segunda-feira, outubro 20, 2014

"DEVOLVEI, POIS, A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR E A DEUS, O QUE É DE DEUS" Mt 22,21


Homilia de Padre Marcos Belizário Ferreira
“Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. Estas palavras de Jesus foram utilizadas com frequencia para estabelecer uma nítida fronteira entre o político e o religioso, e assim defender a autonomia absoluta do Estado diante de qualquer interpelação feita a partir da fé.
Segundo esta interpretação, Jesus teria colocado o ser humano, por um lado, diante das obrigações de caráter cívico-político e, por outro lado, diante de uma interpretação religiosa. 
Como se o ser humano tivesse que responder aos assuntos sociopolíticos diante do poder político, e dos assuntos religiosos diante de Deus.
A intenção de Jesus não era esta. O acento de suas palavras está na parte final. Perguntaram-lhe insidiosamente pelo problema dos tributos e Jesus resolve prontamente o problema. Se manejam a moeda que pertence a César, terão de submeter-se às consequencias que isto implica. Mas Jesus introduz uma nova ideia que não aparecia na pergunta dos adversários.
De forma inesperada , introduz Deus na questão. A imagem da moeda pertence a César. Mas as pessoas não devem esquecer que levam em si mesmas a imagem de Deus. E, portanto, só pertencem a Ele. 
Assim o afirmava a tradição bíblica. É então que podemos captar o pensamento de Jesus: “dai a César o que lhe pertence, mas não esqueçais que vós mesmos pertenceis a Deus”.
Para Jesus, César e Deus não são duas autoridades de categoria semelhante que devem repartir entre si a submissão dos humanos. Deus esta acima de qualquer César, e este não pode jamais exigir o que pertence a Deus.
Em tempos em que cresce o poder do Estado e fica cada vez mais difícil aos cidadãos defender no meio de uma sociedade na qual quase tudo é dirigido e controlado, nós crentes não devemos deixar que nenhum poder nos roube nossa consciência e nossa liberdade.
O outro aspecto está nos argumentos de Jesus diante da ponderação de quem tenta intimidar o religioso com argumentações de duplo sentido. Este é um outro elemento que tantas vezes nos deparamos em nossos relacionamentos com outras pessoas.
 Jesus não destrói o valor que os provocadores trazem, mas apresenta onde coloca a prioridade de sua vida. O valor dos provocadores de Jesus era o tributo a César, e Jesus considera a moralidade deste tributo como positivo, mas não o coloca acima do que se deve a Deus.
 O centro da vida não está nos deveres sociais, mas no culto a Deus. O centro da vida, em nossos dias, não está no culto dos valores sociais, mas no culto que devemos a Deus.

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