quinta-feira, abril 28, 2022

FESTA DA DIVINA MISERICÓRDIA





10 coisas que deve saber sobre o Domingo da Misericórdia

 

1. O Domingo da Misericórdia se baseia em revelações privadas

Esta celebração acontece no segundo Domingo da Páscoa. Baseia-se nas revelações privadas a Santa Faustina Kowalska, religiosa polonesa que recebeu as mensagens de Jesus sobre sua Divina Misericórdia no povoado de Plock, na Polônia.

2. Faz parte do calendário da Igreja por ação de São João Paulo II

No ano 2000, o Papa João Paulo II canonizou Santa Faustina e, durante a celebração, declarou: “É importante, então, que acolhamos inteiramente a mensagem que nos vem da palavra de Deus neste segundo Domingo de Páscoa, que de agora em diante na Igreja inteira tomará o nome de ‘Domingo da Divina Misericórdia’” (Homilia, 30 de abril de 2000).

3. Esta revelação privada tem efeitos válidos na liturgia

Em seu comentário teológico sobre a mensagem de Fátima, o então Cardeal Joseph Ratzinger, agora Papa Emérito Bento XVI, escreveu: “Podemos acrescentar que frequentemente as revelações privadas provêm da piedade popular e nela se refletem, dando-lhe novo impulso e suscitando formas novas. Isto não exclui que aquelas tenham influência também na própria liturgia, como o demonstram por exemplo a festa do Corpo de Deus e a do Sagrado Coração de Jesus”.

4. A Igreja convida a celebrar a Divina Misericórdia de várias formas

Entre outras coisas, oferece uma indulgência plenária: “Para fazer com que os fiéis vivam com piedade intensa esta celebração, o mesmo Sumo Pontífice (João Paulo II) estabeleceu que o citado Domingo seja enriquecido com a Indulgência Plenária”, “para que os fiéis possam receber mais amplamente o dom do conforto do Espírito Santo e desta forma alimentar uma caridade crescente para com Deus e o próximo e, obtendo eles mesmos o perdão de Deus, sejam por sua vez induzidos a perdoar imediatamente aos irmãos” (Decreto da Penitenciaria Apostólica de 2002).

5. A imagem da Divina Misericórdia foi revelada pelo próprio Jesus

Esta imagem foi revelada a Santa Faustina em 1931 e o próprio Jesus lhe pediu que a pintasse. Em seguida, explicou-lhe seu significado e o que os fiéis alcançarão com ela.

Na maioria das versões, Jesus se mostra levantando sua mão direita em sinal de bênção e apontando com sua mão esquerda o peito do qual fluem dois raios: um vermelho e outro branco.

“O raio pálido significa a Água que justifica as almas; o raio vermelho significa o Sangue que é a vida das almas (...) Feliz aquele que viver à sua sombra, porque não será atingido pelo braço da justiça de Deus” (Diário, 299).

Toda a imagem é um símbolo da caridade, do perdão e do amor de Deus, conhecida como a “Fonte da Misericórdia”.

6. Esta devoção conta com orações particulares

O Terço da Divina Misericórdia é um conjunto de orações usadas como parte da devoção à Divina Misericórdia.

Costuma-se rezá-lo às 15h(momento da morte de Jesus), usando as contas do terço, mas com um conjunto diferente de orações.  Primeiramente, reza-se o Pai Nossa, a Ave Maria e o Credo.

Depois, nas contas do ‘Pai Nosso’, diz-se: “Eterno Pai, eu Vos ofereço o Corpo e Sangue, Alma e Divindade de Vosso diletíssimo Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, em expiação dos nossos pecados e do mundo inteiro”.

E nas contas da ‘Ave Maria’, reza-se: “Pela Sua dolorosa Paixão, tende misericórdia de nós e do mundo inteiro”.

Ao final, deve-se rezar três vezes: “Deus Santo, Deus Forte, Deus Imortal, tende piedade de nós e do mundo inteiro”.

7. A Divina Misericórdia está vinculada ao Evangelho do segundo Domingo da Páscoa

A imagem da Divina Misericórdia representa Jesus no momento em que aparece aos discípulos no Cenáculo – após a ressurreição –, quando lhes dá o poder de perdoar ou reter os pecados.

Este momento está registrado em João 20,19-31, que é a leitura do Evangelho deste domingo.

A leitura é colocada neste dia porque inclui a aparição ao apóstolo Tomé (quando Jesus o convida a tocar suas chagas). Este evento ocorreu no oitavo dia depois da Ressurreição (João 20,26) e, por isso, é utilizado na liturgia oito dias depois da Páscoa.

8. Os sacerdotes têm um poder especial para administrar a Divina Misericórdia

Em João 20,21-23, afirma-se: “Novamente, Jesus disse: ‘A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou, também eu vos envio’. E, depois de ter dito isso, soprou sobre eles e disse: ‘Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem os não perdoardes, eles lhes serão retidos’”.

9. A confissão é a ação da Divina Misericórdia até o fim dos tempos

Jesus capacitou os apóstolos (e seus sucessores no ministério) com o Espírito Santo para perdoar ou reter (não perdoar) os pecados.

Como estão facultados com o Espírito de Deus para fazer isso, sua administração do perdão é eficaz: realmente elimina o pecado em vez de ser um símbolo de perdão.

10. Nas revelações privadas, Jesus dá suma importância a sua Segunda Vinda

Jesus promete regressar em glória para julgar o mundo no amor, como claramente diz em seu discurso do Reino nos capítulos 13 e 25de São Mateus.

Somente no contexto de uma revelação pública como é ensinado pelo Magistério da Igreja se pode situar as palavras da revelação privada dada a Irmã Faustina.

“Prepararás o mundo para a minha última vinda” (Diário, 429).

“Fala ao mundo da Minha misericórdia, que toda a humanidade conheça a Minha insondável misericórdia. Este é o sinal para os últimos tempos; depois dele virá o dia da justiça. Enquanto é tempo, recorram à fonte da Minha misericórdia” (Diário, 848).

“Fala às almas desta Minha grade misericórdia, porque está perto o dia terrível, o dia da Minha justiça” (Diário, 965).

“Prolongo-lhes o tempo da Misericórdia, mas ai deles, se não reconhecerem o tempo da Minha visita” (Diário, 1160).

“Antes do Dia da justiça envio o dia da misericórdia” (Diário, 1588).

“Quem não queira passar pela porta de Minha misericórdia, tem que passar pela porta de Minha justiça” (Diário, 1146).

 

Fonte: acidigital


segunda-feira, abril 25, 2022

II DOMINGO DA PÁSCOA





II DOMINGO DA PÁSCOA

24 de abril de 2022

 

Paróquia São Conrado




O Evangelho de João descreve com traços obscuros a situação da comunidade cristã quando em seu centro falta Cristo ressuscitado. Sem sua presença viva, a Igreja se converte num grupo de homens e mulheres que vivem "numa casa com as portas fechadas, por medo dos judeus".

Com as "portas fechadas" não se pode ouvir o que acontece lá fora. Não é possível captar a ação do Espírito no mundo. Não se abrem espaços de encontro e diálogo com ninguém. Apaga-se a confiança no ser humano e crescem os receios e preconceitos. Mas uma Igreja sem capacidade de dialogar é uma tragédia, pois os seguidores de Jesus são chamados a atualizar o eterno diálogo de Deus com o ser humano.

O "medo" pode paralisar a evangelização e bloquear nossas melhores energias. O medo nos leva a rejeitar e condenar. Com medo não é possível amar o mundo. Mas, se não o amamos, não o olhamos como Deus o olha. E, se não o olhamos com os olhos de Deus, como comunicaremos a Boa Notícia?

Se vivemos com as portas fechadas, quem deixará o redil para buscar as ovelhas perdidas? Quem se atreverá a tocar algum leproso excluído? Quem se sentará à mesa com pecadores ou prostitutas? Quem se aproximará dos esquecidos pela religião? Os que querem buscar o Deus de Jesus nos encontrarão com as portas fechadas.

Nossa primeira tarefa é deixar entrar o Ressuscitado através de tantas barreiras que levantamos para defender-nos do medo. Que Jesus ocupe o centro de nossas igrejas, grupos e comunidades. Que só Ele seja fonte de vida, de alegria e de paz. Que ninguém ocupe seu lugar, que ninguém se aproprie de sua mensagem. Que ninguém imponha um modo diferente do seu.

Já não temos mais o poder de outros tempos. Sentimos a hostilidade e a rejeição em nosso entorno. Somos frágeis. Mais do que nunca, precisamos abrir-nos ao sopro do Ressuscitado para acolher seu Espírito Santo.



terça-feira, abril 19, 2022

RESSUREIÇÃO DO SENHOR





1 - O que as surpresas fazem conosco

O que as surpresas fazem em nossas vidas? Existem várias reações diante das surpresas; todas em situações emocionais. As surpresas nos emocionam de espanto, seja diante do sofrimento ou diante da alegria. Existem surpresas que nos fazem chorar ou gritar de dor, e surpresas que nos fazem sorrir, gritar de alegria. O relato da Ressurreição de Jesus, que ouvimos no Evangelho, descreve uma mesma reação de surpresa, nas mulheres e nos Apóstolos: a corrida. Ficaram tão emocionados, tomados pela emoção do espanto, que reagiram pela atitude: correram até a sepultura. Esta é a primeira reação que todos nós somos convidados a ter diante da notícia da Ressurreição: correr ao encontro da Ressurreição. Falo da corrida existencial, no sentido de colocar nossas vidas em estradas que conduzem à Ressurreição de Jesus. É no encontro com a luz da Ressurreição que a surpresa causará em nós a emoção da alegria, porque a Ressurreição é o grande grito da alegria divina em todo o universo.

 

 2 - Quem vai rolar a pedra do sepulcro

Uma corrida ou caminhada colocam exigências cansativas em nossas vidas, dependendo do preparo de cada um; e isso vale também para a caminhada espiritual. Alguns de nós se cansam no caminho da espiritualidade e preferem alimentar suas vidas na superficialidade das redes sociais. No decorrer da corrida — ou da caminhada, se preferirem — surgem perguntas. Quem faz caminhadas em silêncio sabe que enquanto as pernas se movimentam, a cabeça funciona e, na maior parte das vezes fazem perguntas, aparecem projetos e surgem decisões. O mesmo aconteceu com as mulheres naquela caminhada da madrugada até o sepulcro. Pensavam: quem vai retirar a pedra do sepulcro? A resposta: Deus. Sim, Deus retira a pedra, Deus retira o nosso pecado, Deus acolhe o sacrifício do Cordeiro Pascal, seu Filho Jesus, — como iremos proclamar no Prefácio da Oração Eucarística — para retirar a pedra do pecado do mundo. É Deus que retira a pedra do pecado para entrarmos no espaço iluminado com a luz da Ressurreição de Jesus. O único esforço que Deus pede é aquele de caminhar até a Ressurreição e entrar para surpreender-se com a maravilha da sua vida.

 

 3 - É possível compreender a Ressurreição

Depois do esforço da caminhada ou da corrida, depois das perguntas que colocamos sobre nossas vidas, resta ainda um terceiro momento: como compreender a Ressurreição? João corre mais depressa que todos e chega primeiro. Não entra; dá uma espiada dentro da sepultura vazia, e espera Pedro, que recebeu a função de ser "pedra", fundamento da Igreja. Espera que a Igreja (Pedro) entre e testemunhe a Ressurreição. Depois João entra com Pedro e com as mulheres. João diz que eles analisaram o ambiente: faixas de linho jogadas no chão, o pano enrolado e colocado num lugar seguro. Tudo ali falava de Ressurreição. Mas como compreender isso? João responde que só é possível crer compreendendo a Escritura. Existe um caminho existencial na busca da Ressurreição, existe a parte divina que tira a pedra do pecado do mundo na busca da Ressurreição, e existe a possibilidade de compreender a Ressurreição: iluminando a vida com a Escritura, com o Evangelho que anuncia: o Senhor verdadeiramente ressuscitou. Aleluia. Feliz Páscoa.








segunda-feira, abril 18, 2022

VIGÍLIA DA PÁSCOA





1 - Alegria de proclamar a Ressurreição de Jesus

Com muita alegria, acolho você, sua família; acolho toda comunidade que juntos e alegremente celebramos a Páscoa de Jesus Cristo. Desejo a você, à sua família e a toda nossa comunidade, votos de feliz e santa Páscoa. Hoje, celebramos a maior de todas as celebrações da Igreja. Celebramos alegre e solenemente a Ressurreição de Jesus. Isto é motivo para não ter medo de testemunhar a Ressurreição do Senhor. Tantas vezes, nós deixamos de testemunhar a Ressurreição, não por falta de argumentos, mas pela ausência de uma experiência com a Ressurreição. Hoje, proclamamos que não morreremos, porque Cristo ressuscitado nos libertou da morte. São Paulo dizia que pelo Batismo fomos mergulhados na Ressurreição de Jesus, não para receber o título de cristãos, mas para vivermos na estrada do Evangelho, que é o caminho da ressurreição.

2 - Experiência de ressurreição

As mulheres fazem este caminho na escuridão da madrugada, envolvidas pela escuridão da morte, e se deparam com o clarão luminoso da Ressurreição de Jesus. O primeiro momento da experiência da Ressurreição é o encontro com Jesus ressuscitado. Os dois anjos orientam as mulheres a não procurar Jesus entre os mortos. Ele desceu à mansão da morte, mas lá não permaneceu. O lugar de Jesus, o local onde nos encontramos com Jesus, é onde existe vida. Nós nos encontramos com Deus onde existe a abundância da vida. A experiência da ressurreição para muitos ainda está no caminho escuro de madrugadas existenciais. Mesmo que tenhamos sido batizados e ressuscitados com Jesus, insistimos numa religião feita de pequenos ritos, de algumas rezas. Sim, não nego que seja importante, mas precisamos mais que isso. Precisamos contaminar a sociedade com a Ressurreição de Jesus, iluminar tudo com a luz da Ressurreição de Jesus. Para isso, é necessário ter um encontro com o Senhor em locais onde a vida nasce e canta de alegria. Nestes locais acontece a surpresa de quem se encontra com o Ressuscitado, como aconteceu com a mulheres.

3 - Testemunhas da Ressurreição

Nós que trazemos o brilho, que trazemos a energia luminosa da Ressurreição de Jesus, testemunhamos a Ressurreição pelo serviço fraterno do lava-pés, pela doação de nossas vidas para construir a paz, favorecer a justiça, criar relacionamentos marcados pela misericórdia e pela bondade.  A ressurreição é diferente de um ressuscitamento. Jesus ressuscitou algumas pessoas e depois elas voltaram a morrer. A Ressurreição é tomar posse de uma vida nova, de uma vida diferente; tomar posse de uma vida imortal; que não morrerá jamais. É assim que proclamamos a Ressurreição: iluminando a vida com a força da Páscoa, colocando-nos fraternalmente a serviço da vida, doando nossas vidas para que os valores do Evangelho frutifiquem em vida plena, em vida digna. Hoje, recebemos o compromisso proposto por esta solene celebração da Vigília Pascal para fazer a mesma experiência das mulheres: colocar-se no caminho escuro, proporcionado tantas vezes pela nossa dificuldade na fé, e procurar o Senhor, não mais entre os mortos, mas onde a vida é capaz de ressuscitar e, especialmente, onde a vida brilha em todo seu esplendor. Feliz Páscoa. Aleluia, aleluia!










sábado, abril 16, 2022

PAIXÃO DO SENHOR






A luz da fidelidade, celebrada e refletida mistagogicamente na Semana Santa, contempla a Cruz de Jesus Cristo como momento glorificador da vida do Senhor ao Pai. É o sacramento, a expressão mais profunda e mais elevada de fidelidade à missão que Jesus recebera do Pai. Na dimensão da fidelidade, a Cruz não se caracteriza como castigo, mas como meio para que oferenda da vida ao Pai aconteça de modo perfeito.

A fidelidade de Jesus Cristo é fidelidade à missão de Deus para este mundo e para com a humanidade. Isto exigiu dele a necessidade de superar tudo, principalmente a terrível provação de ser abandonado por todos, inclusive por Deus (SR e E). Se diante do mundo ele era visto como fracassado, sua fidelidade ao projeto divino o descrevia como "servo bem-sucedido" que receberá o reconhecimento divino (1L): não permanecerá na morte.

A 2ª leitura apresenta o motivo e o resultado da fidelidade de Jesus ao Pai. Pela fidelidade confiante ao Pai, dirigiu súplicas em favor da sua vida, da vida humana, e foi atendido com a graça da salvação divina. A morte de Jesus na Cruz é uma oração corporal, pela qual ele dirige suas preces e súplicas ao Pai, tornando-se assim “causa de salvação eterna para todos que o obedecem” (2L). A Liturgia põe na boca de Jesus toda confiança pela sua fidelidade à missão de Deus a ser realizada por ele na terra (SR).

Na Teologia da Paixão de Jesus, narrada sobriamente por João (E), o evangelista não traça o caminho de Jesus até o Calvário, como fazem os sinóticos, mas o caminho de Jesus para a glória, fruto da fidelidade obediente ao Pai, manifesta de modo pleno no altar da Cruz; momento no qual entrega tudo, até mesmo seu Espírito (E). Por esse comportamento Jesus (e toda a humanidade) recebe a recompensa divina: a libertação da morte (2L) realizada plenamente na Ressurreição.

Refletir a Cruz e a Paixão de Jesus iluminando-as pela fidelidade do Senhor à missão de Deus na terra, oferece a oportunidade de celebrar a Sexta-feira Santa não com dolorismo, mas com a necessidade de um coração agradecido, repleto de gratidão pelo que Senhor fez em favor de toda a humanidade.

 

Atitude de fidelidade do discípulo e discípula

A atitude própria do discípulo e discípula amados, que na Cruz de Jesus eram Maria e João, consiste em ficar de pé junto à Cruz (E). O ficar de pé dos discípulos e discípulas é uma profissão de fé — uma manifestação de fidelidade — diante de um quadro de falência do projeto do Mestre. Ficar de pé é permanecer crendo que a morte de Jesus não é um castigo divino, mas a expressão mais profunda da fidelidade que ele pode demonstrar ao Pai. A confirmação disso encontra-se na Ressurreição.

A atitude do discípulo e discípula amados de Jesus, espelhados em Maria e João, manifesta a fortaleza da fé, da confiança que caracteriza a fidelidade nas promessas divinas. Não se exclui os sentimentos de dor, e até mesmo de raiva, próprios da natureza humana, mas estes favorecem compreender a fortaleza interior de quem sabe onde e em quem deposita sua fidelidade. De modo muito expressivo, a poesia do salmo responsorial, na última estrofe, convida os celebrantes a confiar serenamente na promessa divina para nela fortalecer seus corações com a coragem de quem não abandona a fidelidade nem mesmo debaixo da Cruz.

Do ponto de vista da fidelidade extrema ao Pai, expressa por Jesus na Cruz, a Liturgia propõe no salmo responsorial (Sl 30) a espiritualidade humanizada do Coração de Jesus. Na primeira parte, o salmista revela a fraqueza do seu coração, o temor de ser envergonhado, desprezado, zombado, rejeitado e esquecido até mesmo pelos seus amigos. É o retrato da espiritualidade sem a confiança em Deus, descrita pela Psicologia como trauma ou ansiedade social, sintomas próprios de quem teme ser esquecido por todos, até mesmo por Deus. Em tudo isso se manifesta a humanidade de Jesus.

As duas últimas estrofes cantam a espiritualidade de quem coloca sua confiança em Deus, de quem coloca a vida e o destino nas mãos de Deus. É a espiritualidade da confiança que busca a face serena de Deus, capaz de produzir a paz interior e fortalecer o espírito diante de qualquer ameaça, mesmo que seja contra a vida.











sexta-feira, abril 15, 2022

MISSA VESPERTINA DA CEIA DO SENHOR







Quando Jesus pediu que seus discípulos preparassem a sala para celebrar a sua Páscoa (Mt 26,15-20) não colocou pão e vinho sobre a mesa para ser adorado, mas para comungar com eles um pacto de fidelidade em vista da sua missão evangelizadora e salvadora. Participar da Eucaristia, desde a primeira ceia pascal celebrada com Jesus, é assumir o compromisso de renovar a fidelidade ao projeto divino presente no Evangelho. Mesmo que milagres aconteçam na Eucaristia, a finalidade da ceia derradeira de Jesus com seus discípulos não se caracteriza como "festinha de despedida" ou um “banquete de adeus”, mas como participação e comunhão no projeto divino, presente na evangelização. Quem participa e comunga a Eucaristia compromete-se em viver e testemunhar a fidelidade ao Evangelho no modo de pensar, no modo de agir, no modo de se comportar.

Hoje, somos desafiados a considerar, não somente como celebramos a Eucaristia, mas principalmente como vivemos a Eucaristia. As infidelidades mais graves para com a Eucaristia não estão nas falhas rituais, mas na infidelidade para com o projeto divino comungado e participado na Eucaristia. A expressão pode soar agressiva para nossa sensibilidade histórica atual, mas a descrição da traição de Judas, da infidelidade de Judas, não mede palavras: a infidelidade é ação do diabo que comporta a traição e a entrega de Jesus à morte. Hoje, a infidelidade trai a evangelização e a condena à morte. As infidelidades, provocadas na incoerência entre o que se comunga e se participa na Eucaristia, são traições a Jesus e à sua missão evangelizadora. Muitos exigem "Missas bonitas" e até conseguimos realizar isso, mas de que vale uma Missa bonita se essa se limita a alguns momentos de emocionalidade religiosa e não provocam atitudes de fidelidade ao Evangelho no cotidiano? Não provocam transformações existenciais evangelizadas em nossa comunidade e na sociedade?

Muitas vezes, nós como Igreja, limitamos a Eucaristia unicamente ao preceito de Paulo, como ouvimos na 2ª leitura. Realizamos uma celebração e, para muitos celebrantes, infelizmente, a Missa termina com a bênção. Jesus desfaz essa concepção de Eucaristia limitada à celebração com o gesto do lava-pés. Do ponto de vista da Eucaristia, cuja instituição celebramos hoje, o serviço fraterno é uma resposta de fidelidade ao projeto divino, de fidelidade à missão evangelizadora de Jesus. A Eucaristia começa na celebração e continua com o lava-pés realizado de tantas formas e em todos os espaços onde somos chamados a testemunhar o Evangelho com nosso serviço. Um serviço que se ilumina na espiritualidade do amor, do Mandamento Novo, de amar-nos uns aos outros como Jesus nos amou. Não apenas amar por amar, mas amar como Jesus, quer dizer, vestindo na vida de cada um de nós o avental do serviço inspirado no Evangelho. Na vida cristã, a fidelidade ao Evangelho se traduz em serviço fraterno. A isso podemos chamar de “Eucaristia fraterna”; ação de graças pela fraternidade que é renovada em cada Eucaristia. Amém!

















quinta-feira, abril 14, 2022

A CRUZ E AS CRUZES







Estamos na Semana Santa, a mais importante do ano litúrgico, memória dos últimos acontecimentos da vida de Jesus, sua Paixão, Morte na Cruz e sua Ressurreição, a nossa Páscoa.

Nesses últimos tempos, em que todos temos sofrido por diversos modos, vale a pena refletir sobre o valor do sofrimento, inerente à nossa condição humana, preço da nossa finitude e, também, dos nossos pecados. Teremos uma luz especial contemplando o Calvário, teatro dos sofrimentos de Cristo, que abraçou a sua cruz por amor, exemplo de como devemos aceitar a nossa cruz e os nossos sofrimentos, por amor a Ele e ao nosso próximo.

No Calvário, havia três cruzes, porque Jesus foi crucificado entre dois ladrões (Mt 27, 38), para, como queriam seus inimigos, sua maior humilhação, cumprindo assim a profecia de Isaías (Is 53,12): “Ele foi contado entre os criminosos” (Lc 22,37).

Um dos ladrões crucificados com Jesus, Gestas, blasfemava contra Deus e injuriava a Jesus. Revoltado, não aceitou a sua cruz. E assim terminou muito mal os seus dias.

O outro ladrão, também crucificado, Dimas, repreendeu o seu companheiro: “‘Nem sequer temes a Deus, tu que sofres a mesma pena? Para nós, é justo sofrermos, pois estamos recebendo o que merecemos; mas ele não fez nada de mal’. E acrescentou: ‘Jesus, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino’. Ele lhe respondeu: ‘Em verdade te digo: hoje estarás comigo no paraíso’” (Lc 23 39-43).

Duas cruzes iguais, mas recebidas de modo diferente: um, revoltado; o outro, conformado, penitente, humilde: por isso ganhou o perdão de Jesus. Que maravilha essa misericórdia e esse perdão de Jesus! Esse ladrão, que agonizou e morreu ao seu lado, no Calvário, não era um dos seus amigos. Não viveu com Jesus, nem sequer o conhecia. Conheceu-o no julgamento, quando o viu flagelado e coroado de espinhos, proclamando que era Rei e que tinha um reino. E teve a coragem e a humildade de pedir, no Reino de Jesus, um lugar, que a sua misericórdia não teve coragem de lhe negar. Jesus demonstra aqui o que é o amor, a misericórdia e o perdão. Ele pediu uma lembrança e recebeu de Jesus a promessa do Paraíso. Que valor tem a oração acompanhada do sofrimento! Foi o primeiro santo canonizado em vida, por Jesus: São Dimas, o bom ladrão!

Na cruz onde pagava seus crimes, o Bom Ladrão praticou todas as virtudes: a Fé, reconhecendo em Jesus o Rei Messias, a humildade, confessando os próprios pecados que lhe fizeram merecer a morte de cruz, a caridade e o apostolado para com o outro ladrão, dando-lhe bons conselhos, a paciência e a oração, pedindo a Jesus que se lembrasse dele.

Mas a Cruz mais importante do Calvário é a de Jesus: nela nós encontramos todas as lições: “A alegria do amor, a resposta ao drama da tribulação e do sofrimento, a força do perdão face à ofensa recebida e a vitória da vida sobre o vazio da morte” (Bento XVI, Porta Fidei, 13).

 

Feliz Páscoa para todos, com a vitória de Jesus Ressuscitado!

 

 

Fonte: Dom Fernando Arêas Rifan


segunda-feira, abril 11, 2022

DOMINGO DE RAMOS





Como viveu Jesus? Qual sua atitude no momento da execução? Os evangelhos não se detêm a analisar seus sentimentos. Simplesmente lembram que Jesus morreu como havia vivido. Lucas, por exemplo, quis destacar a bondade de Jesus até o final, sua proximidade aos que sofrem e sua capacidade de perdoar.  De acordo com seu relato, Jesus morreu amando.

No meio da multidão que observa a passagem dos condenados a caminho da cruz, algumas mulheres se aproximam de Jesus chorando. Não podem vê-lo sofrer assim. Jesus "volta-se para elas" e as olha com a mesma ternura com as havia olhando sempre: "Não choreis por mim, chorai por vós e por vossos filhos".  Assim caminha Jesus para a cruz: pensando mais naquelas pobres mães do que em seu próprio sofrimento.

Faltam poucas horas para o final.  Da cruz só se ouvem os insultos de alguns e os gritos de dos justiçados. De repente, um deles se dirige a Jesus; "lembra-te de mim". A resposta de Jesus é imediata: "Ainda hoje estarás comigo no Paraíso". Ele sempre fez a mesma coisa: suprimir medos, infundir confiança em deus, transmitir esperança. E continua fazendo isso até o final. 

O momento de crucifixão é inesquecível. Enquanto os soldados o vão pregando no madeiro, Jesus diz: "Pai perdoa-lhes, porque não sabem o que estão fazendo". Assim é Jesus, assim viveu sempre: oferecendo aos pecadores o perdão do Pai, mesmo que não o mereçam. De acordo com Lucas, Jesus morre pedindo ao Pai que continue abençoando os que o crucificam, que continue oferecendo seu amor, seu perdão e sua paz a todos, inclusive aos que o estão matando.

DEUS ESTÁ NA CRUZ, NÃO NOS ACUSANDO DE NOSSOS PECADOS, MAS OFERECENDO-NOS SEU PERDÃO.









segunda-feira, abril 04, 2022

SEMANA SANTA 2022





SEMANA SANTA 2022

10/04 - Domingo de Ramos e da Paixão

9:30 Benção dos Ramos no jardim da igreja, Missa 10h

12h e 18h - Missas com distribuição dos Ramos abençoados

14/04 - 18h - Missa do Lava-pés e transladação do Santíssimo

15/04 - Sexta-feira da Paixão - 15h - Celebração da Paixão de Jesus

16/04 - Missa da vigília 17 h 30 min. (tragam sinetas)

17/04 - Missa da Páscoa de Jesus , Missas 10h, 12h e 18h

 

Paróquia São Conrado


V DOMINGO DA QUARESMA







Temos, portanto, diante de Jesus uma mulher que, de acordo com a Lei, tinha cometido uma falta que merecia a morte. Para os escribas e fariseus, trata-se de uma oportunidade de ouro para testar a ortodoxia de Jesus e a sua fidelidade às exigências da Lei; para Jesus, trata-se de revelar a atitude de Deus frente ao pecado e ao pecador.

Apresentada a questão, Jesus não procura branquear o pecado ou desculpabilizar o comportamento da mulher. Ele sabe que o pecado não é um caminho aceitável, pois gera infelicidade e rouba a paz… No entanto, também não aceita pactuar com uma Lei que, em nome de Deus, gera morte. Porque os esquemas de Deus são diferentes dos esquemas da Lei, Jesus fica em silêncio durante uns momentos e escreve no chão, como se pretendesse dar tempo aos participantes da cena para perceber aquilo que estava em causa. Finalmente, convida os acusadores a tomar consciência de que o pecado é uma consequência dos nossos limites e fragilidades e que Deus entende isso: “quem de vós estiver sem pecado, atire a primeira pedra”. E continua a escrever no chão, à espera que os acusadores da mulher interiorizem a lógica de Deus – a lógica da tolerância e da compreensão. Quando os escribas e fariseus se retiram, Jesus nem sequer pergunta à mulher se ela está ou não arrependida: convida-a, apenas, a seguir um caminho novo, de liberdade e de paz (“vai e não tornes a pecar”).

A lógica de Deus não é uma lógica de morte, mas uma lógica de vida; a proposta que Deus faz aos homens através de Jesus não passa pela eliminação dos que erram, mas por um convite à vida nova, à conversão, à transformação, à libertação de tudo o que oprime e escraviza; e destruir ou matar em nome de Deus ou em nome de uma qualquer moral é uma ofensa inqualificável a esse Deus da vida e do amor, que apenas quer a realização plena do homem.

O episódio põe em relevo, por outro lado, a intransigência e a hipocrisia do homem, sempre disposto a julgar e a condenar… os outros. Jesus denuncia, aqui, a lógica daqueles que se sentem perfeitos e auto-suficientes, sem reconhecerem que estamos todos a caminho e que, enquanto caminhamos, somos imperfeitos e limitados. É preciso reconhecer, com humildade e simplicidade, que necessitamos todos da ajuda do amor e da misericórdia de Deus para chegar à vida plena do Homem Novo. A única atitude que faz sentido, neste esquema, é assumir para com os nossos irmãos a tolerância e a misericórdia que Deus tem para com todos os homens.

Na atitude de Jesus, torna-se particularmente evidente a misericórdia de Deus para com todos aqueles que a teologia oficial considerava marginais. Os pecadores públicos, os proscritos, os transgressores notórios da Lei e da moral encontram em Jesus um sinal do Deus que os ama e que lhes diz: “Eu não te condeno”. Sem excluir ninguém, Jesus promoveu os desclassificados, deu-lhes dignidade, tornou-os pessoas, libertou-os, apontou-lhes o caminho da vida nova, da vida plena. A dinâmica de Deus é uma dinâmica de misericórdia, pois só o amor transforma e permite a superação dos limites humanos. É essa a realidade do Reino de Deus.