Pecado e graça
Na homilia que antecedeu a abertura da Porta Santa, o Pontífice recordou o mesmo gesto realizado em Bangui (Rep. Centro-Africana) e ressaltou a primazia da graça: “A festa da Imaculada Conceição exprime a grandeza do amor divino. Deus não é apenas Aquele que perdoa o pecado, mas, em Maria, chega até a evitar a culpa original, que todo o homem traz consigo ao entrar neste mundo. É o amor de Deus que evita, antecipa e salva”.
A própria história do pecado só é compreensível à luz do amor que perdoa, explicou o Papa. “Se tudo permanecesse relegado ao pecado, seríamos os mais desesperados entre as criaturas. A promessa da vitória do amor de Cristo encerra tudo na misericórdia do Pai.”
Também este Ano Santo Extraordinário é dom de graça, prosseguiu Francisco. “Entrar por aquela Porta significa descobrir a profundidade da misericórdia do Pai que a todos acolhe e vai pessoalmente ao encontro de cada um. É Ele que nos procura, que vem ao nosso encontro. Neste Ano, deveremos crescer na convicção da misericórdia.”
Para o Pontífice, é preciso antepor a misericórdia ao julgamento, se quisermos ser justos com Deus. “Ponhamos de lado qualquer forma de medo e temor, porque não corresponde a quem é amado; vivamos, antes, a alegria do encontro com a graça que tudo transforma”, exortou.
Concílio Vaticano II
Em sua homilia, o Papa fez um paralelo com outra porta “escancarada” 50 anos atrás pelos Padres conciliares. O Concílio, afirmou, foi primariamente um encontro; um encontro entre a Igreja e os homens do nosso tempo.
“Trata-se, pois, de um impulso missionário que, depois destas décadas, retomamos com a mesma força e o mesmo entusiasmo. O Jubileu exorta-nos a esta abertura e obriga-nos a não transcurar o espírito que surgiu do Vaticano II, o do Samaritano, como recordou o Beato Paulo VI na conclusão do Concílio. Atravessar hoje a Porta Santa compromete-nos a adotar a misericórdia do bom samaritano.”
Porta Santa
Após a comunhão, teve início o rito de abertura da Porta Santa, na entrada da Basílica de S. Pedro. O diácono convidou os fiéis para a inauguração do Jubileu Extraordinário da Misericórdia com estas palavras: “Abre-se diante de nós a Porta Santa. É o próprio Cristo que, através do mistério da Igreja, nos introduz no consolador mistério do amor de Deus".
Em procissão, os concelebrantes se posicionaram na entrada da Basílica. Também estava presente o Papa Bento XVI. Diante da Porta Santa, o Pontífice fez uma oração e recitou a seguinte fórmula: “Esta é a porta do Senhor. Abri-me as portas da justiça. Por tua grande misericórdia entrarei em tua casa, Senhor”.
O Santo Padre abriu a Porta Santa e se deteve em silêncio em sua entrada. Francisco entrou por primeiro na Basílica de S. Pedro, seguido por Bento XVI, pelos concelebrantes e por alguns representantes de religiosos e fiéis leigos – momento em que foi entoado o Hino do Ano Santo da Misericórdia. No Altar da Confissão, o Papa fez uma oração e concendeu a todos a sua bênção apostólica.
Oitavo encontro
Com o encontro desta terça-feira, Francisco e Bento XVI encontraram-se publicamente oito vezes.
O primeiro – histórico – foi em Castel Gandolfo, no dia 23 de março de 2013, quando Bento XVI e Francisco rezaram juntos por alguns momentos.
Depois disso, em 5 de julho de 2013, Bento XVI apareceu novamente ao lado de Francisco durante a inauguração de um monumento a São Miguel, nos Jardins Vaticanos.
Em 22 de fevereiro de 2014, durante o consistório para a criação de novos cardeais, a Basílica Vaticana teve pela primeira vez na história a presença de dois papas.
Ratzinger voltaria a encontrar o público - e Bergoglio - em 27 de abril de 2014, quando da canonização de São João Paulo II e São João XXIII, na Praça São Pedro.
Dois meses mais tarde, em 28 de setembro, a convite de Francisco, Bento XVI voltou à Praça São Pedro, onde participou do encontro com a terceira idade. O Papa emérito aparecera bem disposto, apesar de caminhar muito devagar e com a ajuda de uma bengala.
Sempre a convite do Papa Francisco, Bento XVI esteve novamente na Praça São Pedro em 19 de outubro de 2014, quando concelebrou o rito de beatificação do Papa Paulo VI.
Em 2015, Bento XVI voltou à Basílica de São Pedro, onde participou do consistório no qual Francisco criou 20 novos cardeais em 14 de fevereiro. (RB)