A celebração do Corpo e Sangue de Jesus oferece uma boa oportunidade para refletir e avaliar o modo como a Eucaristia é celebrada em nossas comunidades. A Eucaristia nasceu num contexto de simplicidade e é na e pela simplicidade que os celebrantes se aproximam do Senhor, presente na Eucaristia. O ambiente, no qual Jesus instituiu a Eucaristia, era simples, os gestos de Jesus, na instituição, foram simples, os sinais do pão e do vinho são simples. Tudo, tudo na Eucaristia, especialmente no seu início evoca simplicidade. Se simplicidade foi o modo escolhido por Jesus para a celebração da Eucaristia é pela simplicidade que “ele está no meio de nós”, é pela simplicidade que o encontramos na Palavra e nos sinais. Quanto mais simples, portanto, forem nossas celebrações, mais próxima daquela realizada por Jesus estaremos.
Depois, a história se encarregou de agregar ritos e complicações rituais, a ponto de ameaçar com pecados alguns erros litúrgicos, arriscando-se com uma perigosa aproximação da magia. Assim, pouco a pouco, começou-se a perder a simplicidade, na celebração da Missa, a ponto da Missa se tornar uma espécie de sacra encenação diante de uma assembléia que participava pela presença. Um dos objetivos da reforma litúrgica do Vaticano II foi o retorno às três características básicas da Liturgia romana: a simplicidade, a brevidade e a clareza, em vista da compreensão dos celebrantes (SC 34).
O perigo da perda da simplicidade consiste no desvio do foco. Quando existem muitos acréscimos na Missa — ritos, canções, símbolos, procissões e danças, por exemplo — a tendência natural é se concentrar no exterior desses ritos e não na sua finalidade: a aproximação de Deus e o encontro com o Senhor. A introdução de outros ritos, na maior parte das vezes, considera apenas a beleza estética, o fazer bonito para fazer diferente e não a beleza ritual litúrgica para conduzir ao encontro com Deus. Por isso, a reforma do Vaticano II não acrescentou ritos, mas purificou a celebração de ritos que impediam a brevidade, a solenidade, a simplicidade e a clareza para favorecer a participação no Mistério Pascal de modo pleno e consciente. O princípio da simplicidade é que o rito não é para ser visto, mas é meio para se aproximar de Deus.
Simplicidade tem a ver com as vestes do padre e dos ministros, com a homilia, com as canções, com os arranjos florais, etc... Depois de tantos anos caminhando com a Liturgia estou convencido que a simplicidade é mais exigente que a “criatividade livre” que, na maior parte das vezes, é personalista, pouco se importando nem com a proposta celebrativa e nem com as orientações litúrgicas. O personalista passa por cima de tudo, principalmente das orientações litúrgicas, porque o que conta é ele e seus caprichos. Busca o aplauso não a condução dos celebrantes a Deus.
A grande virtude da simplicidade é deixar a Liturgia conduzir a celebração. Explico. No tempo da Quaresma, a Liturgia conduz celebrações silenciosas. Quando o personalismo de alguns músicos desconsidera a orientação litúrgica do silêncio, introduzirá baterias e pandeiros em celebrações quaresmais. O próprio padre corre o risco de deixar de ser presidente da celebração para se tornar uma espécie de “apresentador da Missa”. Celebrações com falas e cantos o tempo todo, inclusive nas secretas, na Oração dos fiéis e até na Oração Eucarística, quebram o ritmo simples e natural da comunicação litúrgica e a impede de ser simples. Poderíamos falar também de ritos dúbios, como procissões ofertoriais repletas de sinais e cestas para recolher dinheiro que não fazem parte do rito ofertorial, ou de orações para entregas de dízimo, no rito das ofertas
BENÇÃO DO CÁLICE PARA O CENTENÁRIO NA SOLENIDADE DA NATIVIDADE DE SÃO JOÃO BATISTA
24 DE JUNHO DE 2016