A natureza repete anualmente as quatro estações e, repetindo, parece renovar-se. É uma caminhada cíclica onde se sente a retomada de forças e de energias. Por meio destas estações se penetra mais no mistério da vida e de suas manifestações. A vida se repete anualmente, mas não de maneira idêntica: ela traz sempre algo novo. É como repassar num mesmo lugar, porém num plano mais elevado e sempre a caminho do infinito.
Assim acontece com o Ano Litúrgico. Ele volta sempre ao ponto de partida. Anualmente é apresentado o mesmo mistério; por exemplo, o Natal. Só que cada vez ele é iluminado diferentemente pelos diversos evangelistas: Ano A = Mateus; Ano B = Marcos; Ano C = Lucas. João preenche determinados espaços vazios deixados pelos Sinóticos. Exemplo: só o IV Evangelho fala do Lava-pés, passagem proclamada na Quinta-feira Santa: Jo 13, 1ss.).
Além disso, o cristão que hoje medita deverá estar mais enriquecido do que quando o fez no ano anterior, pois a Palavra de Deus não deixa de produzir o seu fruto: (Is 55, 10-11). Com isto, de celebração em celebração, de ano em ano, se encaminha para a concretização, no encontro com Cristo, para a liturgia sem fim: (Apoc 21-22).
O desenho, a seguir, pode ilustrar o que se está dizendo. Como não poderia deixar de ser, o Ano Litúrgico começa com o Advento, que é a preparação para o Natal, e termina com a solenidade de Cristo Rei. A partir daí, começa um outro Ano Litúrgico, então iluminado por um outro evangelista.
Advento são as quatro semanas que antecedem o Natal e prepara os corações para melhor penetrar seus mistérios. A seguir vem o Natal e festas a ele relacionadas: Sagrada Família, Maternidade de Maria, Magos.
A Semana Santa é precedida pela Quaresma. São cinco semanas preparatórias para as grandes celebrações do cristianismo: Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. Começa na Quarta-feira de Cinzas. Na Semana Santa, além de Ramos, se celebram a Última Ceia, a Morte do Senhor e a Ressurreição.
Após a Ressurreição, seguem seis semanas nas quais se rememora a vitória da vida sobre a morte, o triunfo de Cristo, o triunfo da humanidade. Na Quinta-feira após o 6º Domingo de Páscoa é a 5º solenidade da Ascensão. No Brasil, por não ser feriado, a Ascensão é celebrada no domingo seguinte, que seria o 7º de Páscoa. Também as solenidades de Pentecostes e Santíssima Trindade ocupam domingos de Tempo Comum, sendo que com a primeira festa se encerra o ciclo pascal.
As restantes 34 semanas do ano constituem o Tempo Comum. Ele está entre o ciclo natalino e a Quaresma, assim como entre o ciclo pascal e o Advento posterior. Estas duas partes, a saber, a que intermedeia o ciclo natalino e a Quaresma, e a que intermedeia o ciclo pascal e o Advento posterior, variam de tamanho, de ano para ano, conforme a Páscoa, que é festa móvel, isto é, que não tem data fixa, está mais próxima ou mais distante do Natal. Exemplo:
1991 - Páscoa: dia 31 de março;
1992 - Páscoa: dia 19 de abril.
Com isso, em 1991, entre o ciclo natalino e a Quaresma foram colocados cinco domingos do Tempo Comum. Entre o ciclo pascal e o Advento, os restantes 29 domingos. O mesmo não se dá em 1992, pois a Páscoa está mais perto do Natal do mesmo ano. Portanto, sobrará mais espaço entre o ciclo do Natal e a Quaresma. Justamente por esta razão, entre ambos foram colocados oito domingos do Tempo Comum. Os restantes 26 ficaram entre o ciclo pascal e o Advento.
Nessas alturas é de se recordar que o 1º Domingo do Tempo Comum é substituído pela celebração do Batismo de Jesus, assim como o 34º é pela solenidade de Cristo Rei. Durante o Tempo Comum acontecem solenidades como Santíssima Trindade, Corpo de Deus.
A evolução do Ano Litúrgico:
a) início do Advento e do Ano Litúrgico que não coincide com o ano civil. Durante quatro semanas (Advento) a Igreja se prepara para o mistério natalício do Senhor. Tem início o ciclo natalino.
b) Natal. Até a solenidade do Batismo do Senhor, a liturgia respira o ambiente da gruta de Belém, mesmo nas celebrações da maternidade de Maria, Sagrada Família, Epifania.
c) Batismo do Senhor. Com esta celebração se encerra o ciclo natalino. A partir daí, tem início o Tempo Comum.
d) Tempo Comum. O espaço entre o Batismo do Senhor e a Quaresma é preenchido por um determinado número de domingos. A quantidade varia conforme a localização da Páscoa no ano em curso, como se falou acima. É a primeira parte do Tempo Comum.
e) Com a Quarta-feira de Cinzas começa a Quaresma. São cinco semanas que culminam na Semana Santa.
f) Páscoa. A ela segue uma série de sete domingos, chamados domingos de Páscoa.
g) Pentecostes. Termina o ciclo pascal que começou com a Quaresma.
h) Tempo Comum. Continua a partir da interrupção acontecida por ocasião da Quaresma, como se vê na letra d.
i) Festa de Cristo Rei. Último domingo do Ano Litúrgico. Seria o 34º Domingo do Tempo Comum. Depois desta solenidade começa um outro Ano Litúrgico, começa o Advento.
Numa leitura apressada e superficial uma Missa é cópia da outra. Não é o que acontece; cada uma está localizada num determinado ponto do Ano Litúrgico. Portanto cada uma é portadora de mensagens próprias. Além do mistério pascal celebrado por todas elas, são enriquecidas pela memória própria da festa, própria do tempo.
O exemplo, embora singelo, pode ilustrar o que afirmamos: é possível comer arroz todos os dias; a variação do tempero deixará a impressão de se estar comendo alimento diferente. O tempero ou o modo diferente de se preparar o arroz dão o toque especial, deixando a impressão de se comer algo completamente novo. Ignorar o momento litúrgico que se vive é empobrecer sobremaneira a riqueza dos mistérios celebrados. O ideal é saber integrar o mistério pascal de cada Missa com a memória própria do tempo, da festa.
As memórias próprias das festas ou do tempo litúrgico são melhor detectadas e evidenciadas pelas chamadas partes móveis da Missa: orações, leituras, cânticos. São como o tempero que dá o sabor especial à comida.
Conhecer o Ano Litúrgico é condição fundamental para melhor se penetrar na alma das celebrações.