O
início da 1ª leitura revela um dado aos leitores, desconhecido a Abraão: o
Senhor aparece, mas ele vê três homens. A perícope diz que, no momento da
chegada do Senhor, na hora mais quente do dia, Abraão "estava sentado à
entrada da sua tenda" (1L). A entrada da tenda indica uma situação de
limite entre o calor do dia e a sombra protetora da tenda. Na narrativa do
episódio, Abraão é apresentado como um velho sem filhos; outro indicativo de
uma situação limite entre a vida e a morte sem que a vida tenha continuidade no
filho.
Interessante
perceber que o momento mais quente do dia é a hora menos oportuno para visitas.
Abraão parece não se importar com isso; corre na direção dos visitantes antes
de reconhecer neles a presença do Senhor. A corrida de Abraão, um velho, na
hora mais quente do dia, revela desejo de acolher e oferecer hospitalidade. É
claro que isso contém uma mensagem bem maior, não limitada a um simples elogio
à hospitalidade de Abraão. Trata-se de uma mensagem maior, conhecida no fim da
visita, quando as coisas mudam pela revelação que Sara iria engravidar e ele
seria pai (1L). Mudam quando Deus revela-se como aquele que não se sujeita aos
limites da hora menos oportuna do dia para vir ao encontro e nem aos limites da
idade para gerar vida. Todo o momento é tempo para Deus nos visitar e para
acolhermos; não existe hora marcada.
O
exemplo de Abraão oferece uma atitude de quem deseja acolher: não se incomodar
com o inesperado. Na hora mais quente do dia, Abraão acolhe.
No
texto de Lucas é possível perceber um conceito de acolhimento de Marta e outro
de Maria. Enquanto Marta presume conhecer as necessidades do hóspede, Maria
senta-se aos pés dele para ouvi-lo. Dois conceitos diferentes de hospitalidade
e acolhimento. — Qual o conceito de hospitalidade e acolhimento de Marta e
Maria?
Para
Marta, acolher significa oferecer aquilo que ela considera necessário para o
hóspede: uma cadeira, uma mesa, um alimento. Por isso, ela se agita,
preocupa-se e, consequentemente, pensa mais em oferecer que em ouvir o que o
hóspede tem a dizer. É assim que ela entende a hospitalidade: como oferecer
algo.
Maria
acolhe Jesus na condição de discípula, daquela que valoriza não tanto o que tem
a oferecer, mas aquilo que o hóspede quer partilhar; por isso o escuta (E).
Acolher o hóspede, no conceito de Maria, significa abrir espaço no coração para
ouvir o que ele tem a dizer; estar disponível para ouvir, escutar. Marta
entende por acolhimento oferecer algo; Maria entende o acolhimento como escuta
de quem quer partilhar a vida. Quando Marta e Maria convivem na mesma pessoa
tem-se um acolhimento ideal.
Em todos os seus encontros, Jesus manifesta
total disponibilidade para cada um, como se a pessoa encontrada fosse única no
mundo. Ele quer dar-Se a Si próprio, porque o seu Pai Se dá primeiro a Ele.
Assim, reservar tempo para escutar a Palavra, para nos retirarmos no segredo do
nosso coração e para rezar, não é perder tempo. É enraizar a nossa ação no
único "terreno" capaz de a vivificar verdadeiramente, para que ela dê
fruto na vida eterna. Não é preciso opor Marta e Maria, mas uni-las, vivificar
o serviço de uma pela escuta atenta da outra. O tempo do verão é propício para
nos convidar a viver a esta luz...