O que é o Natal? Se saíssemos pelas ruas de nossa cidade fazendo essa pergunta, provavelmente receberíamos tantas respostas diferentes quantas fossem as pessoas interrogadas. No final das entrevistas, nos perguntaríamos: será que todos estão falando da mesma festa?...
Uma síntese do significado do Natal foi dada pelos Anjos aos pastores, na noite santa de Belém. Nos arredores da cidade, tais pastores “vigiavam e guardavam seu rebanho nos campos” (Lc 2,8). Ouviram, então, os Anjos cantarem: “Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra aos homens que ele ama” (Lc 2,14).
Os Anjos de Belém não expressaram um mero desejo, mas fizeram uma afirmação: o nascimento do Menino Jesus é uma extraordinária proclamação da glória de Deus e traz a paz aos homens e às mulheres que Ele ama. A paz nos é dada não porque sejamos bons, mas porque Ele é bom e nos ama. Quando percorrer as estradas da Palestina, Jesus afirmará que Deus nos ama tanto que nos enviou Seu Filho – isto é, ele próprio.
No Natal, aprendemos que existem duas maneiras diferentes de manifestarmos o nosso amor. A primeira é dando presentes. Foi assim que Deus expressou o seu carinho na criação: deu-nos o sol, as flores e o ar; a lua, a água e as sementes; deu-nos, sobretudo, a vida. A outra maneira é mais difícil: é sofrer pela pessoa amada. Foi como Jesus expressou o seu amor ao Pai e a nós na encarnação: “Sendo ele de condição divina, não se prevaleceu de sua igualdade com Deus, mas aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-se aos homens” (Fp 2,6-7).
Quem de nós não deseja, para penetrar no mistério do Natal, compreender a cena do presépio? Mas como entender o mistério de um menino que é filho do Altíssimo, que se reveste da fragilidade de uma criança, que nasce numa gruta, refúgio de animais? Em vez de tentar entender isso, somos chamados simplesmente a contemplar esta criança que não foi acolhida na cidade de Belém, como não é acolhida hoje no coração de muitas pessoas. Contemplando Jesus, percebemos que ele era envolvido por um grande desejo: o de tornar seu Pai conhecido, amado e adorado. Foi em vista disso que assumiu a condição de escravo e de pecador, para reparar a honra divina ofendida pelo pecado. Em Jesus, Deus passa a ser amado digna e plenamente aqui na terra. Assumindo-nos como irmãos, o Menino de Belém nos diviniza e nos torna seus herdeiros. Seu Pai passa a ser nosso Pai; a vida eterna com a Santíssima Trindade torna-se uma possibilidade para nós.
Por que em Jesus Deus é amado dignamente aqui na terra? Deus é santo – é o Santo. Criador e Senhor do Universo, de nada precisa. Só o amor pode lhe agradar. Mas nosso amor é imperfeito e pobre. Jesus, que é "imagem do Deus invisível" (Cl 1,15), que tem a plenitude da divindade, que é a expressão perfeita do próprio Deus ("Quem me vê, vê o Pai!"), ama o seu Pai de forma perfeita e digna. Tendo assumido a nossa natureza humana, ele "trabalhou com mãos humanas, pensou e agiu como qualquer ser humano e amou com um coração humano" (GS, 22). Desde que ele se fez um dos nossos, portanto, tornando-se igual a nós em tudo, menos no pecado, começou a partir aqui da terra um louvor digno de Deus. Quis Jesus nos unir a si nesse louvor. Com ele, portanto, por ele e nele nós louvamos o Pai e nosso louvor é perfeito e agradável.
A festa de Natal é, pois, marcada pela alegria de todos: nossa, porque Jesus assumiu-nos como irmãos; de Jesus, porque fez a vontade do Pai; de Deus, porque vendo-nos acolher Seu Filho Jesus, passa a nos apontar, repetindo-nos o que falou a respeito de Jesus: Tu és meu filho muito amado! Tu és minha filha muito amada!
Dom Murilo S.R. Krieger