Nasceu no ano 1090 perto de Dijon (França) e recebeu
uma piedosa educação. Admitido, no ano 1111, entre os Monges Cistercienses, foi
eleito, pouco tempo depois, abade do mosteiro de Claraval. Com a sua atividade
e exemplo exerceu uma notável influência na formação espiritual dos seus irmãos
religiosos.
Em 1115, Saõ Estevão Harding (cofundador da Ordem Cisterciense) envia o jovem à frente
de um grupo de monges para fundar uma nova casa cisterciense no vale
de Langres, em Ville-sous-la-Ferté. A fundação é chamada "Vale
Claro", ou Clairvaux – Claraval. Bernardo é nomeado abade desta nova
abadia, e confirmado por Guilherme de Champeux, bispo de Châlons e
célebre teólogo.
Os primórdios de Claraval são difíceis: a disciplina
imposta por São Bernardo é bastante severa. Bernardo busca formação na Bíblia e
nos Padres da Igreja. Ele tem uma predileção quase exclusiva pelo Cântico
dos Cânticos e por Santo Agostinho. O livro e o autor correspondem às
tendências da época.
Muitas pessoas afluem à nova abadia e Bernardo acaba
de converter toda sua família: seu pai, Tescelin, e seus cinco irmãos
tornam-se monges em Claraval. Sua irmã, Umbelina, toma igualmente o hábito no priorado de
Jully-les-Nonnains.
A partir de 1118, novas casas são fundadas (a
exemplo da Abadia Nossa Senhora de Fontenay, para evitar a superlotação de
Claraval.
Em 1119, Bernardo faz parte do Capítulo
Geral dos Cistercienses convocado por Estevão Harding, que dá
sua forma definitiva à Ordem. A Carta da Caridade, que é então redigida, é
confirmada pouco depois pelo papa Calixto II.
É nesta época que Bernardo escreve suas primeiras
obras, tratados e homilias e, sobretudo, uma Apologia, escrita a
pedido de Guilherme de Saint-Thierry, que defende os beneditinos brancos
(os cistercienses segundo a cor de seu hábito) contra os beneditinos negros (cluniacenses). Pedro,
o Venerável, abade de Cluny, lhe responde amigavelmente, e apesar de suas
diferenças ideológicas, os dois homens tornam-se amigos.
Envia igualmente numerosas cartas para incentivar à reforma o
resto do clero, em particular os bispos. Sua carta ao arcebispo
de Sens, Henrique de Boisrogues chamada mais tarde de De
Officiis Episcoporum (Da conduta dos Bispos) é reveladora do importante
papel dos monges no século XII, e das tensões entre o clero regular e secular.
Em 1128, Bernardo participa do concílio de
Troyes, convocado pelo papa Honório II e presidido por Matthieu
d’Albano, legado do papa. Bernardo é nomeado secretário do concílio, mas
ao mesmo tempo é contestado por uma parte do clero, que pensa que, por ser
monge, se intrometia em coisas que não são lhe concerniam. Ele termina por se
desculpar, mas o concílio é fortemente influenciado por sua atuação. É durante
este concílio que Bernardo consegue o reconhecimento para a Ordem do
Templo, os Templários, cujos estatutos são delineados por ele mesmo.
Torna-se uma personalidade importante e respeitada na Cristandade;
ele intervém em assuntos públicos, defende os direitos da Igreja contra os príncipes
seculares e aconselha papas e reis.
Em 1151, dois anos antes de sua morte, existem
500 abadias cistercienses. Havia 700 monges ligados a Claraval.
Bernardo morre em 1153 com 63 anos.
Foi canonizado em 18 de junho de 1174 por Alexandre
III e declarado Doutor da Igreja por Pio VIII em 1830.
É comemorado no dia 20 de agosto.
"O AMOR BASTA-SE A SI MESMO, EM SI E POR SUA CAUSA ENCONTRA SATISFAÇÃO. É SEU MÉRITO, SEU PRÊMIO. ALÉM DE SI MESMO, O AMOR NÃO EXIGE MOTIVO NEM FRUTO. SEU FRUTO É O PRÓPRIO ATO DE AMAR".
"O AMOR BASTA-SE A SI MESMO, EM SI E POR SUA CAUSA ENCONTRA SATISFAÇÃO. É SEU MÉRITO, SEU PRÊMIO. ALÉM DE SI MESMO, O AMOR NÃO EXIGE MOTIVO NEM FRUTO. SEU FRUTO É O PRÓPRIO ATO DE AMAR".
Dos
Sermões sobre o Cântico dos Cânticos, de São Bernardo, abade
AMO
PORQUE AMO, AMO PARA AMAR
O amor basta-se a si mesmo, em si e por
sua causa encontra satisfação. É seu mérito, seu próprio prêmio. Além de si
mesmo, o amor não exige motivo nem fruto. Seu fruto é o próprio ato de amar.
Amo porque amo, amo para amar. Grande coisa é o amor, contanto que vá a seu
princípio, volte à sua origem, mergulhe em sua fonte, sempre beba donde corre
sem cessar. De todos os movimentos da alma, sentidos e afeições, o amor é o
único com que pode a criatura, embora não condignamente, responder ao Criador
e, por sua vez, dar-lhe outro tanto. Pois quando Deus ama não quer outra coisa
senão ser amado, já que ama para ser amado; porque bem sabe que serão felizes
pelo amor aqueles que o amarem.
O amor do Esposo, ou melhor, o
Esposo-Amor somente procura a resposta do amor e a fidelidade. Seja permitido à
amada corresponder ao amor! Por que a esposa e esposa do Amor não deveria amar?
Por que não seria amado o Amor?
É justo que, renunciando a todos os
outros sentimentos, única e totalmente se entregue ao amor, aquela que há de
corresponder a ele, pagando amor com amor. Pois mesmo que se esgote toda no
amor, que é isto diante da perene corrente do amor do outro? Certamente não
corre com igual abundância o caudal do amante e do Amor, da alma e do Verbo, da
esposa e do Esposo, do Criador e da criatura; há entre eles a mesma diferença
que entre o sedento e a fonte.
E então? Desaparecerá por isto e se
esvaziará de todo a promessa da desposada, o desejo que suspira, o ardor da que
a ama, a confiança da que ousa, já que não pode de igual para igual correr com
o gigante, rivalizar a doçura com o mel, a brandura com o cordeiro, a alvura
com o lírio, a claridade com o sol, a caridade com aquele que é a caridade?Não.
Mesmo amando menos, por ser menor, se a criatura amar com tudo o que é, haverá
de dar tudo. Por esta razão, amar assim é unir-se em matrimônio, porque não
pode amar deste modo e ser menos amada, de sorte que no consenso dos dois haja
íntegro e perfeito casamento. A não ser que alguém duvide ser amado primeiro e
muito mais pelo Verbo.
(Sermo
83,4-6: Opera omnia, Edit. Cisterc. 2[1958], 300-302) Séc.XII
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