Queridos paroquianos de São
Conrado
O
ano de 2019 foi um ano diferente, com experiências diferentes e novas, ao menos
para mim nos 7 anos que estou aqui como pároco. Sem dúvida alguma as chuvas de
fevereiro e abril foram um marco em todos os sentidos, porém o sentido mais
apurado pelas tempestades foi o da fraternidade cristã. Conseguimos recriar a
partir do amor, e recriamos, vidas, amizades e casas. Nunca, em momento algum,
perdemos o nosso norte: Jesus! Sim,
Jesus e seu Evangelho nos conduziu todo o tempo.
Vivemos
experiências profundas também na liturgia, celebramos a fé com amor e sobretudo
com dignidade e humildade. Sempre reconhecendo que a celebração litúrgica é o
próprio Cristo, e sendo Ele mesmo a celebração merece todo nosso respeito e
adoração. Sabemos que a liturgia nos coloca a serviço de Deus Altíssimo.
Também
o Brasil está mudando, precisamos à semelhança de São José ter olhos fixos nas
"circunstâncias" da vida"
e notar que podemos modificar. Entender quer ser "conservador"
neste país é sinônimo de honestidade e de justiça e jamais pensarmos que
"conservar" significa não ser moderno, e sentir-se ultrapassado.
Conservar significa manter a TRADIÇÃO, mesmo que tenhamos que criar novas
tradições .
Acreditar
e relacionar-se positivamente com Deus conduz a uma relação distinta com a
realidade. O movimento que nos leva até Deus dá origem a outro movimento, que
nos faz descobrir o mundo como dádiva de Deus. Apercebemo-nos então como em
tudo o que nos acontece está presente a graça de Deus, que vem em nosso auxílio
e proteção. Esta é a razão pela qual dizer criação é mais do que dizer
natureza, pois “a criação só se pode conceber como um dom que vem das mãos
abertas do Pai de todos, como uma realidade iluminada pelo amor que nos chama a
uma comunhão universal” (LS 76).
Abrir-se
à lógica do dom conduz ao reconhecimento que “Deus criou o mundo para todos”, o
que significa que “a terra é, essencialmente, uma herança comum, cujos frutos
devem beneficiar a todos”. Deste modo, se “Deus deu a terra a todo o gênero
humano, não é segundo o desígnio de Deus gerir este dom de modo tal que os seus
benefícios aproveitem só a alguns poucos” (LS 93). Estamos traindo o pensamento
originário do Pai quando permitimos que poucos se apropriem de muito e que
muitos se tenham que viver com pouco!
Aceitar
a terra como uma herança comum significa então que ela “não é um bem econômico,
mas dom gratuito de Deus e dos antepassados que nela descansam” (LS 146).
Abraçar a lógica do dom gratuito, que se recebe e se comunica, exige que não
pensemos “apenas a partir dum critério utilitarista de eficiência e
produtividade para lucro individual. Não estamos falando duma atitude opcional,
mas duma questão essencial de justiça, pois a terra que recebemos pertence
também àqueles que hão-de vir” (LS 159). Recebemos a terra, mas não de um modo
definitivo, pelo que aqui vale a afirmação “recebestes de graça, dai graça”. Só
não podemos cair nessa tentação de enterrar o dom recebido por medo a uma
suposta severidade do Criador. De fato, “a capacidade do ser humano de transformar
a realidade deve desenvolver-se com base na doação originária das coisas por
parte de Deus” (LS 5).
Por
conseguinte, é lógico que a própria vida humana seja também “um dom que deve
ser protegido de várias formas de degradação” (LS 5), até porque “a aceitação
do próprio corpo como dom de Deus é necessária para acolher e aceitar o mundo
inteiro como dom do Pai e casa comum”. Só assim “é possível aceitar com alegria
o dom específico dos outros, obra de Deus criador, e enriquecer-se mutuamente”
(LS 155).
Em
suma, “o reconhecimento do mundo como dom recebido do amor do Pai provoca
disposições gratuitas de renúncia e gestos generosos, mesmo que ninguém os veja
nem agradeça” (LS 220). Quando nos descobrimos amados por Deus – e amados de
uma forma injustificada e desproporcionada –, então as nossas atitudes mudam e
o mundo à nossa volta já não ficará igual.
Deus
abençoe
Feliz
2020 para todos os Paroquianos de São Conrado
Padre
Marcos