O LARGO ESPAÇO CONCEDIDO POR TODOS OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO À DRA. ZILDA ARNS SÃO MAIS DO QUE SUFICIENTE PARA SE TER UMA IDÉIA DO QUE ELA REPRESENTOU PARA O RESGATE DAS CRIANÇAS POBRES E IDOSOS.
Por isso mesmo nos ateremos a uma análise do último
parágrafo do que deveria ter sido o fecho de sua palestra no Haiti. Esse
parágrafo é de uma densidade tal que se constitui num roteiro para os que se
propõem a colaborar na construção de uma paz verdadeira. Talvez não seja
exagero dizer que Deus a inspirou quando escreveu o parágrafo que segue, para
que fosse seu testamento, um legado para todos.
"A construção da paz começa no
coração das pessoas e tem seu fundamento no amor, que tem suas raízes na
gestação e na primeira infância e se transforma em fraternidade e
responsabilidade social. A paz é uma conquista coletiva. Tem lugar quando
encorajamos as pessoas, quando promovemos os valores culturais e éticos, as
atitudes e práticas do bem comum".
A igreja em ruínas Sacré
Coeur de Tugeau, em Porto Príncipe, onde estava a doutora Zilda Arns, no meio
do terremoto, da poeira, das ruínas, da dor e do sofrimento, a Cruz permaneceu
de pé.
Dra. Zilda Arns Neumann, era médica pediatra e
sanitarista, fundadora e coordenadora internacional da Pastoral da Criança, fundadora e coordenadora nacional da Pastoral da Pessoa Idosa,
organismos de ação social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Dra. Zilda Arns foi representante titular da CNBB, do Conselho Nacional de Saúde e membro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES).
Na Pastoral da Criança estima que cerca
de 2 milhões de crianças e mais de 80 mil gestantes sejam acompanhadas todos os
meses pela entidade em ações básicas de saúde, nutrição, educação e cidadania.
Zilda Arns dedicou-se aos menos favorecidos e mostrou,
com seu programa contra a mortalidade infantil, que era possível desenvolver
projetos sociais eficazes, fazendo muito com tão pouco.
Em 2004, dra Zilda criou a Pastoral da Pessoa Idosa,
hoje integrada por milhares de homens e mulheres com mais de 60 anos de idade,
rejuvenescidos por descobrirem que velhice não é doença nem ociosa espera da
morte.
Com a mansidão de sua voz e sua clara opção inspirada
no Evangelho a Dra. Zilda deixou um legado de extrema atualidade. Ela bem sabia
o que acontece com os que constroem sobre a areia. Esse é seu testamento:
construir sobre a rocha dos valores que se encontram tão bem expressos no
Sermão da Montanha.
O processo de beatificação da médica pediatra e
sanitarista Zilda Arns Neumann será aberto em 2015, anunciou o
Arcebispo da Paraíba, Dom Aldo Di Cillo Pagotto, Presidente do Conselho Diretor
da Pastoral da Criança, durante o congresso nacional da entidade encerrado no
último dia 2, em Aparecida.
Fundadora da Pastoral da Criança e da Pastoral da
Pessoa Idosa, Dra. Zilda morreu em missão, vítima do terremoto que assolou o
Haiti, em 2010. O pleito pela beatificação e santificação não pode ser
apresentado antes dos primeiros cinco anos de sua morte, esclareceu o bispo que
já convidou os participantes do congresso e voluntários de todo o país para a
peregrinação a Curitiba, que vai marcar em 2015 a abertura da causa.
A introdução ao processo de beatificação não é tão
complicada ou difícil como se pensa, observou Dom Aldo. — Como grupo somos mais de 200 mil voluntários na
Pastoral da Criança, além de bispos e padres. Há o desejo de que as virtudes de
Dra. Zilda sejam reconhecidas, um pleito que terá fácil aprovação e aplauso,
disse ele.
A beatificação é um ato jurídico canônico pelo qual o
Papa, pela autoridade que exerce na Igreja, declara beato um servo de Deus que,
após sua morte, sempre foi conceituado pela vivência de notáveis virtudes e de
uma vida vivida em santidade.
O primeiro passo é postular a Roma para que a
Congregação dos Santos receba a petição. Com a autorização da Santa Sé, caberá
ao bispo diocesano, no caso Dom Moacyr Vitti, de Curitiba, postular
oficialmente o pleito. — Assim, autorizada, começaremos a coletar os
testemunhos que são imensos, casos de salvação de vidas e também de todos os
ensinamentos, das práticas da Dra. Zilda, explicou Dom Aldo.
Um processo de beatificação ou santificação não tem
prazo para conclusão. Para o bispo, o que importa é o gesto de valorização e o
reconhecimento de todas as virtudes da médica e o legado deixado para as duas
pastorais. Ele lembra que Dra. Zilda, como humanitária – assim como Madre
Teresa de Calcutá – concorreu ao Prêmio Nobel da Paz. "O que já é um
reconhecimento de dimensão universal"
Nos últimos anos, a Igreja tem declarado muitos
santos, personalidades de épocas recentes. A fundadora da Pastoral da Criança
poderá ser a santa da modernidade, como o Papa João Paulo II, Giana Beretta
Molla, Beato Giorgio Frascatti e outros.
Dra. Zilda enfrentou desafios para combater a
desnutrição, salvar vidas e promover a dignidade humana.
— São práticas tão exitosas que hoje consistem em
políticas públicas, frisou Dom Aldo, para quem a médica fez extraordinariamente
bem o que precisava ser feito.
E acrescentou: — E sua obra tem alcance extraordinário. A
metodologia, as práticas simples iniciadas há 30 anos hoje estão em vinte
países da América Latina, África e Ásia.
Uma mulher que fazia
do seu caminho uma passagem para o caminho dos outros. Uma pessoa com o coração
gigante e que deixou não apenas uma história, mas uma série de ensinamentos.
(Zilda Arns e o Cardeal Dom Eugênio de Araújo Sales).
Seu objetivo era salvar vidas precocemente ameaçadas
pela injustiça da desigualdade social que marca a nossa sociedade. Seu lema, a
palavra de Jesus segundo o evangelho de João: “Vim para que todos tenham vida e
vida em abundância” (10,10). Soube confiar no saber popular, na eficácia de
recursos domésticos e das práticas tradicionais que dispensam compras em
farmácias e supermercados.
Infundiu nos beneficiários e agentes multiplicadores
da Pastoral a convicção de que a emancipação da pobreza não reside apenas no
poder de consumo, mas sobretudo no dever de solidariedade.
“Como os pássaros, que cuidam de seus filhos ao fazer um ninho no alto das árvores e nas montanhas,
longe dos predadores, das ameaças e dos perigos, e mais perto de Deus, devemos cuidar de
nossas crianças como um bem sagrado, promover o respeito a seus direitos e
protegê-las”
Dra Zilda Arns - última palestra que proferiu, junto ao povo sofrido do Haiti.
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