Uma das obras de misericórdia corporais orienta-nos a sepultar os mortos. É uma obra de misericórdia que vem ao encontro do respeito pelo corpo humano, como diz a doutrina cristã. Mesmo depois de morto, o corpo que foi consagrado a Deus, no Batismo e na Crisma, tornando-se Templo do Espírito Santo, merece a dignidade de um sepultamento humano. Além disso, o sepultamento cristão está ligado ao fato de Jesus ter sido sepultado. Por isso, o último gesto cristão demonstrando respeito e dignidade, para com a pessoa humana é o seu sepultamento com o rito da encomendação.
A concessão de uma sepultura digna ou de um sepultamento digno, celebrado com os ritos da Igreja, é um fato consolidado na cultura dos cristãos, na maior parte dos povos. Trata-se de um gesto de misericórdia, no sentido que a comunidade eclesial se une a familiares e amigos do falecido para a última despedida, em atitude de consolo, de esperança e de apoio espiritual. Mesmo que sejam pessoas sem familiares, a Igreja se faz presente para encomendar o corpo daquele ser humano a Deus. A misericórdia, a compaixão para com quem morreu é manifestada com uma celebração litúrgica.
Atualmente, devido a vários fatores sociais e também sanitários, a Igreja criou um rito para funerais de cremação. Isto significa que a Igreja aceita a cremação de pessoas e a considera também como um modo digno de despedida para com os falecidos. Quem já participa deste ato pela primeira vez sente que o calor dos fornos não é capaz de produzir calor humano aos familiares, como ocorre em sepultamentos. Entre os fatos, isto se deve, principalmente, pela falta de uma referência localizada da pessoa que morreu, o túmulo, no caso do sepultamento.
Mas, minha conclusão caminha para outro lado: na obra de misericórdia de sepultar os mortos está presente, principalmente, o consolo dos vivos, daqueles que choram seu luto e passam pela dolorosa experiência da separação. Trata-se, pois, de uma obra de misericórdia, que se associa a outra obra de misericórdia: consolar os aflitos e atribulados, partilhar o consolo com quem sofre a separação pela morte. Uma obra de misericórdia que exige a presença e, quando as palavras não forem capazes de consolar, o silêncio de quem compreende a dor. É claro que não podemos fazer o que faz Jesus, no Evangelho deste Domingo, mas podemos ser misericordiosos com nossa presença para consolar e acolher de modo compreensivo o choro de quem sofre.
(Francisco Régis)