Um menino nasceu para nós: um filho nos foi
dado! O poder repousa nos seus ombros. Ele será
chamado “Mensageiro do Conselho de Deus”.
Caros Irmãos,
A noite de Natal foi dramática para a Sagrada Família que não encontrou lugar no albergue (Lc 2,7). Esta noite histórica faz-nos lembrar a longa noite em que está mergulhado o nosso mundo e o Brasil .
O mundo vive uma longa noite de conflitos, de guerras, de destruição, de medos, de ódios, de racismo .
Diante do presépio , agora completo, lembramo-nos de todos os dramas da humanidade sobretudo os pobres, as famílias que esperam por estarem reunidas, os desempregados e todos os que sofrem com a crise moral , ética que resulta numa das piores crises econômicas da história brasileira .
Menino de Belém, estamos cansados. Face a esta dolorosa realidade, rezamos este cântico do Advento: “Vide Domine afflictionem populi tui….Olhai, Senhor, a aflição do teu povo. Enviai, Senhor, aquele que devas enviar, enviai o Cordeiro (…) para que ele nos livre do jugo do nosso cativeiro”
Mas é preciso não ceder ao desespero porque Jesus Salvador anuncia-nos que a paz é possível, que a chama da esperança continuará viva, que a justiça, a paz e a reconciliação serão alcançadas. De Belém, partiu a mensagem da salvação e é para Belém que devemos olhar. Nesta noite, renova-se a promessa divina cantada pelos anjos: “Glória a Deus nas alturas e paz na Terra aos homens por ele amados”. Somos convidados a termos otimismo e a renovarmos a nossa fé.
A paz de Cristo é universal e baseada na justiça. Faz-nos ver, em cada pessoa uma criatura de Deus. É uma paz que gera vida. Ninguém está autorizado a no-la roubar em nome de um Deus que mata e que se vinga. Por esta razão e fazendo minhas as palavras do Papa Francisco “desejo dirigir um forte apelo a todos os que, pelas armas, semeiam a violência e a morte: redescobri o vosso irmão naquele que hoje consideras simplesmente como um inimigo a abater e parai a vossa mão! Renunciai à via das armas e ide ao encontro do outro para o diálogo, o perdão, a reconciliação, para a reconstrução da justiça, da confiança, da esperança à vossa volta” Nesta ótica é bem claro que, nas vidas dos povos, os conflitos armados são sempre a negação deliberada de qualquer possível entendimento internacional, criando divisões profundas e feridas abertas que têm necessidade de muitos anos para se curarem”. (Mensagem na 47ª Jornada mundial da paz).
Vivemos, no Brasil , um conflito que parece não ter, a curto prazo, solução e que pesa sobre nós todos . Esta realidade suscita inúmeras questões relativas ao nosso futuro neste país e causa-nos grande inquietação. Temos necessidade da resposta da fé. A resposta não é fechar-se sobre si mesmo. Consiste permanecer diante das questões desafiantes sem fugir , ficar aqui, viver aqui e morrer aqui. A nossa é “terra santa” e merece o nosso apego porque a nossa permanência nesta terra é uma vocação divina, uma bênção, é mesmo um privilégio. A chama da fé permanecerá viva como a estrela dos reis magos para nos indicar o caminho.
Temos necessidade do reconforto que vem da nossa fé absoluta na Providência de Divina: “em todas as nossas aflições, ele reconforta-nos; possamos nós, assim, reconfortar todos os que estão em desespero, graças ao reconforto que nós próprios recebemos de Deus” (Cor. 1; 4-5)
A luz da fé pode iluminar todos os aspectos da nossa vida, o nosso presente e o nosso futuro. Graças à fé, a nossa visão torna-se mais intensa, mais profunda, mais sublime e mais ampla. Vemos como o próprio Deus vê! Assim, a fé é uma sabedoria que nos faz tomar as boas decisões no momento oportuno. Mas se esta luz faltar “tudo se torna confuso, é impossível distinguir o bem do mal, o caminho que nos leva ao destino daquele que nos faz andar à volta, sem direção”. (Lumen Fidei 3). O que reforça a nossa fé é Deus ser todo-poderoso, onipresente, onisciente, fiel e amar-nos. Razão pela qual nada nos deve amedrontar, nem o presente, nem o futuro, nem as convulsões que afetam a que o olhar humano, sozinho, pode alcançar.
Oh Divino Menino, que viveste a fuga para Egito, depois das ameaças de Herodes que matou, há 2000 anos, as crianças Belém, tende piedade de nós. Tende piedade dos presos, dos pobres dos marginalizados e de nós , vulneráveis.
Oh Divino Menino, Deus de bondade e de misericórdia lança o teu olhar de bondade sobre o povo brasileiro e latino americano mas também sobre todos os povos do Oriente Médio. Dai a todos o dom da reconciliação para que se tornem irmãos–filhos de um só Pai. Oh Divino Menino, pedimos-te a paz pela intercessão da tua Mãe, a Virgem Maria. Feliz Natal e que a bênção do menino de Belém recaia sobre vós.
Homília de Padre Marcos inspirada no texto do Patriarca da cidade de Belém na Palestina.