entanto, não tem inscrita em si próprio a imagem de César, mas sim
a imagem de Deus (cf. Gn 1,26-27: "Deus disse: 'façamos o homem à nossa
imagem, à nossa semelhança'... Deus criou o ser humano à sua imagem, criou-o à
imagem de Deus"): portanto, o homem pertence somente a Deus, deve
entregar-se a Deus e reconhecê-Lo como o seu único senhor.
Jesus
vai muito além da questão que Lhe puseram... Recusa-Se a entrar num debate de
carácter político e coloca a questão a um nível mais profundo e mais exigente.
Na abordagem de Jesus, a questão deixa de ser uma simples discussão acerca do
pagamento ou do não pagamento de um imposto, para se tornar um apelo a que o
homem reconheça Deus como o seu senhor e realize a sua vocação essencial de
entrega a Deus (ele foi criado por Deus, pertence a Deus e transporta consigo a
imagem do seu senhor e seu criador). Jesus não está preocupado, sequer, em
afirmar que o homem deve repartir equitativamente as suas obrigações entre o
poder político e o poder religioso; mas está, sobretudo, preocupado em deixar
claro que o homem só pertence a Deus e deve entregar toda a sua existência nas
mãos de Deus. Tudo o resto deve ser relativizado, inclusive a submissão ao
poder político.
A
questão essencial que o nosso texto aborda é esta: o homem pertence a Deus e
deve considerar Deus o seu único senhor e a sua referência fundamental. É preciso voltarmos a Deus e redescobrirmos
a sua centralidade na nossa existência.
O homem e a mulher foram criados à imagem de Deus. Eles não são,
portanto, objetos que podem ser usados, explorados e alienados, mas seres revestidos
de uma suprema dignidade, de uma dignidade divina.