Para conhecermos bem uma pessoa, temos que ter proximidade com ela. Chegarmos de mansinho, cada vez mais perto, ouvir a sua história, suas palavras, tocá-la de perto. Assim, vamos nos aproximar mais do Apóstolo Paulo, ele quer se revelar a nós hoje e tem “um dom espiritual para nos comunicar” (Rm 1,11).
Há três formas de conhecermos Paulo, através dos Atos dos Apóstolos, das suas cartas e por meio da Tradição Cristã.
O próprio apóstolo traça sua biografia
• “Circuncidado ao oitavo dia, da raça de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu, filho de hebreus; quanto à Lei, fariseu; quanto ao zelo, perseguidor da Igreja; quanto à justiça que há na Lei, irrepreensível” ( Fl 3,5).
Através dessa descrição de Paulo, percebemos vários elementos de sua vida, como por exemplo:
· Sua religião
· Qual a sua descendência familiar
· De qual movimento dentro do Judaísmo ele pertencia
· Como era seu comportamento
Onde Paulo nasceu?
Em uma cidade chamada Tarso, que é a capital da Cilícia, situada na Ásia Menor, região que hoje corresponde à Turquia.
• Tarso era uma importante cidade da Ásia Menor, com uma grande universidade e um centro intelectual para aqueles que desejavam estudar.
• Segundo estudiosos, tinha aproximadamente 300 mil habitantes. Era também uma cidade portuária, com economia próspera e vida urbana agitada. Por Tarso passava a estrada romana que fazia ligação entre o oriente e o ocidente.
Nome
Saulo era o nome de Paulo antes do encontro com Jesus. Os judeus da diáspora costumavam ter dois nomes SAULO (hebraico) e PAULO (grego)
Shaúl = implorado, desejado
Paulo = Pequeno
Saul, o primeiro rei de Israel, era o personagem mais importante da Tribo de Benjamim, a qual a família de Paulo descendia. Certamente, os pais usavam colocar esse nome em seus filhos recordando o grande rei Saul. O mesmo ocorre hoje, como por exemplo, na região do Cariri, no Ceará, muitos pais colocam em seus filhos e filhas o nome Cícero ou Cícera em homenagem ou para pagar promessas ao pe. Cícero Romão.
Após seu encontro com o Cristo e na missão em meio aos gentios o “grande” Saulo, prefere ser chamado apenas de “pequeno”. Os judeus da diáspora eram aqueles que moravam fora da Palestina.
Estudos
Como era tradição de sua época, Paulo deve ter recebido a formação básica como judeu, primeiro, na casa dos pais e, logo após, na sinagoga local de Tarso e na escola ligada a sinagoga.
Segundo estudiosos, se quiséssemos traçar uma cronologia dos estudos de Paulo, seria mais ou menos assim:
· Aos 7 anos, Saulo entrou na escola da sinagoga, no bairro judeu de Tarso,onde aprendeu a ler a língua grega;
• Aos 10 anos, concluiu o curso primário, e aos 11, sabendo ler bem o grego, começou o secundário;
• Aos 15 anos terminou o ensino secundário;
• Dos 16 aos 20 anos é provável que Saulo tenha escolhido um mestre da Universidade;
• Aos 20 anos, Saulo escolheu especializar-se na cultura e religião de seu povo de origem, e foi para Jerusalém e lá tem como seu mestre Gamaliel (cf. At 22,3).
A cidadania
O título que Saulo recebeu ao nascer em Tarso era o de terceira categoria. Havia uma escala de direitos na cidadania romana:
· Cidadãos plenos eram os que participavam do senado romano ou descendiam de famílias de imperadores ou senadores;
· Cidadãos patrícios eram de famílias ricas e comandavam os exércitos e as batalhas ou dedicavam-se à vida intelectual e ao magistério;
· Cidadãos plebeus eram livres, mas haviam sido escravos e depois libertos, ou seus descendentes que, mesmo nascendo livres, herdavam o título romano plebeu e sobreviviam com dificuldade, de um ofício manual.
Os cidadãos romanos plebeus eram desprezados pelas outras duas classes, porque faziam trabalho braçal. Gozavam de poucos privilégios e eram alvos das arbitrariedades dos juízes romanos. Como cidadão de Roma, Paulo gozava de alguns privilégios: não poderia ser flagelado, não podia ser crucificado, podia apelar para o Supremo Tribunal em Roma.
A escolha da profissão
· Paulo queria tornar-se um intelectual e subir na escala social, por isso escolheu o curso para ser doutor da Lei.
· Depois do seu encontro com Jesus, porém, Paulo aprendeu a trabalhar o couro, fabricava sandálias, cintos, tendas, bolsas etc.
· O trabalho com o couro era impuro para os judeus. Paulo, como missionário itinerante opta por ser um “trabalhador que anuncia o Evangelho”, por onde vai, procura um trabalho. Isso não faz de Paulo um rico comerciante, pelo contrário, Paulo faz a opção de ser escravo, trabalha para os outros. O apóstolo não quer ser pesado para ninguém.
A Religião
Saulo era judeu e frequentou a escola farisaica. Professava a fé na ação de Deus na história por meio daqueles que fossem fiéis ao seu projeto e procurassem o direito e a justiça.
O que Saulo pensava sobre Jesus?
• Como fariseu, Saulo considerava Jesus um traidor;
• Acreditava que Jesus era um falso mestre;
• Pensava que Jesus tinha recebido a morte que merecia (a cruz);
• Achava que os seguidores de Jesus tinham sido seduzidos por falsas promessas e deveriam voltar atrás.
O ACONTECIMENTO DE DAMASCO
Encontro com uma pessoa
Algumas Narrativas
• At 9, 1-22 – Narrativa de Lucas.
• At 22, 4-16 – Lucas narra Paulo falando de sua conversão ao povo.
• At 26, 9-18 – Lucas narra Paulo falando de sua conversão ao rei Agripa e demais presentes.
Alguns textos de Paulo em suas cartas que aludem ao fato
• Gl 1, 11-16 – ... Quando, porém, aquele que me separou desde o seio materno e me chamou por sua graça.
• 1 Cor 15, 8-10 – Apareceu também a mim como um abortivo.
• Fl 3, 6-12 – Pois eu também fui alcançado por Cristo Jesus.
A pergunta de Jesus à Saulo
- Saulo, Saulo, porque você me persegue?
- Quem és tu, Senhor?
- Eu sou Jesus, a quem você está perseguindo. (At 9,4-5)
Jesus se identifica com a comunidade perseguida.
A luz de Damasco
Paulo se dirigia para Damasco e lá iria prender e torturar os cristãos, mas, no fundo a inteligência e o amor de Paulo o faziam duvidar... talvez poderia estar dando um passo errado. Sua luta e perplexidade foram tão grandes, que conseguiram derrubá-lo e fazê-lo pensar melhor. E Paulo caiu por terra, vencido por Jesus Cristo.
A luz do Ressuscitado, que envolveu Paulo, colocou em seu coração uma experiência do Mistério. Ele compreendeu que tudo era vazio e inútil sem ele. Depois, ao longo da vida, foi-se configurando sempre mais com Cristo até o ponto de dizer: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim.” (Gl 2,20)
A luz de Damasco foi luz afetiva, que inundou os olhos do coração de Paulo. Ele foi vencido pela luz. A luz é a fonte da missão. A partir de então Paulo tornou discípulo do Mestre Jesus e incansável missionário, anunciador da sua Palavra. “Porém, o que para mim era ganho, por causa de Cristo considerei perda. Mais ainda: considero tudo perda em comparação com o superior conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor.” (Fl 3,7-8)
Após sua conversão Paulo foi para Arábia, depois para Jerusalém encontrar-se com os apóstolos; de lá, retornou para Tarso por onde permaneceu por longos anos até ser chamado por Barnabé para ir à Antioquia da Síria e de lá com Barnabé (cf. At 13,2 ss) é enviado em missão. Durante sua vida, Paulo realiza quatro grandes viagens missionárias, funda comunidades, anima os cristãos, enfrenta muitas dificuldades (cf. 2 Cor 11, 23-28), escreve animando e orientando as comunidades.
Paulo foi martirizado por volta dos anos 64 a 68 em Roma, por ser cidadão Romano, foi decapitado. Segundo a tradição Cristã, quando Paulo foi decapitado, sua cabeça pulou três vezes e nos três lugares onde a cabeça do apóstolo pulou, brotaram fontes.
O túmulo do Apóstolo Paulo está na Basílica de São Paulo Fora dos Muros.
“Combati o bom combate, terminei minha carreira, conservei a fé.” (2Tm 4,7).