Homilia
do VI Domingo do Tempo Pascal de
Dom
Nelson Francelino Ferreira
Na liturgia deste domingo sobressai a promessa de
Jesus de acompanhar de forma permanente a caminhada da sua comunidade em marcha
pela história: não estamos sozinhos; Jesus ressuscitado vai sempre ao nosso lado.
Continuamos no contexto da “ceia de despedida”. Jesus,
que acaba de fundar a sua comunidade, dando-lhe por
estatuto o mandamento do
amor (Jo 13,1-17;13,33-35), vai agora explicar como é que essa comunidade
manterá, após a sua partida, a relação com Ele e com o Pai.
Nos versículos anteriores ao texto que nos é
proposto,
Jesus apresentou-Se como “o caminho” (Jo 14,6) e convidou os discípulos a percorrer esse mesmo “caminho” ( Jo 14,4-5).
Jesus apresentou-Se como “o caminho” (Jo 14,6) e convidou os discípulos a percorrer esse mesmo “caminho” ( Jo 14,4-5).
O que é que isso significa? Jesus, enquanto esteve
no mundo, percorreu um “caminho” – o da entrega ao homem, o do serviço, o do
amor total;é nesse “caminho que o homem”
– o Homem Novo que
Jesus veio criar – se realiza. A comunidade de Jesus tem, portanto, que
percorrer esse “caminho”.
A metáfora do “caminho” expressa o dinamismo da
vida que é progressão; percorrê-lo, é alcançar a plena maturidade do Homem
Novo, do homem que desenvolveu todas as suas potencialidades, do homem recriado
para a vida definitiva.
O final desse “caminho” é o amor radical, a
solidariedade total com o homem. Nesse “caminho”, encontra-se o Pai. Os
discípulos, no entanto, estão inquietos e desconcertados. Será possível
percorrer esse “caminho” se Jesus não caminhar ao lado deles?
Como é que eles manterão a comunhão com Jesus e como
receberão dele a força para doar, dia a dia, a própria vida?
Para seguir esse “caminho” é preciso amar Jesus
e guardar a sua Palavra (cf. Jo 14,23). Quem ama Jesus e O escuta,
identifica-se com Ele, isto é, vive como Ele, na entrega da própria vida em
favor do homem…
Para que os discípulos possam continuar a
percorrer esse “caminho” no tempo da Igreja, o Pai enviará o “paráclito”, isto
é, o Espírito Santo (vers. 25-26). Trata-se, portanto, de uma presença
dinâmica, que auxiliará os discípulos trazendo-lhes continuamente à memória os
ensinamentos de Jesus e ajudando-os a ler as propostas de Jesus à luz dos novos
desafios que o mundo lhes colocar.
O Espírito garante que o cristão possa continuar a
percorrer esse “caminho” de amor e de entrega, unido a Jesus e ao Pai.
A última parte do texto que nos é proposto contém a
promessa da “paz”. Aqui O que Jesus pretende é inculcar nos
discípulos apreensivos a serenidade e evitar-lhes o temor.
São palavras destinadas a tranquilizar os discípulos
e a assegurar-lhes que os acontecimentos que se aproximam não porão fim à
relação entre Jesus e a sua comunidade.
As últimas palavras referidas por este texto (vers. 28-29) sublinham que a ausência de Jesus não é definitiva, nem sequer prolongada. De resto, os discípulos devem alegrar-se, pois a morte
não é uma tragédia sem sentido, mas a manifestação suprema do amor de Jesus
pelo Pai e pelos homens.
Portanto, falar do “caminho” de Jesus é falar de uma
vida gasta em favor dos irmãos, numa doação total e radical, até à morte.
Os discípulos são convidados a percorrer, com Jesus,
esse mesmo “caminho”. Paradoxalmente, dessa entrega (dessa morte para si mesmo)
nasce o Homem Novo, o homem na plenitude das suas possibilidades, o homem que
desenvolveu até ao extremo todas as suas potencialidades.