É
significativo notar que, logo depois do batismo nas
águas do Jordão, Jesus é levado pelo Espírito
às areias do deserto para ser tentado pelo
demônio. Lá, sem que suspeitasse, Satanás vai
experimentar sua mais monumental e notável
derrota quando Jesus, fiel e obediente ao Pai,
vai demonstrar verdadeiramente que é o Filho Bem-Amado
a quem devemos escutar.
NESTE PRIMEIRO DOMINGO DA QUARESMA, SOMOS CONVIDADOS A RESISTIR À
TENTAÇÃO, NÃO NOS DEIXANDO LEVAR POR TUDO AQUILO QUE AFASTA DE DEUS. O PRIMEIRO
PASSO NA CONSTRUÇÃO DE UM MUNDO DE PAZ É O RECONHECIMENTO DOS PECADOS E A LUTA
CONTRA A TENTAÇÃO.
(Mt 4,1-11) Naquele tempo, o Espírito conduziu Jesus ao deserto, para
ser tentado pelo diabo. Jesus jejuou durante quarenta dias e quarenta noites,
e, depois disso, teve fome. Então, o tentador aproximou-se e disse a Jesus: “Se
és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães!” Mas Jesus respondeu: “Está escrito: ‘Não
só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus.’”
Então o
diabo levou Jesus à Cidade Santa, colocou-o sobre a parte mais alta do Templo, e
lhe disse: “Se és Filho de Deus, lança-te daqui abaixo! Porque está escrito:
‘Deus dará ordens aos seus anjos a teu respeito, e eles te levarão nas mãos,
para que não tropeces em alguma pedra.’” Jesus lhe respondeu: “Também está
escrito: ‘Não tentarás o Senhor teu Deus!’” Novamente, o diabo levou Jesus para
um monte muito alto. Mostrou-lhe todos os reinos do mundo e sua glória, e lhe
disse: “Eu te darei tudo isso, se te ajoelhares diante de mim, para me adorar.”
Jesus lhe disse: “Vai-te embora, Satanás, porque está escrito: ‘Adorarás ao
Senhor teu Deus e somente a ele prestarás culto.‘” Então o diabo o deixou. E os
anjos se aproximaram e serviram a Jesus.
Homilia de Padre
Marcos Belizário Ferreira
No 1º Domingo da
Quaresma 2014
“Devemos evitar
de chamar “as Tentações”, porque são provações, como o povo de Israel,
passando pelo Mar Vermelho e guiado por Moisés, é posto à prova repetidas vezes
no deserto, assim Jesus, depois do
batismo, é guiado pelo Espírito e enfrenta provação no deserto.
O povo falhou
várias vezes, Moisés uma vez. Jesus supera todas as provas. O evangelho encerra
dramaticamente o grande confronto entre o projeto salvador do Pai e o
anteprojeto apresentado pelo rival
O ser humano é livre e , embora condicionado por muitos fatores, pode
decidir que orientação dar à sua vida. Mas, ao mesmo
tempo, é um ser radicalmente frágil, ameaçado de dentro e de fora, exposto a
todo tipo de perigos e riscos que podem arruinar seu projeto de vida.
De fato, em toda
pessoa convivem duas tendências profundamente contraditórias. De um lado, a
tendencia para o bem, a buscar o justo, a amar, a viver em comunhão de maneira
fraterna. De outro lado, a tendencia a deixar-se arrastar pelo mal, a viver
encerrado no egoísmo e na falta de solidariedade, atua de maneira injusta e
violenta. Por isso São Paulo fala das obras que fazemos movidos pela “carne” e
dos frutos que brotam do “espírito” (Gl 5, 19-22)
O “mistério do mal” nos ameaça sempre. Em qualquer
momento podemos cair no egoísmo e na infidelidade. São Paulo fala de uma
experiência pessoal que cada um pode experimentar em si mesmo: “Quando quero
fazer o bem, é o mal que se apresenta. No íntimo de meu ser amo a Lei de Deus ,
mas sinto no meu corpo outra lei que luta contra a lei de minha razão e me
prende à lei do pecado que está no meu corpo” (Rm 7,21-23). A partir desta
estrutura frágil e sempre ameaçada brota nossa súplica de ajuda.
A palavra grega que se encontra no original (“peirasmós”) pode
significar “prova” como nos explica o pé de página da Bíblia do Peregrino
citado no primeiro parágrafo. Prova, isto é, experiência que,
inclusive, sendo dura e difícil, pode ajudar a crescer no bem. Na tradição
bíblica fala-se com frequência destas provas.
DEUS MESMO FAZ O POVO CAMINHAR PELO DESERTO DURANTE 40 ANOS “PARA
PROVÁ-LO E CONHECER O QUE HÁ EM SEU CORAÇÃO”
(Dt 8,2).
(Dt 8,2).
Mas o termo
original pode também, significar “tentação”, isto é, uma incitação ao mal.
Entendida assim, trata-se de uma situação ou de uma experiencia que se
encaminha para fazer cair no pecado. Na oração do Pai-nosso - “Não nos deixes cair em tentação” -, sem
dúvida se esta pensando na tentação de índole maligna.
Não se trata,
porém, das pequenas tentações de cada
dia, mas da tentação de recusar a Deus, de fechar-nos ao seu amor, ao seu
reino, e à sua justiça, para substituí-lo por nosso próprio egoísmo. Jesus
fala muito da “tentação final”, quando vai chegar a hora de Satã ou o poder das
trevas, quando podemos ser invadidos pela dúvida total e pela tentação do
abandono.
Sua exortação é clara: “VIGIAI
SEMPRE E ORAI PARA PODER ESCAPAR DE TUDO QUE HÁ DE VIR E APRESENTAR-VOS SEM
TEMOR DIANTE DO FILHO DO HOMEM” (Lc 21,36)
“Não nos deixes cair”, no texto original pede-se a Deus literalmente que
“Não nos faça entrar na tentação”, como se fosse Deus mesmo quem nos induz ao
mal. Mas
uma tentação, como a que descrevemos, não pode ser provocada por Deus: “Quando
alguém se vê tentado, não diga que Deus o tenta, porque Deus não é tentado
pelo mal nem tenta ninguém.
A tentação vem a cada um quando seu próprio desejo o arrasta e o seduz”.
A tentação vem a cada um quando seu próprio desejo o arrasta e o seduz”.
Ao contrário, Deus é aquele que, no meio das provas, dá
forças para que possamos superá-las: “Deus é fiel. Ele não permitirá que
sejais tentados, acima de vossas forças; mas, com a tentação, Ele dará os
meio para que possais resistir-lhe”( 1 Cor 10,13).
É isto, precisamente, que pedimos a Deus. Embora
a formulação original possa resultar equívoca, o sentido é claro. Pedimos a
Deus “não nos deixe ceder à tentação”. Não pedimos para não ser tentados, mas
para não sucumbir, não cair na armadilha da tentação. Que a tentação se resolva
com êxito de nossa parte. Que, quando chegar a tentação, Deus nos dê forças e
impeça que caiamos derrotados. É a mesma ideia que aparece na oração de Jesus:
“Não estou pedindo que os tireis do mundo, mas que os guarde do mal”
cf Pagola, José
Antonio, Pai-nosso Orara com o Espírito de Jesus, Ed Vozes, páginas 63-65.