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A
questão fundamental expressa no episódio da transfiguração está na revelação de
Jesus como o Filho amado de Deus, que vai concretizar o projeto salvador e
libertador do Pai em favor dos homens através do dom da vida, da entrega total
de si próprio por amor. Pela transfiguração de Jesus, Deus demonstra aos
crentes de todas as épocas e lugares que uma existência feita dom não é
fracassada - mesmo se termina na cruz. A vida plena e definitiva espera, no
final do caminho, todos aqueles que, como Jesus, forem capazes de pôr a sua
vida ao serviço dos irmãos.
Na
verdade, os homens do nosso tempo têm alguma dificuldade em perceber esta
lógica... Para muitos dos nossos irmãos, a vida plena não está no amor levado
até às últimas consequências (até ao dom total da vida), mas sim na preocupação
egoísta com os seus interesses pessoais, com o seu orgulho, com o seu pequeno
mundo privado; não está no serviço simples e humilde em favor dos irmãos
(sobretudo dos mais débeis, dos mais marginalizados e dos mais infelizes), mas
no assegurar para si próprio uma dose generosa de poder, de influência, de
autoridade e de domínio, que dê a sensação de pertencer à categoria dos
vencedores; não está numa vida vivida como dom, com humildade e simplicidade,
mas numa vida feita um jogo complicado de conquista de honras, de glórias e de
êxitos. Na verdade, onde é que está a realização plena do homem? Quem tem
razão: Deus, ou os esquemas humanos que hoje dominam o mundo e que nos impõem
uma lógica diferente da lógica do Evangelho?
Por
vezes somos tentados pelo desânimo, porque não percebemos o alcance dos
esquemas de Deus; ou então, parece que, seguindo a lógica de Deus, seremos
sempre perdedores e fracassados, que nunca integraremos a elite dos senhores do
mundo e que nunca chegaremos a conquistar o reconhecimento daqueles que caminham
ao nosso lado... A transfiguração de Jesus grita-nos, do alto daquele monte:
não desanimeis, pois a lógica de Deus não conduz ao fracasso, mas à
ressurreição, à vida definitiva, à felicidade sem fim.
Os
três discípulos, testemunhas da transfiguração, parecem não ter muita vontade
de "descer à terra" e enfrentar o mundo e os problemas dos homens.
Representam todos aqueles que vivem de olhos postos no céu, desatentos da
realidade concreta do mundo, sem vontade de intervir para o renovar e transformar.
No entanto, ser seguidor de Jesus obriga a "regressar ao mundo" para
testemunhar aos homens - mesmo contra a corrente - que a realização autêntica
está no dom da vida; obriga a atolarmo-nos no mundo, nos seus problemas e
dramas, a fim de dar o nosso contributo para o aparecimento de um mundo mais
justo e mais feliz. A religião não é um ópio que nos adormece, mas um
compromisso com Deus, que se faz compromisso de amor com o mundo e com os
homens.