segunda-feira, julho 22, 2019

XVI Domingo do Tempo Comum







O início da 1ª leitura revela um dado aos leitores, desconhecido a Abraão: o Senhor aparece, mas ele vê três homens. A perícope diz que, no momento da chegada do Senhor, na hora mais quente do dia, Abraão "estava sentado à entrada da sua tenda" (1L). A entrada da tenda indica uma situação de limite entre o calor do dia e a sombra protetora da tenda. Na narrativa do episódio, Abraão é apresentado como um velho sem filhos; outro indicativo de uma situação limite entre a vida e a morte sem que a vida tenha continuidade no filho.
Interessante perceber que o momento mais quente do dia é a hora menos oportuno para visitas. Abraão parece não se importar com isso; corre na direção dos visitantes antes de reconhecer neles a presença do Senhor. A corrida de Abraão, um velho, na hora mais quente do dia, revela desejo de acolher e oferecer hospitalidade. É claro que isso contém uma mensagem bem maior, não limitada a um simples elogio à hospitalidade de Abraão. Trata-se de uma mensagem maior, conhecida no fim da visita, quando as coisas mudam pela revelação que Sara iria engravidar e ele seria pai (1L). Mudam quando Deus revela-se como aquele que não se sujeita aos limites da hora menos oportuna do dia para vir ao encontro e nem aos limites da idade para gerar vida. Todo o momento é tempo para Deus nos visitar e para acolhermos; não existe hora marcada.
O exemplo de Abraão oferece uma atitude de quem deseja acolher: não se incomodar com o inesperado. Na hora mais quente do dia, Abraão acolhe.
No texto de Lucas é possível perceber um conceito de acolhimento de Marta e outro de Maria. Enquanto Marta presume conhecer as necessidades do hóspede, Maria senta-se aos pés dele para ouvi-lo. Dois conceitos diferentes de hospitalidade e acolhimento. — Qual o conceito de hospitalidade e acolhimento de Marta e Maria?
Para Marta, acolher significa oferecer aquilo que ela considera necessário para o hóspede: uma cadeira, uma mesa, um alimento. Por isso, ela se agita, preocupa-se e, consequentemente, pensa mais em oferecer que em ouvir o que o hóspede tem a dizer. É assim que ela entende a hospitalidade: como oferecer algo. 
Maria acolhe Jesus na condição de discípula, daquela que valoriza não tanto o que tem a oferecer, mas aquilo que o hóspede quer partilhar; por isso o escuta (E). Acolher o hóspede, no conceito de Maria, significa abrir espaço no coração para ouvir o que ele tem a dizer; estar disponível para ouvir, escutar. Marta entende por acolhimento oferecer algo; Maria entende o acolhimento como escuta de quem quer partilhar a vida. Quando Marta e Maria convivem na mesma pessoa tem-se um acolhimento ideal.
 Em todos os seus encontros, Jesus manifesta total disponibilidade para cada um, como se a pessoa encontrada fosse única no mundo. Ele quer dar-Se a Si próprio, porque o seu Pai Se dá primeiro a Ele. Assim, reservar tempo para escutar a Palavra, para nos retirarmos no segredo do nosso coração e para rezar, não é perder tempo. É enraizar a nossa ação no único "terreno" capaz de a vivificar verdadeiramente, para que ela dê fruto na vida eterna. Não é preciso opor Marta e Maria, mas uni-las, vivificar o serviço de uma pela escuta atenta da outra. O tempo do verão é propício para nos convidar a viver a esta luz...