CATARINA(ITÁLIA, 1347 – 1380), PADROEIRA DA ITÁLIA JUNTAMENTE COM SÃO FRANCISCO E COPADROEIRA DA EUROPA, ASSUMIU VIDA AUSTERA NA ORDEM TERCEIRA DE SÃO DOMINGOS.
FOI MENSAGEIRA DA PAZ NUMA ÉPOCA DE GRAVES CONFLITOS E MESTRA DE VIDA
ESPIRITUAL, ESMERANDO-SE NA CARIDADE AOS DOENTES E ABANDONADOS E NO AMOR E
FIDELIDADE À IGREJA
Os
santos vivem na glória de Deus e são para nós intercessores para invocar e
testemunhas para imitar. Com esta profunda convicção aproximamo-nos hoje de
Santa Catarina de Sena, no dia da sua festa. Catarina é a "virgem
sábia" que voltou para a casa do Pai com a jovem idade de 33 anos, depois
de uma existência marcada pela incessante contemplação e pela intensa atividade
apostólica. Desde os sete anos, na presença espiritual de Maria Santíssima,
deu-se em esposa para sempre a Jesus, plenamente consciente do valor que o voto
de virgindade e de amor exclusivo a Cristo comportava, como ela mesma
confirmará em seguida ao seu confessor. Tanto é verdade que quando os pais,
para a dissuadir do seu propósito, a submeteram a pesados trabalhos domésticos,
a pequena Catarina "fabricou na sua alma uma cela interior da qual
aprendeu a nunca mais sair". E íntima com Cristo manteve-se até ao último
dos seus dias, que foram marcados pelo sofrimento e por provações quer físicas
quer morais e místicas. Ao passar deste mundo para o Pai a 29 de Abril de 1380,
foi recebida no triunfo das bodas celestes pelo seu Esposo, por Cristo
crucificado e ressuscitado, por quem unicamente tinha vivido. Conservar, mesmo
no alarido dos eventos humanos, um íntimo e incessante contacto com o seu
Esposo divino era o empenho da sua vida.
O
segredo da santidade de Catarina de Sena está em ter sido "inflamada de
amor divino", como nos recorda a hodierna liturgia, e em ter "unido a
contemplação de Cristo crucificado e o serviço à Igreja": uma vida de
contemplação e de fervor apostólico. Precisamente porque estava imersa em Deus
pôde desenvolver uma enorme quantidade de atividades com iniciativas num amplo
raio e intervir com coragem e decisão em situações delicadas; por isso pôde
escrever e deixar-nos obras de elevada espiritualidade e mística, que ocupam um
lugar significativo na história da literatura com o maravilhoso Diálogo da
Divina Providência e, sobretudo, com as 381 Cartas que ela mesma, com
impressionante capacidade e velocidade, ditou aos seus secretários. Ela pôde
realizar tudo isto somente porque caminhava na luz de Deus, seguindo as pegadas
de um grande mestre, São Domingos, do qual se diz como se sabe que falava com
Deus ou falava de Deus. "Se caminharmos na luz rezaremos na antífona da comunhão
como Deus está na luz, nós estamos em comunhão uns com os outros, e o sangue de
Jesus Cristo, seu Filho, purifica-nos de todo o pecado". Esta é a
santidade: dom e obra de Cristo e do seu Espírito, e esforço incessante para
não deixar "arrefecer" em nós e ao nosso redor aquele amor pelo
Senhor do qual brota a autêntica comunhão e a verdadeira paz entre os homens na
Igreja e no mundo. Santa Catarina recorda-nos com o seu testemunho que
definitivamente a santidade é Amor.
Quem
habita em Cristo, o Amigo, o Mestre, o Esposo, não conhece esmorecimento nem
medo; antes, torna-se sólido na fé, fervoroso no amor e perseverante na
esperança. Assim aconteceu para a nossa Santa; primeiramente ocorreu aos
Apóstolos, às mulheres que no sepulcro, surpreendidas, viram o Senhor
ressuscitado, aos discípulos de Emaús, que desconsolados repetiam:
"pensávamos que fosse Ele a salvar-nos". Só o Senhor nos salva e nos
redime. Ao longo dos séculos, Ele associa à obra da sua redenção os santos, ou
seja, aqueles que aceitam a sua vontade e seguem fielmente o seu Evangelho.
Como esta jovem, Catarina de Sena, que sonhava com uma Igreja santa, da qual se
sentia "filha" e "mãe", com bispos e sacerdotes cheios de
zelo. Queria a Igreja desse modo, não por uma visão triunfalista da cristandade,
mas para que pudesse ser "fermento" de renovação social, ao comunicar
aos homens "o sangue" de Cristo que gera a paz. Santa Catarina,
intrépida reformadora dos frades e das monjas da Ordem de São Domingos, à qual
era ligada como terciária, nos conduza a uma contemplação cada vez mais íntima
dos mistérios insondáveis da vida divina; nos ajude a amar a Igreja com coração
grande e apaixonado; nos apoie no nosso empenho quotidiano ao serviço do
Evangelho, sempre atentos aos "sinais dos tempos" e à suprema vontade
de Deus na qual se encontra a nossa paz. Assim seja.
CARDEAL TARCISIO BERTONE,
Basílica de Santa Maria Maior
Domingo 29 de Abril de 2007
vatican.va
Abraça Jesus
crucificado, amante e amado
"Querida irmã em
Jesus. Eu, Catarina, serva dos servos de Jesus, escrevo-te no seu precioso
sangue, desejosa que te alimentes do amor de Deus e que dele te nutras, como do
seio de uma doce mãe. Ninguém, de fato, pode viver sem este leite!
Quem possui o amor de
Deus, nele encontra tanta alegria que cada amargura se transforma em doçura e
cada grande peso se torna leve. E isto não nos deve surpreender porque, vivendo
na caridade, vive-se em Deus:
“Deus é amor; quem
permanece no amor habita em Deus e Deus habita nele”.
Vivendo em Deus, por
conseguinte, não se pode ter amargura alguma porque Deus é delícia, doçura e
alegria infinita!
É esta a razão pela
qual os amigos de Deus são sempre felizes! Mesmo se doentes, necessitados,
aflitos, atribulados, perseguidos, nós estamos alegres.
Mesmo quando todas as
línguas caluniosas nos metessem em má luz, não nos preocuparemos, mas nos
alegraremos com tudo porque vivemos em Deus, nosso repouso, e saboreamos o
leite do seu amor. Como a criança suga o leite do seio da mãe assim nós, enamorados de Deus, atingimos o amor de Jesus Crucificado, seguindo sempre as
suas pegadas e caminhando com ele pelo caminho das humilhações, das penas e das
injúrias.
Não procuramos a
alegria se não em Jesus e fugimos de toda a glória que não seja aquela da cruz.
Abraça, portanto, Jesus
Crucificado elevando a ele o olhar do teu desejo! Toma em consideração o
seu amor ardente por ti, que levou Jesus a derramar sangue de todas as partes
do seu corpo!
Abraça Jesus
Crucificado, amante e amado e nele encontrarás a verdadeira vida, porque ele é
Deus que se fez homem. Que o teu coração e a tua alma ardam pelo fogo do amor
do qual foi coberto Jesus cravado na cruz!
Tu deves, portanto, tornar-te
amor, olhando para o amor de Deus, que tanto te amou, não porque te devesse
obrigação alguma, mas por um puro dom, impelido somente pelo seu inefável amor.
Não terás outro desejo
para além daquele de seguir Jesus! E, como que inebriada do Amor, não
farás caso se te encontras só ou acompanhada: não te preocuparás com tantas
coisas mas somente de encontrar Jesus e segui-lo!
Corre, Bartolomea, e
não estejas a dormir, porque o tempo corre e não espera nem um momento!
Permanece no doce amor
de Deus.
Doce Jesus, amor Jesus."
Das “Cartas” de Santa
Catarina de Sena (1347-1380) (carta n.165 a Bartolomea, esposa de Salviato
da Lucca)