Queridos paroquianos e paroquianas, na festa da Sagrada família voltamos a refletir sobre o Ano Santo da Misericórdia.
Preocupa-me que muitos cristãos católicos motivados pela proclamação do Ano Santo agora estejam mais preocupados e até interessados em passar pelas Portas Santas “oficiais”, como a Porta Santa da Catedral de São Sebastião ou mesmo de qualquer outra Diocese no Mundo. Proponho a seguinte reflexão que deverá anteceder ao gesto de peregrinar, confessar, passar pela Porta Santa e rezar.
Existem várias portas a serem atravessadas antes mesmo que a Porta Santa da Catedral da Arquidiocese. Poderia citar várias, mas resumirei em 4 “portas”:
A primeira porta é o próprio Jesus, conhecemos do evangelho de João as palavras do Senhor:
Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á, e entrará, e sairá, e achará pastagens.
Jo 10, 9
Significa que encontraremos repouso, descanso, salvação, libertação das nossas almas e sobretudo perdão para os nossos pecados pois Deus é amor e a única coisa que quer é amar. Para passar por qualquer Porta Santa é necessário, como que único, passar primeiro pelo Evangelho de Jesus, ser seu discípulo, sua discípula, converter-se. Do contrário, se não houver conversão, de nada valerá passar por nenhum Umbral Santo.
A segunda porta é a porta do coração, da alma. Existem “portas” abertas e outras lacradas dentro de nós. Já ouvi pessoas dizerem:
“Não perdoo, não mudo, não quero, não aceito...” eis aí exemplos de “portas” fechadas dentro de nós. Conforme estamos meditando hoje, o Natal de Jesus é também reconhece-Lo no outro, e o outro está também dentro da minha casa sob o mesmo teto que o meu. O outro pode ser meu pai, minha mãe, minha irmã, meu irmão, meu filho, minha filha, enfim familiares, parentes e até amigos ou companheiros que residem comigo. É reconhecer que a família é lugar vital, eu preciso da minha família para viver. Temos que reconhecer que muitas vezes fechamos corações, olhos, ouvidos, todos os sentidos justamente para com aqueles que estão muito junto a nós: nossa família.
A terceira porta: é a porta da igreja paroquial, todas as vezes ou melhor, todos os Domingos e Dias Santos que você acorre até a sua paroquia, e passa pela porta da igreja você está transpondo os umbrais do lugar de oração e de comunhão com Jesus e comunhão com seu irmão na fé no seu bairro de São Conrado. A porta da paróquia é sem dúvida como que visitar e peregrinar uma “terra santa”. Aqui celebra-se o Batismo, aqui Confirma-se o Batismo, aqui recebemos o perdão dos pecados, aqui somos ungidos com Óleo Santo para curar nossos males físicos e espirituais, aqui pelo Sacramento do Matrimônio nascem novas famílias e aqui o Ministro Ordenado preside a Eucaristia e a mesma nos torna corpo místico de Cristo. Sendo assim, a porta da paróquia deve ser reconhecida como primeira porta santa que nos prepara para peregrinarmos a lugares mais distantes. Se o cristão católico não é capaz de peregrinar até a sua própria igreja paroquial, de que valerá peregrinar a outras “portas santas”?
A quarta porta: a porta da sua casa. Você meu irmão e minha irmã não pode ter duas identidades ou duas personalidades, não poderá ser uma pessoa na rua e outra em casa. Todos os dias quando passamos pela porta da nossa casa reconheceremos que esta porta também é santa pois é a porta da minha casa, do meu lar, do lugar em que moro com a minha família. A porta da minha casa é a porta que me leva ao encontro com aqueles que Deus mesmo colocou para mim como um “dom”, um presente. Minha esposa é meu presente de Deus, assim como meu esposo é um presente de Deus, naturalmente também são dons divinos meus filhos, minhas filhas, meus familiares e até mesmo, é claro os meus funcionários. O Centurião romano definiu muito bem ao dizer a Jesus:
“Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha casa. Dizei uma só palavra e meu servo será curado. ”Mt 8,8
Também Isabel no IV Domingo do Advento definiu muito bem e com alegria a importância de quem passa pela porta da nossa casa, no caso da sua casa, da casa dela e seu esposo Zacarias, e assim ela exclama a Maria Santíssima:
“Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar?” Lc 1,43
A família não é um grupo como os outros, nem uma instituição fundamentada em princípios econômicos, mas uma instituição vital, quer dizer, que se fundamenta na vida. Por isso, quando a vida de alguém começa a perder sua força, esta precisa ser recuperada, sustentada, fortalecida. Quando o amor diminui em algum membro da família, este precisa ser restituído através do perdão e da reconciliação. A família gira em torno da vida e a vida familiar é sempre fonte de mais vida para seus membros.