No
próximo fim de semana, em São Paulo, participarei como palestrante do 1º
Encontro Nacional dos Agentes da Pastoral da Saúde (CNBB). Na minha palestra
enfocarei os aspectos teológicos, morais e sociais da doutrina da Igreja sobre
a saúde e a doença.
Na
economia da salvação, a doença e o sofrimento estiveram sempre entre os
problemas mais graves que afligem a vida humana. Na doença, o homem experimenta
a sua incapacidade, os seus limites, a sua finitude. Qualquer enfermidade pode
fazer-nos entrever a morte. Mas a doença pode levar à angústia, ao fechar-se em
si mesmo e até, por vezes, ao desespero e à revolta contra Deus. Mas também
pode tornar uma pessoa mais amadurecida, ajudá-la a discernir, na sua vida, o
que não é essencial para se voltar para o que o é. Muitas vezes, a doença leva
à busca de Deus, a um regresso a Ele.
Comovido
por tanto sofrimento, Cristo não só Se deixa tocar pelos doentes, como também
faz suas as misérias deles: «Tomou sobre Si as nossas enfermidades e carregou
com as nossas doenças» (Mt 8, 17). Pela sua paixão e morte na cruz. Cristo deu
novo sentido ao sofrimento, que pode configurar-nos com Ele e unir-nos à sua
paixão redentora.
“Os
doentes são a figura de Jesus Cristo. Muitos comprovadamente delinquentes,
blasfemos, chegam inesperadamente ao hospital por disposição última da
misericórdia de Deus, que os quer salvos. Nos hospitais, a missão das irmãs,
dos médicos, dos enfermeiros, consiste em colaborar com esta infinita
misericórdia, ajudando, perdoando, sacrificando-se... Bem-aventurados nós,
médicos, tantas vezes incapazes de remover uma enfermidade, felizes de nós, se
levarmos em conta que, além de corpos, estamos em face de almas imortais, para
as quais urge o preceito evangélico de amá-las como a nós mesmos” (São José Moscatti,
médico).
“Doentes precisam de médico”, disse Jesus
(Lucas 5,31). Não estão de acordo com o Evangelho, os que, pensando confiar em
Deus, dispensam o recurso aos médicos. Ele mesmo não curou todos os doentes.
Por isso, nem as orações mais fervorosas obtêm sempre a cura de todas as
doenças. A vida e a saúde física são bens preciosos, confiados por Deus. Temos
a obrigação de cuidar razoavelmente desses dons, tendo em conta as necessidades
alheias e o bem comum. O cuidado da saúde dos cidadãos requer a ajuda da
sociedade para se conseguirem condições de vida que permitam crescer e atingir
a maturidade: alimentação, vestuário, casa, cuidados de saúde, ensino básico,
emprego e assistência social.
No
enfoque ético, “a moral natural e cristã mantém em toda a parte os seus
direitos imprescritíveis; é deles, e não de considerações de sentimentalismo,
de filantropia materialista, naturalista, que derivam os princípios essenciais
da deontologia médica; a dignidade do corpo humano, a superioridade da alma
sobre o corpo, a fraternidade de todos os homens, o domínio soberano de Deus
sobre a vida e sobre o destino” (Pio XII; radiomensagem ao VII Congresso
Internacional de Médicos Católicos, sobre a moral e o direito dos médicos,
11/8/1956).
Fonte:
Dom Fernando Arêas Rifan