por Dom Fernando Arêas Rifan*
Nesta semana participei como palestrante do XV
Encontro de Formação Católica de Buenos Aires – em adesão ao Ano da Fé –
Tradição e Espiritualidade Católica, que ocorreu de 16 a 19 de novembro. Uma das minhas intervenções foi sobre
“A Espiritualidade de Santa Teresa e a tradição carmelitana”, que se baseia
especialmente na oração, princípio da santidade.
Em sua carta apostólica “Porta Fidei”, com a qual
proclama o Ano da Fé, o Santo Padre Bento XVI fala que “devemos readquirir o
gosto de nos alimentarmos da Palavra de Deus”, objetivo reforçado pelo Sínodo
dos Bispos, cujo tema foi “A Nova Evangelização para a transmissão da fé
cristã”: “descobrir novamente os conteúdos da fé professada, celebrada vivida e
rezada”.
Ao conceder as indulgências para o Ano da Fé, o
decreto da Penitenciaria Apostólica relembra que a Igreja deseja de nós a
santidade: "uma vez que se trata principalmente de desenvolver a
santidade de vida no mais alto grau possível nesta terra, e de conquistar assim
o mais alto grau de pureza da alma, será de muita valia o grande dom das
indulgências...”. Na “Porta Fidei”, o Papa ensina que no Catecismo da Igreja
Católica descobrimos principalmente não uma teoria, mas “o encontro com uma
Pessoa que vive na Igreja. Na verdade, a seguir à profissão de Fé, vem a
explicação da vida sacramental, na qual Cristo está presente e operante,
continuando a construir a sua Igreja. Sem a liturgia e os sacramentos, a
profissão de fé não seria eficaz, porque faltaria a graça que sustenta o
testemunho dos cristãos”.
A santidade depende da fé, e esta depende da oração,
da nossa contínua comunicação com Deus. A oração é a expressão e o sustento da
fé, da espiritualidade, da santidade.
Este foi o ensinamento do Beato João Paulo II: “Para
essa pedagogia da santidade, há a necessidade de um cristianismo que se
destaque principalmente pela arte da oração... A oração não se pode dar
por suposta; é necessário aprender a rezar... ‘Senhor, ensina-nos a orar’ (Lc
11,1). Na oração, desenrola-se aquele diálogo com Jesus que faz de nós seus
amigos íntimos... Não será porventura um sinal dos tempos que se verifique
hoje, não obstante os vastos processos de secularização, uma generalizada
exigência de espiritualidade, que em grande parte se exprime precisamente numa
renovada carência de oração?... A grande tradição mística da Igreja, tanto no
Oriente como no Ocidente, é bem elucidativa a tal respeito, mostrando como a
oração pode progredir, sob a forma de um verdadeiro e próprio diálogo de
amor... Como não mencionar aqui, entre tantos testemunhos luminosos, a doutrina
de são João da Cruz e de santa Teresa de Ávila? As nossas comunidades devem
tornar-se autênticas escolas de oração, onde o encontro com Cristo não se
exprima apenas em pedidos de ajuda, mas também em ação de graças, louvor,
adoração, contemplação, escuta, afetos de alma, até se chegar a um coração
verdadeiramente apaixonado. Uma oração intensa, mas sem afastar do compromisso
na história: ... abrir o coração ao amor dos irmãos” (Novo Millennio Inneunte, 32-33).
*Bispo da Administração Apostólica Pessoal
São João Maria Vianney