Lembrai-vos
Senhor de vossa Igreja, servidora da humanidade. Concedei-lhe paz e fortaleza
em meio às angústias, vitórias e lidas da Sociedade de nosso tempo.
O modo como Jesus enfrenta o processo de sua prisão e condenação à morte revela-nos que Ele sempre foi fiel à vontade do Pai. Sua mansidão proclama que não é pela violência que se constrói a paz. O amor e o perdão geraram a nova Sociedade fraterna e solidária.
Pilatos lavou as mãos diante da multidão que gritava “seja crucificado!”
dizendo: “Estou inocente desse sangue, a responsabilidade é vossa”. A
isso todo o povo respondeu: “Que o seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos”. Então, depois de mandar flagelar Jesus, Pilatos entregou-o para que
fosse crucificado (cf. Mt 27, 23-26).
Uma Sociedade na
qual milhões de pessoas são excluídas, impossibilitadas dos bens necessários à
vida; uma sociedade que produz a cada dia novos pobres miseráveis e mata os
inocentes torna-se também responsável pelo seu sangue. No Brasil, mata-se 50
mil pessoas em apenas um ano. A maior parte das vítimas é formada por jovens
negros e pobres.
Jesus com o
rosto no chão orava: “Pai, meu Pai, se é possível, afasta de mim este cálice de
sofrimento! Porém, que não seja feito o que eu quero, mas o que tu queres” (cf.
Mt 26,39). O ser humano sozinho não tem força para eliminar os males do mundo. Jesus nos ensina que, sem considerar o próximo como semelhante, como filho
e filha de Deus, não haverá paz social nem respeito verdadeiro pelos autênticos
valores humanos. Com a graça de Cristo é possível vencer as quedas no
caminho da vida.
“Simeão os
abençoou e disse a Maria, a mãe: ‘Este menino será causa de queda e de
reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição - uma
espada transpassará a tua alma! - e assim serão revelados os pensamentos de
muitos corações’” (Lc 2, 34-35). Na estrada da vida, encontramo-nos com pessoas
que amamos e com gente que nos anima. Mãe e Filho encontram-se e caminham para
a cruz, para a ressurreição, para o amor total.
“Então O levaram para crucificá-lo. Os soldados
obrigaram alguém que passava, voltando do campo, Simão de Cirene, pai de
Alexandre e de Rufo, a carregar a cruz” (Mc 15, 20b-21). Ao nascer da Virgem Maria, o Filho de Deus
assumiu nossa condição humana. No caminho da vida e da conversão, não estamos
sozinhos. No caminho do calvário e da ressurreição, Jesus nos revela que muitos
necessitam de mãos servidoras e de ombros amigos para compartilhar o peso da
cruz.
O amor a Deus e
ao próximo é o primeiro e maior de todos os Mandamentos. Jesus se faz
particularmente presente no rosto dos mais fracos, dos pobres e sofredores, no
entanto nem todos conseguem perceber essa presença de Cristo. Nenhum discípulo
de Jesus pode ficar surdo a este grito: “o espírito de pobreza e de caridade
são a glória e o testemunho da Igreja de Cristo” (Gaudium et Spes, n. 88).
O Reino que Jesus
anuncia e convida o ser humano a participar é o Reino do amor, da vida e da
justiça, não o da corrupção, da exploração, do abuso do poder e da força.
Quando não há respeito pela pessoa humana, e essa é tratada como mercadoria de
lucro, a queda é inevitável. Existe pior queda do que essa? O caminho da cruz
do cotidiano é duro e penoso - nem por isso a cruz de nossa missão deve ser
abandonada.
Seguiam a Jesus
mulheres que batiam no peito e choravam por Ele. Jesus, porém, voltou-se para
elas e lhes disse: “Mulheres de Jerusalém, não choreis por mim! Chorai por vós
mesmas e por vossos filhos... Porque se fazem assim quando a árvore está
verde, o que acontecerá quando estiver seca?” (cf. Lc 23, 27-28). Em nosso
tempo, a mulher conquistou influência, conquistou um alcance e poder jamais
alcançados até agora; Jesus exorta as mulheres a não perderem o sentido de sua
vocação, a não cederam ao projeto maléfico que as considera apenas objeto de
prazer, de espoliação e domínio. As palavras e gestos de Jesus exprimem o
respeito e a honra devidos à mulher (Mulieris Dignitatem, n. 13).
O caminho do
calvário é longo, a cruz é pesada e os algozes são insensíveis: Jesus cai pela
terceira vez. As organizações da Sociedade e as pastorais da Igreja podem
ajudar a preservar e a melhorar as condições de vida nas sucessivas quedas da
vida e a não se acomodar à margem do caminho.
Na fidelidade de Jesus ao projeto de amor do Pai, Ele suporta os piores
ultrajes: sua dignidade é humilhada até o máximo; a túnica que cobre seu corpo
é rasgada e se torna objeto de sorte. A desnudação de Jesus mostra o
absurdo da violência e da maldade humana, que por vezes chega a encontrar
prazer nos sofrimentos dos pobres e dos indefesos.
Crer em Jesus,
que por nós foi crucificado, morreu, foi sepultado e ressuscitou ao terceiro
dia, é assumir em nossa vida o projeto de Jesus: “Eu vim para servir” (cf. Mc
10,45), “para que tenham vida e tenham em abundância” (Jo 10,10). A cruz é a
expressão do amor total, radical, de quem se doa até as últimas consequências,
até a morte.
A Igreja é a comunidade dos discípulos de Jesus. Ela é um sinal do amor
e da presença do Filho de Deus no mundo e o instrumento da unidade dos seres
humanos com Deus. Por esse motivo, a Igreja
sente-se real e intimamente ligada à humanidade e a sua história (cf. Gaudium
et Spes, n.1). A Igreja é a razão pela qual Jesus se entrega e morre na cruz.
Ela é sua esposa e Ele a ama dando sua vida por Ela.
Por Cristo e em
Cristo, ilumina-se o enigma da dor e da morte, que fora de seu Evangelho
esmaga-nos. Cristo ressuscitou, com Sua morte destruiu a morte e nos concedeu a
vida. O Espírito oferece-nos a todos a possibilidade de nos associarmos ao
mistério pascal. A fé na ressurreição impele-nos a
agirmos a favor da vida e do respeito à dignidade humana e à natureza, obras do
amor de Deus Pai.
ORAÇÃO
Ó Pai e Senhor da vida, com a ressurreição de vosso
Filho Jesus Cristo abristes para nós as portas do vosso Reino. Concedei-nos
que, celebrando o mistério pascal e renovados pelo Espírito da Verdade,
ressuscitemos na luz da vida nova. Dai-nos esperança de vida e ressurreição
diante de tantas situações humanas de conflitos e guerras. Isso vos pedimos em
nome de Jesus, nosso Senhor.
VIA SACRA - CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2015
"EU VIM PARA SERVIR"
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