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A
Liturgia da Palavra dá-nos, hoje, a orientação correta para vivermos
frutuosamente a Quaresma, tempo favorável de graça, dia de salvação. Penitência
e arrependimento não são caminho de tristeza, de depressão, mas caminho de luz
e de alegria, porque, se nos levam a reconhecer a nossa verdade de pecadores,
também nos abrem ao amor e à misericórdia de Deus.
O profeta, em nome de Deus, convida o povo a
percorrer o caminho da esperança, fazendo penitência; os apóstolos recebem de
Deus o ministério da reconciliação; a Igreja repete a boa nova: «É este o tempo
favorável~ é este o dia da salvação» (2 Cor 6, 2). Com todo o povo de Deus,
somos convidados a mudar o caminho, a
voltar-nos para o Senhor, a deixar-nos reconciliar, dando
a Cristo ocasião de tomar sobre Si o nosso
pecado, porque só Ele o conhece e pode expiar.
Renovados
pelo amor, podemos viver alegre e confiadamente na presença de Deus, nosso Pai,
cumprindo humildemente tudo quanto Lhe agrada e é útil para os irmãos. E a
presença do Pai, no mais íntimo de nós mesmos, garante-nos a verdadeira
alegria.
Jesus,
no evangelho, mostra-nos qual deve ser a nossa atitude quando praticamos obras
de penitência (tais como a esmola, a oração, o jejum), e insiste na retidão
interior, garantida pela intimidade com o Pai. Era essa a atitude e a
orientação do próprio Jesus em todas as suas palavras e obras. Nada fazia para
ser admirado pelos homens. Nós podemos ser tentados a fazer o bem para obtermos
a admiração dos outros. Mas essa atitude, por um lado, fecha-nos em nós mesmos,
por outro lado projeta-nos para fora de nós, tornando-nos dependentes da
opinião dos outros.
Há,
pois, que fazer o bem porque é bom, e porque Deus é Deus, e nos dá oportunidade
de vivermos em intimidade e solidariedade com Ele, para o bem dos nossos
irmãos. Estar cheios de Deus, viver na sua presença, é a máxima alegria neste
mundo, e garante-nos essa mesma situação, levada à perfeição, no outro.
Façamos
nesta Quaresma as obras de penitência que pudermos. Mas façamo-la na intimidade
e na presença do Senhor, que havemos de procurar na oração, na Eucaristia, na
comunidade... Não esqueçamos a ascese, especialmente a que nos é exigida pelo
fiel cumprimento dos nossos compromissos com Deus e com os irmãos.