A Transfiguração, manifestação da vida divina, que está em Jesus, é uma
antecipação do esplendor, que encherá a noite da Páscoa. Os
Apóstolos, quando virem Jesus na sua condição de Servo, não poderão esquecer a
sua condição divina.
“CONTEMPLANDO SEMPRE A VISÃO NOTURNA, VI APROXIMAR-SE, SOBRE AS NUVENS
DO CÉU, UM SER SEMELHANTE A UM FILHO DE HOMEM. AVANÇOU ATÉ AO ANCIÃO, DIANTE DO
QUAL O CONDUZIRAM. FORAM-LHE DADAS AS SOBERANIAS, A GLÓRIA E A REALEZA. TODOS
OS POVOS, TODAS AS NAÇÕES E AS GENTES DE TODAS AS LÍNGUAS O SERVIRAM. O SEU
IMPÉRIO É UM IMPÉRIO ETERNO QUE NÃO PASSARÁ JAMAIS, E O SEU REINO NUNCA SERÁ
DESTRUÍDO”
Daniel 7 - 13,
14
Daniel, em visão
noturna, vê a história do ponto de vista de Deus. Sucedem-se os impérios e os
opressores, mas o projeto de Deus não falha. Ele é o último juíz, que avaliará
as ações dos homens e intervirá para resgatar o seu povo. Aos reinos terrenos
contrapõe-se o Reino que o Ancião confia a um misterioso “filho de homem” que
vem sobre as núvens. Trata-se de um verdadeiro homem, mas de origem divina.
No nosso texto
já não se trata do Messias davídico que havia de restaurar o Reino de Israel,
mas da sua transfiguração sobrenatural: o Filho do homem vem inaugurar um reino
que, embora se insira no tempo, “não é deste mundo” (Jo 18, 36). Ele triunfará
sobre as potências terrenas, conduzindo a história à sua realização
escatológica. Jesus irá identificar-se muitas vezes com esta figura bíblica na
sua pregação e particularmente diante do Sinédrio, que o condenará à morte.
“NAQUELE TEMPO, JESUS, LEVANDO CONSIGO PEDRO, JOÃO E TIAGO, SUBIU AO
MONTE PARA ORAR. ENQUANTO ORAVA, O ASPECTO DO SEU ROSTO MODIFICOU-SE, E AS SUAS
VESTES TORNARAM-SE DE UMA BRANCURA FULGURANTE. E DOIS HOMENS CONVERSAVAM
COM ELE: MOISÉS E ELIAS, OS QUAIS, APARECENDO RODEADOS DE GLÓRIA, FALAVAM
DA SUA MORTE, QUE IA ACONTECER EM JERUSALÉM. PEDRO E OS COMPANHEIROS
ESTAVAM A CAIR DE SONO; MAS, DESPERTANDO, VIRAM A GLÓRIA DE JESUS E OS DOIS
HOMENS QUE ESTAVAM COM ELE. QUANDO ELES IAM SEPARAR-SE DE JESUS, PEDRO
DISSE-LHE: “MESTRE, É BOM ESTARMOS AQUI. FAÇAMOS TRÊS TENDAS: UMA PARA TI, UMA PARA
MOISÉS E OUTRA PARA ELIAS”. NÃO SABIA O QUE ESTAVA A DIZER. ENQUANTO DIZIA
ISTO, SURGIU UMA NUVEM QUE OS COBRIU E, QUANDO ENTRARAM NA NUVEM, FICARAM
ATEMORIZADOS. E DA NUVEM VEIO UMA VOZ QUE DISSE: “ESTE É O MEU FILHO
PREDILETO. ESCUTAI-O”. QUANDO A VOZ
SE FEZ OUVIR, JESUS FICOU SÓ. OS DISCÍPULOS GUARDARAM SILÊNCIO E, NAQUELES
DIAS, NADA CONTARAM A NINGUÉM DO QUE TINHAM VISTO”.
Lucas
9, 28b-36
A Transfiguração confirma a fé dos Apóstolos, manifestada por Pedro em
Cesareia de Filipe, e ajuda-os a ultrapassar a sua oposição à perspetiva da
paixão anunciada por Jesus. Quem quiser Seu discípulo, terá de participar nos
seus sofrimentos (Mt 16, 21-27).
A
TRANSFIGURAÇÃO É UM PRIMEIRO RESPLENDOR DA GLÓRIA DIVINA DO FILHO, CHAMADO A
SER SERVO SOFREDOR PARA SALVAÇÃO DOS HOMENS.
Na oração, Jesus transfigura-se e deixa entrever a sua identidade sobrenatural.
Moisés e Elias são protagonistas de um êxodo muito diferente nas
circunstâncias, mas idêntico na motivação: a fidelidade absoluta a Deus. A luz
da Transfiguração clarifica interiormente o seu caminho terreno. Quando a visão
parece estar a terminar, Pedro como que tenta parar o tempo. É, então,
envolvido com os companheiros pela nuvem. É a nuvem da presença de Deus, do
mistério que se revela permanecendo incognoscível. Mas Pedro, Tiago e João
recebem dele a luz mais resplandecente: a voz divina proclama a identidade
Jesus, Filho e Servo sofredor (Is 42, 1).
Pedro e os seus
dois companheiros, fatigados da caminhada, tinham caído no sono, quando,
acordando de repente, viram Jesus na sua glória, entre dois homens, Moisés e
Elias, que conversavam com Ele. Moisés e Elias, representando a lei e os
profetas, vinham prestar homenagem a Jesus Cristo, no qual se realizavam todas
as figuras e todas as promessas do Antigo Testamento. Vinham reconhecer nele o
Messias que tinham anunciado e esperado. E de que é que juntos conversavam?
Falavam, diz São Lucas, da sua saída do mundo, que devia cumprir-se em
Jerusalém. Falavam do grande mistério da redenção dos homens pelo sacrifício de
Jesus Cristo. Jesus explicava a Moisés e a Elias todo o sentido das figuras da
antiga lei: a libertação do Egito, símbolo da redenção; a imolação do
cordeiro, figura da morte de Jesus; a salvação dos filhos de Israel pelo sangue
do cordeiro, símbolo da redenção dos homens pelo sangue do Coração de Jesus.
Jesus dizia aos dois profetas a sua alegria de ver chegar o dia do sacrifício.
Oh! Como o seu amor por nós se manifesta sem cessar! Os apóstolos, à vista
deste espetáculo, são mergulhados numa espécie de êxtase. Julgam-se
transportados ao céu. São Pedro, sempre ardente, é o primeiro que manifesta o
seu sentimento: Senhor, diz, que bom é estar aqui; façamos aqui três tendas,
uma para vós, uma para Moisés, uma para Elias. São Pedro é humilde e
desinteressado; esquece-se, e não pensa em montar uma tenda para si. Ele não
quer ser senão o servidor de Jesus. Mas isso é ainda muito. Ele não compreendeu
que é preciso comprar a recompensa através das provações. A glória definitiva
não virá senão depois da cruz e do sacrifício. Trabalhemos, sejamos generosos.
A recompensa virá quando agradar a Deus. São Pedro reconheceu mais tarde que não
sabia o que dizia naquele dia, e fê-lo notar pelo seu evangelista, São Marcos.
Leão
Dehon, OSP 3, p. 250s.
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