segunda-feira, agosto 20, 2018

SOLENIDADE ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA




A mulher e o dragão
A primeira consideração sobre a Assunção de Nossa Senhora apresenta dois símbolos: a mulher e o dragão (1L). São dois arquétipos, indicativo de não ser exclusividade da simbologia Bíblica. A mulher, referente da geração humana da vida e, o dragão, referente do mal, do inimigo destruidor da vida. Símbolos, portanto, não propostos à contemplação, mas para serem lidos e interpretados.

A luta da mulher com o dragão aparece no Genesis e no Apocalipse. Não significa o começo e o fim, mas explicação da totalidade da história pessoal. A narrativa da 1ª leitura descreve a preservação da vida contra as ameaças destruidoras do dragão, posicionado diante da mulher (da humanidade) geradora da vida; o dragão, a maldade, está sempre pronto para matar e devorar a vida humana. A defesa da vida é a luta constante contra um inimigo destruidor que se apresenta das mais diversas formas, cuja grande e maior de todas as catástrofes chama-se guerra.

Como não ver na cena do Apocalipse (1L) — da mulher em trabalho de parto tendo o dragão diante de si para devorar a vida que começa a nascer — a estrutura fundamental da História da Salvação? Como não ver, de um lado, na fragilidade da mulher e do recém-nascido, a força frágil da vida e, do outro lado, o poder necrófilo de impérios, da constante ameaça de morte promovido pelos sistemas de governo ideológicos , que se interessam mais pelo poder que pela vida? — De onde, então, vem a salvação da vida? Vem de Deus, que leva a mulher e a vida recém-nascida a um lugar seguro e deserto (1L). A mulher e o recém-nascido são imagens da fragilidade da vida humana diante do mal e, ao mesmo tempo, imagem da possibilidade humana de preservar a vida quando confiada a Deus e quando conduzida pelos caminhos de Deus.


Aquela que acreditou

A perícope evangélica proposta pela Liturgia da Assunção está em estreita ligação com a reflexão do Apocalipse (1L). Maria é saudada por Isabel como "aquela que acreditou" (E). É apresentada como mulher de fé, pois nela acontece o que foi anunciado por Deus. A fé, portanto, como condição para que a vontade divina aconteça na vida pessoal. A Palavra de Deus, anunciada pelo anjo a Maria (E), torna-se a referência fundamental da sua existência. Ou seja, a partir daquela Palavra de Deus dita pelo anjo, Maria passa a viver, a relacionar-se com as pessoas, a cultivar seus valores — como o serviço solidário a Isabel —, de um modo novo. Mulher de fé, sem se preocupar tanto com os sucessos ou insucessos da vida, mas vivendo cada momento de sua existência com a luz proposta pela Palavra de Deus.

A decisão de colocar a vida pessoal nas mãos de Deus é a mesma que colocar o futuro da vida, o futuro da história, nas mãos divinas, para que ele a conduza. Nisto, a necessidade da fé como confiança total em Deus. É o que Maria expressa no canto do Magnificat (E). Se na primeira parte, Maria transforma sua fé em ação de graças porque Deus a elegeu, na segunda parte do Magnificat, Maria canta a ação divina na história depondo o poder destruidor da vida (1L e E) e fazendo prevalecer a sua misericórdia. Neste sentido, a história humana torna-se também o local da presença divina desde a encarnação do Verbo. Presença divina para que a vida seja protegida, vitoriosa e coroada de eternidade, como acontece com Maria, na Assunção.

Se a história humana é o local da manifestação de Deus, é compreensível que seja Deus o condutor da história ao destino celeste, cuja Assunção de Maria é manifestação e garantia. Uma celebração, portanto, que proclama o destino da história pessoal e de toda a humanidade, porque eterna é a misericórdia divina (E).