Homilia de Padre
Marcos Belizário Ferreira
Este é o terceiro Domingo que a imagem da vinha aparece em nossas
celebrações. A vinha é um símbolo muito presente na Bíblia
para representar a dedicação que se deve ter para com o projeto divino, que é o
Reino de Deus.
As comparações, muito próximas do povo bíblico, se devem pela
necessidade de zelo e de perseverança se o vinhateiro quiser colher uvas de boa
qualidade, na sua vinha. Hoje, o simbolismo da vinha está especificado na 1ª
leitura e no salmo responsorial: a vinha do Senhor é o povo de Israel, ou como
dizemos em nossos dias, a vinha do Senhor é o Povo de Deus.
A vinha representa
o Povo de Deus e, ao mesmo tempo, de acordo com o Evangelho, esta mesma vinha é
confiada ao Povo de Deus. Por isso, a vinha não apenas representa o Povo de
Deus, mas também é confiada ao Povo de Deus para que a cultive e a faça
produzir frutos. Ou seja, o povo mesmo é a vinha que deve cultivar o projeto
divino para produzir frutos no meio do mundo.
Vou frisar uma
vez mais: a Igreja é o novo Povo de Deus que recebeu o compromisso de cultivar
a vinha do Reino de Deus. É um povo fundado sobre uma nova pedra fundamental,
Jesus Cristo, e que se fundamenta no Evangelho, para que o projeto divino
aconteça no mundo. Nós, que somos a Igreja, formamos o Povo de Deus e recebemos
de Deus o compromisso do cuidado, do cultivo e da produção da vinha do Senhor.
Cada um de nós, portanto, é um vinhateiro na vinha do Senhor.
A vinha está plantada em todos os terrenos do mundo, para que o projeto
divino de justiça, fraternidade, paz, solidariedade... seja cultivado em todos
os cantos da terra. A vinha foi plantada por Deus, anunciada por Jesus
Cristo — que na parábola do Evangelho é o Filho do Rei, assassinado pelos
vinhateiros infiéis — e, agora, em nosso tempo, é cultivada pela Igreja.
Os
cristãos de todos os tempos, portanto, receberam a missão de cultivar a vinha
do Reino para produzir frutos.
De um modo mais particularizado, podemos dizer que cada um de nós recebeu esta missão, digamos assim, de ser vinhateiros, cultivadores dos valores do Reino no meio do mundo. Cada um de nós, portanto, pode-se perguntar o que está fazendo para cultivar a vinha e como está trabalhando na vinha.
Quando
consideramos a missão da Igreja, entendemos que a Igreja não é uma coisa
abstrata, sem forma, que existe só como presença moral, como muitos pretendem
defini-la.
A Igreja somos nós: eu, você e todos os batizados, somos um povo que se chama Igreja e não, apenas, fazemos parte da Igreja, como se fossemos sócios de um clube.
Ora, se entendemos isso, compreendemos também que devemos colocar a mão na massa para cultivar a vinha do Reino. Cada um de nós tem um compromisso pessoal com o cultivo da vinha de Deus. Cada um de nós.
Isto precisa ficar bem claro, porque é assim que a Igreja se torna concreta e concretamente cultiva e agiliza os valores do Evangelho, na sociedade. Chamo atenção para uma dimensão bem prática, presente na 2ª leitura, principalmente no segundo parágrafo.
Ali diz que tudo que é verdadeiro, nobre, justo, puro, amável,
honroso, virtuoso...
tudo isso é digno do Reino de Deus. Cultivar tais valores
entre nós — a verdade, a transparência, a honestidade, a honra, a bondade... —
é um modo de cultivar os valores do Reino entre nós.
Que Deus nos ajude a
sermos fiéis a esta missão, para não decepcioná-lo, como aconteceu com os
vinhateiros infiéis, da 1ª leitura e do Evangelho. E cada um se pergunte: como
estou trabalhando na vinha? O QUE EU FAÇO NESTA VINHA? Amém!