quarta-feira, fevereiro 27, 2013

BENTO XVI NA ÚLTIMA AUDIÊNCIA GERAL - 200 MIL FIÉIS NA PRAÇA DE SÃO PEDRO

Na véspera de deixar o ministério petrino (amanhã, quinta-feira, 28 de fevereiro, às 20 horas), o Papa quis, antes de mais, “dar graças de todo o coração a Deus, que guia e faz crescer a Igreja, que semeia a sua Palavra, alimentando assim a fé no seu Povo”.
Bento XVI alargou o seu olhar a toda a Igreja e a todo o mundo, assegurando levar a todos no coração, na oração, confiando tudo e todos ao Senhor. E declarou viver este momento com “grande confiança”, na certeza de que “a Palavra de verdade do Evangelho é a força da Igreja, é a sua vida”. “É esta a minha confiança, a minha alegria”.
Foi neste contexto que Bento XVI evocou o dia 19 de abril de 2005, quando assumiu o ministério de Pedro. Ouçamos as palavras com que, mais adiante nesta audiência, o Papa resumiu em português o essencial desta sua alocução: 

Queridos irmãos e irmãs,
No dia dezanove de Abril de dois mil e cinco, quando abracei o ministério petrino, disse ao Senhor: «É um peso grande que colocais aos meus ombros! Mas, se mo pedis, confiado na vossa palavra, lançarei as redes, seguro de que me guiareis». E, nestes quase oito anos, sempre senti que, na barca, está o Senhor; e sempre soube que a barca da Igreja não é minha, não é nossa, mas do Senhor. Entretanto não é só a Deus que quero agradecer neste momento. Um Papa não está sozinho na condução da barca de Pedro, embora lhe caiba a primeira responsabilidade; e o Senhor colocou ao meu lado muitas pessoas que me ajudaram e sustentaram. Porém, sentindo que as minhas forças tinham diminuído, pedi a Deus com insistência que me iluminasse com a sua luz para tomar a decisão mais justa, não para o meu bem, mas para o bem da Igreja. Dei este passo com plena consciência da sua gravidade e inovação, mas com uma profunda serenidade de espírito.

Na alocução mais desenvolvida, em italiano, Bento XVI convidou todos a renovarem a sua firme confiança no Senhor, a confiarem-se “como crianças nos braços de Deus (disse), na certeza de que esses braços sempre nos sustentam, permitindo-nos caminhar dia após dia, apesar da fadiga”. 
“Agradeçamos ao Senhor por cada um dos nossos dias, com a oração e com uma vida cristã coerente. Deus ama-nos, mas espera também que nós o amemos!” Mas não foi só a Deus que Bento XVI quis agradecer neste momento especial da sua vida e antes da conclusão do seu pontificado. Na verdade – recordou – “um Papa nunca está sozinho na condução da barca de Pedro, embora lhe toque a primeira responsabilidade”.

“Nunca me senti sozinho na (responsabilidade) de levar a alegria e o peso do ministério petrino. O Senhor pôs ao meu lado muitas pessoas que, com generosidade e amor a Deus e à Igreja, me ajudaram com a sua proximidade”.

E aqui o Papa mencionou expressamente: os cardeais, cuja “sageza, conselhos e amizade foram preciosos”, prosseguindo com os colaboradores mais diretos, desde o Secretário de Estado mas incluindo todos os que estão ao serviço da Santa Sé, muitos deles “na sombra, no silêncio e na dedicação quotidiana, com espírito de fé e de humildade”, “um apoio seguro e fiável”. Uma palavra de gratidão também ao Corpo Diplomático, representantes das Nações, e a “todos os que trabalham para uma boa comunicação”, um “importante serviço”. Menção de especial e afetuosa gratidão à “sua” diocese de Roma, a todos os irmãos no episcopado e no presbiterado, todos e todas as consagradas, e todo o Povo de Deus… “nas visitas pastorais, nos encontros, nas audiências, nas viagens, sempre adverti grande atenção e profundo afeto; mas também eu quis bem a todos e a cada um, sem distinções, com aquela caridade pastoral que é o coração de cada Pastor, sobretudo do Bispo de Roma, do Sucessor do Apóstolo Pedro. Cada dia levei na oração cada um de vós , com coração de pai”. 

Bento XVI agradeceu também de todo o coração as numerosas pessoas de todo o mundo que nas últimas semanas lhe enviaram – disse – “comoventes sinais de atenção, amizade e oração”.
“Sim, o Papa nunca está só, experimento-o agora uma vez mais, de um modo tão grande que toca o coração. O Papa pertence a todos e tantíssimas pessoas sentem-se muito perto dele”.

Não foram só os “grandes do mundo” (chefes de Estado, chefes religiosos, representantes do mundo da cultura…) a escrever – esclareceu Bento XVI. Chegaram-lhe “também muitas cartas de pessoas simples”, que exprimem o que o coração lhes dita mostrando “todo o seu afeto, que nasce do estar conjuntamente com Cristo Jesus, na Igreja”…

Bento XVI poderá ser chamado "Papa Emérito ou Romano Pontífice Emérito", esclareceu ontem o Padre Federico Lombardi durante o briefing com os jornalistas na Sala de Imprensa do Vaticano. Salientou igualmente que o Santo Padre está recebendo de todo o mundo muitas mensagens de parabéns, gratidão e apoio.

Joseph Ratzinger continuará a ser "Sua Santidade Bento XVI" e poderá ser chamado "Papa Emérito ou Romano Pontífice Emérito". Assim, o Diretor da Sala de Imprensa do Vaticano, Padre Federico Lombardi dissipou as perguntas recorrentes de jornalistas sobre como dirigir-se ao Pontífice depois de 28 de Fevereiro. A decisão sobre o nome foi tomada de acordo com o próprio Papa.


Na quinta-feira de manhã, às 11 horas, haverá a saudação pessoal dos cardeais que estiverem já em Roma. Às 16.55 Bento XVI do Pátio de São Dâmaso irá ao heliporto, onde receberá a saudação do Cardeal Decano. Vinte minutos depois, prevê-se a chegada em Castel Gandolfo, onde será recebido, entre outros, pelo cardeal Joseph Bertello, Presidente do Governatorato do Estado da Cidade do Vaticano, pelo Bispo de Albano, Dom Marcello Semeraro, pelo prefeito e o Pároco de Castel Gandolfo. Por volta das 17.30, o Papa aparecerá na varanda central do Palácio Apostólico para "o último acto público". Às 20 horas, quando iniciar a Sede Vacante, a Guarda Suíça cessará o seu serviço em Castel Gandolfo terminando o ministério do Santo Padre como Papa. Provavelmente, fechará a porta de Castel Gandolfo, concluindo também o seu serviço de guarda.

O Cardeal Decano enviará no dia 1 de Março, quando a Sede Vacante tiver já iniciado, as cartas de convocação para as Congregações dos Cardeais. E "provavelmente - disse o Diretor da Sala de Imprensa do Vaticano – a primeira reunião não acontecerá antes de segunda-feira 4 de Março", e será na Nova Sala do Sínodo. Também esclareceu em seguida que os cardeais irão morar na residência Sanctae Marthae apenas nas vésperas do Conclave e que os quartos serão sorteados, conforme previsto pela Constituição.