Homilia de Padre
Marcos Belizário Ferreira
“Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. Estas
palavras de Jesus foram utilizadas com frequencia para estabelecer uma nítida
fronteira entre o político e o religioso, e assim defender a autonomia
absoluta do Estado diante de qualquer interpelação feita a partir da fé.
Segundo esta
interpretação, Jesus teria colocado o ser humano, por um lado, diante das
obrigações de caráter cívico-político e, por outro lado, diante de uma
interpretação religiosa.
Como se o ser humano tivesse que responder aos
assuntos sociopolíticos diante do poder político, e dos assuntos religiosos
diante de Deus.
A intenção de
Jesus não era esta. O acento de suas palavras está na parte final.
Perguntaram-lhe insidiosamente pelo problema dos tributos e Jesus resolve prontamente
o problema. Se manejam a moeda que pertence a César, terão de submeter-se às
consequencias que isto implica. Mas Jesus introduz uma nova ideia que não
aparecia na pergunta dos adversários.
De forma
inesperada , introduz Deus na questão. A imagem da moeda pertence a César.
Mas as pessoas não devem esquecer que levam em si mesmas a imagem de Deus. E,
portanto, só pertencem a Ele.
Assim o afirmava a tradição bíblica. É então
que podemos captar o pensamento de Jesus: “dai a César o que lhe pertence, mas
não esqueçais que vós mesmos pertenceis a Deus”.
Para Jesus,
César e Deus não são duas autoridades de categoria semelhante que devem
repartir entre si a submissão dos humanos. Deus esta acima de qualquer César,
e este não pode jamais exigir o que pertence a Deus.
Em tempos em que
cresce o poder do Estado e fica cada vez mais difícil aos cidadãos defender no
meio de uma sociedade na qual quase tudo é dirigido e controlado, nós crentes
não devemos deixar que nenhum poder nos roube nossa consciência e nossa
liberdade.
O outro aspecto
está nos argumentos de Jesus diante da ponderação de quem tenta intimidar o
religioso com argumentações de duplo sentido. Este é um outro elemento que
tantas vezes nos deparamos em nossos relacionamentos com outras pessoas.
Jesus
não destrói o valor que os provocadores trazem, mas apresenta onde coloca a
prioridade de sua vida. O valor dos provocadores de Jesus era o tributo a
César, e Jesus considera a moralidade deste tributo como positivo, mas não o
coloca acima do que se deve a Deus.
O centro da vida não está nos deveres
sociais, mas no culto a Deus. O centro da vida, em nossos dias, não está no
culto dos valores sociais, mas no culto que devemos a Deus.
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