quarta-feira, março 06, 2019

VIII DOMINGO DO TEMPO COMUM



Nova luz para os olhos

O Evangelho inicia-se dizendo que Jesus fala em parábola; percebe-se, no entanto, que se trata de provérbios comparativos da vida com símbolos e sinais, como é próprio da literatura sapiencial Bíblica. Trata-se de um quadro proverbial, que os exegetas dizem tratar-se de uma compilação de ensinamentos de Jesus que remetem diretamente à vida cotidiana, inseridos por Lucas, para concluir o "Sermão das Bem-aventuranças", que a Liturgia proclama desde o 6DTC-C. Ensinamentos propondo uma renovação radical em que se faz discípulo e discípula do Evangelho; renovação no coração e renovação nos relacionamentos interpessoais.
A primeira parte dos ensinamentos de Jesus enfoca os "olhos", o olhar. O discípulo enxerga a vida com a luz do Evangelho e isto lhe possibilita uma visão diferente da realidade. Ele não é conduzido por outro cego — pelo olhar do mundo — mas pelo olhar do seu Mestre que é "a luz do mundo" (Jo 8,18). O olhar do discípulo não pode ser hipócrita, alguém que percebe a trave — os defeitos, os pecados, a conduta equivocada — no outro, mas incapaz de se enxergar, de se ver a si próprio. O discípulo conhece sua condição, seus defeitos, seus pecados porque avalia, ele mesmo, sua conduta com a luz do Evangelho. Isto o afasta da condição de hipócrita, aquele que se considera justo e vive apontando um dedo acusador e julgador para todos, especialmente para o erro e o pecado do outro (E).

O coração revelado pela palavra

Do olhar, passa-se ao “coração” (E) com uma questão de fundo: como conhecer o coração de alguém? Jesus responde com a comparação dos frutos da árvore; árvore boa produz bons frutos e a árvore má, produz maus frutos. A qualidade do coração, portanto, é verificável pelos frutos existenciais que cada qual produz. Um bom resumo disso encontra-se na sabedoria do Eclesiástico: "o fruto revela como foi cultivada a árvore; assim a palavra mostra o coração do homem" (1L). O cristão é uma "árvore reconhecida pelos seus frutos" (E), pois sua vida é regada pela seiva do Evangelho. Este é um princípio conhecido por terapeutas e por diretores espirituais. O melhor método para tal conhecimento é a conversa, o diálogo.
Existe ainda outro aspecto, aquele que diz respeito ao próprio coração. Neste caso, à medida que alguém reflete sobre sua vida, sobre seus pensamentos (palavras que conversam em nossas mentes) e sobre suas atitudes, começa a distinguir entre o "eu ideal" (a imagem que faz de si mesmo) e o "eu real" (o modo como se comporta). Isto não é convite para calar-se; é incentivo para entrar em contato consigo mesmo para se conhecer, para perceber seus pecados e avaliar a própria conduta em vista de uma vida frutuosa até “no tempo da velhice” (SR).