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No
ano de 1908, nasceu Francisco Marto. Em 1910, Jacinta Marto. Filhos de Olímpia
de Jesus e Manuel Marto. Eles pertenciam a uma grande família; e eram os mais
novos de nove irmãos. A partir da primavera de 1916, a vida dos jovens santos
portugueses sofreria uma grande transformação: as diversas aparições do Anjo de
Portugal (o Anjo da Paz) na “Loca do Cabeço” e, depois, na “Cova da Iria”. A
partir de 13 de maio de 1917, Nossa Senhora apareceria por 6 vezes a eles.
“Apareceu
no Céu (…) uma mulher revestida de sol”: atesta o vidente de Patmos no
Apocalipse (12, 1), anotando ainda que ela “estava para ser mãe”. Depois
ouvimos, no Evangelho, Jesus dizer ao discípulo: “Eis a tua Mãe” (Jo 19,
26-27). Temos Mãe! Uma “Senhora tão bonita”: comentavam entre si os videntes de
Fátima a caminho de casa, naquele abençoado dia treze de maio de há cem anos
atrás. E, à noite, a Jacinta não se conteve e desvendou o segredo à mãe: “Hoje
vi Nossa Senhora”. Tinham visto a Mãe do Céu. Pela esteira que seguiam os seus
olhos, se alongou o olhar de muitos, mas… estes não A viram. A Virgem Mãe não
veio aqui, para que A víssemos; para isso teremos a eternidade inteira,
naturalmente se formos para o Céu.
Mas
Ela, antevendo e advertindo-nos para o risco do Inferno onde leva a vida –
tantas vezes proposta e imposta – sem-Deus e profanando Deus nas suas
criaturas, veio lembrar-nos a Luz de Deus que nos habita e cobre, pois, como
ouvíamos na Primeira Leitura, “o filho foi levado para junto de Deus” (Ap 12,
5). E, no dizer de Lúcia, os três privilegiados ficavam dentro da Luz de Deus
que irradiava de Nossa Senhora. Envolvia-os no manto de Luz que Deus Lhe dera.
No crer e sentir de muitos peregrinos, se não mesmo de todos, Fátima é
sobretudo este manto de Luz que nos cobre, aqui como em qualquer outro lugar da
Terra quando nos refugiamos sob a proteção da Virgem Mãe para Lhe pedir, como
ensina a Salve Rainha, “mostrai-nos Jesus”.
Queridos
peregrinos, temos Mãe. Agarrados a Ela como filhos, vivamos da esperança que
assenta em Jesus, pois, como ouvíamos na Segunda Leitura, “aqueles que recebem
com abundância a graça e o dom da justiça reinarão na vida por meio de um só,
Jesus Cristo” (Rm 5, 17). Quando Jesus subiu ao Céu, levou para junto do Pai
celeste a humanidade – a nossa humanidade – que tinha assumido no seio da
Virgem Mãe, e nunca mais a largará. Como uma âncora, fundeemos a nossa
esperança nessa humanidade colocada nos Céus à direita do Pai (cf. Ef 2, 6).
Seja esta esperança a alavanca da vida de todos nós! Uma esperança que nos
sustente sempre, até ao último respiro.
Com
esta esperança, nos congregamos aqui para agradecer as bênçãos sem conta que o
Céu concedeu nestes cem anos, passados sob o referido manto de Luz que Nossa
Senhora, a partir deste esperançoso Portugal, estendeu sobre os quatro cantos
da Terra. Como exemplo, temos diante dos olhos São Francisco Marto e Santa
Jacinta, a quem a Virgem Maria introduziu no mar imenso da Luz de Deus e aí os
levou a adorá-Lo. Daqui lhes vinha a força para superar contrariedades e
sofrimentos. A presença divina tornou-se constante nas suas vidas, como se
manifesta claramente na súplica instante pelos pecadores e no desejo permanente
de estar junto a “Jesus Escondido” no Sacrário.
Nas
suas Memórias (III, n. 6), a Irmã Lúcia dá a palavra à Jacinta que beneficiara
duma visão: “Não vês tanta estrada, tantos caminhos e campos cheios de gente, a
chorar com fome, e não tem nada para comer? E o Santo Padre numa Igreja, diante
do Imaculado Coração de Maria, a rezar? E tanta gente a rezar com ele?” Irmãos
e irmãs, obrigado por me acompanhardes! Não podia deixar de vir aqui venerar a
Virgem Mãe e confiar-lhe os seus filhos e filhas. Sob o seu manto, não se
perdem; dos seus braços, virá a esperança e a paz que necessitam e que suplico
para todos os meus irmãos no Batismo e em humanidade, de modo especial para os
doentes e pessoas com deficiência, os presos e desempregados, os pobres e
abandonados. Queridos irmãos, rezamos a Deus com a esperança de que nos escutem
os homens; e dirigimo-nos aos homens com a certeza de que nos vale Deus.
Pois
Ele criou-nos como uma esperança para os outros, uma esperança real e
realizável segundo o estado de vida de cada um. Ao “pedir” e “exigir” o
cumprimento dos nossos deveres de estado (carta da Irmã Lúcia, 28/II/1943), o
Céu desencadeia aqui uma verdadeira mobilização geral contra esta indiferença
que nos gela o coração e agrava a miopia do olhar. Não queiramos ser uma
esperança abortada! A vida só pode sobreviver graças à generosidade de outra
vida. “Se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica ele só; mas, se
morrer, dá muito fruto” (Jo 12, 24): disse e fez o Senhor, que sempre nos
precede. Quando passamos através dalguma cruz, Ele já passou antes. Assim, não
subimos à cruz para encontrar Jesus; mas foi Ele que Se humilhou e desceu até à
cruz para nos encontrar a nós e, em nós, vencer as trevas do mal e trazer-nos
para a Luz.
Sob
a proteção de Maria, sejamos, no mundo, sentinelas da madrugada que sabem
contemplar o verdadeiro rosto de Jesus Salvador, aquele que brilha na Páscoa, e
descobrir novamente o rosto jovem e belo da Igreja, que brilha quando é
missionária, acolhedora, livre, fiel, pobre de meios e rica no amor.
Fonte: Canção Nova