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Hoje,
a Igreja convida-nos a viver este dia e realizar esta celebração em silêncio.
Reconheço que não é um exercício fácil, este de silenciar, até mesmo na
Sexta-feira Santa, porque temos dificuldade de calar nossa boca e calar nossos
ouvidos, já que, até mesmo na Sexta-feira Santa temos muitas atrações que
impedem silenciar. O silêncio é necessário para podermos penetrar no Mistério
da Cruz de Jesus Cristo. O silêncio é a atitude do contemplativo, daquele que
não faz barulho em sua cabeça querendo entender a Cruz com explicações ou
teorias. O silêncio é a atitude do contemplativo e é esta atitude que somos
convidados a ter no dia de hoje. Se, por algum motivo, você não pôde silenciar
até este momento, procure colocar-se diante da Cruz para simplesmente contemplá-la
sem querer entender ou buscar significados e explicações.
Vou
me servir de um termo usado nas celebrações natalinas: epifania. É um termo
grego que significa manifestação; manifestação da presença divina entre nós.
Hoje, vou emprestar este termo da Liturgia natalina para ajudar-nos a
compreender que a Cruz é a epifania do amor divino. A Cruz é a manifestação, o
local, o momento onde Deus manifesta o seu amor por nós. Também Jesus, chagado
no alto da Cruz, é a grande epifania, a grande manifestação do amor divino por
nós. Como ouvimos na 1ª leitura, o cenário do Calvário e da Cruz não é
atraente; em certo sentido, é repulsivo. A 1ª leitura ajuda-nos a compreender
que o corpo chagado de Jesus é a manifestação do pecado de toda a humanidade.
De uma humanidade sofredora, violenta e violentada pelo pecado, pelo mal e pela
maldade. Uma humanidade ensanguentada por crimes, sufocada até a morte, bebendo
o vinagre de vidas sem sentido. É esta humanidade, diz a 2ª leitura, com o
corpo chagado de Jesus, que entra no santuário eterno para ser purificada e
oferecer um sacrifício vivo e agradável ao Pai.
A
2ª leitura ajuda-nos a refletir o efeito da Cruz para toda a humanidade,
considerando a Cruz como o altar onde Jesus, o sumo e eterno sacerdote, oferece
em seu corpo a vida humana, chagada pelos pecados, repleta de fraquezas e
debilidades. A Cruz, como epifania do amor divino, não é somente representação
da morte, é o altar onde Jesus sacerdote oferece a vida humana em sacrifício,
em oblação agradável a Deus. Na Cruz, Jesus não camufla a condição humana
marcada pelo pecado; ele a torna visível no seu corpo está chagado. Oferece no
seu corpo a vida humana entre forte clamor e lágrimas para que fosse salvo da
morte. E foi atendido. A Cruz, o altar do sumo-sacerdote Jesus, tornou-se, para
todo o sempre, a fonte da nossa Salvação. A morte de Jesus, na Cruz, foi sua
oferta definitiva para que eternamente, nossa vida humana, pudesse acolher o
Espírito Santo e participar da santidade divina. Por isso, hoje, contemplamos a
Cruz de Jesus, adoramos esta Cruz e a proclamamos como bendita e louvada. Amém!