Significado da Cruz
O que significa a Cruz em nossos dias? Esta é a questão que queremos nos colocar no início desta Semana Santa como uma luz para iluminar todo este tempo de graça, que estamos iniciando. Estamos muitos acostumados a ver a Cruz. Muitos trazem uma Cruz pendurada no peito. Nossas casas e tantos locais públicos ostentam uma Cruz em suas repartições. Essa popularização, digamos assim, indica que a Cruz representa algo para nós e tem uma importância simbólica de grande valor. Por isso, a questão poderá ser feita em duas direções: o que a Cruz significa em minha vida e, na segunda direção, o que a Cruz significa para nossa sociedade? Se é verdade que esta popularidade da Cruz soa como benéfica, não se pode esquecer que de tanto ver “cruzes”, de tanto nos acostumar com “cruzes”, ela passa despercebida a ponto de se tornar um símbolo enfraquecido ou, de até mesmo, sem a sua mensagem. Por mais que a Cruz esteja diante de nossos olhos nem sempre ela representa o que deveria representar para nossas vidas e para a nossa caminhada de fé.
O cenário da Cruz
Também o cenário onde a Cruz está plantada não é nada inspirador e causa afastamento e repulsa; um cenário que indica abandono. Na Cruz, Jesus é um abandonado. Ele se sente abandonado por todos e até mesmo por Deus. É dessa experiência de abandono que Jesus grita e exige satisfação da parte do Pai: “por que me abandonastes?”. Outro cenário é ocupado pelo centurião romano, um pagão que, ao contemplar a Cruz com Jesus lá pregado, reage dizendo: “verdadeiramente, este homem era Filho de Deus!” Duas identidades diferentes de Jesus: a identidade de um abandonado e a identidade de ser o Filho de Deus. No rosto desfigurado de Jesus esconde-se a dignidade divina. O cenário da Cruz, portanto, é um cenário de abandono e de escondimento. Nela vemos o abandono da humanidade a Jesus e nela vemos a presença divina, escondida no sofrimento humano de Jesus. De tanto ver “cruzes” diante de nossos olhos, deixamos de perceber e, pior ainda, esquecemos que nela se esconde o rosto divino desfigurado pelo sofrimento humano.
Estive com fome, com sede...
Jesus, em seus ensinamentos, deixou muito claro que ele se encontrava no pobre, no faminto, no sedento, no doente... nos sofredores. Jesus ensinou que se encontrava no abandonado, naquele que não tem ninguém por ele e até mesmo nos invisíveis de nossa sociedade e naquelas pessoas que vivem famintas implorando pão. São os rostos humanos de Jesus; mas são rostos desfigurados pela Cruz da fome, da sede, da necessidade de fugir de violências. Rostos de vida desfiguradas que carregam a Cruz do desemprego, carregam a cruz do medo de não conseguir pagar suas contas; carregam a Cruz da insegurança... como Jesus, essa gente também é abandonada na sociedade; abandonada por todos nós. A pergunta do início da reflexão — qual o significado da Cruz? — encontra aqui uma resposta existencial: a Cruz de Jesus continua significando o abandono e desfiguração da vida humana em tantas pessoas que vivem no sofrimento e são desfiguradas pelo sofrimento. A Cruz de Jesus continua significando a presença de Jesus escondida nos pobres, nos desempregados, nos que vivem na insegurança social, nos idosos, nos doentes... A Cruz de Jesus é uma realidade viva em nossos dias que não podemos evitar e que não temos como evitar. Iniciemos, pois, esta Semana Santa contemplando a Cruz de Jesus, pois ela tem o poder de nos tornar mais humanos através da fraternidade e do respeito pela dignidade da vida humana, mesmo que esta esteja desfigurada pelo peso da Cruz. Amém!
Abertura da Semana Santa
Domingo de Ramos
Benção dos Ramos e Procissão
Missa de Ramos e
Narrativa da Paixão