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Perante
a visão de Deus, Isaías treme de medo porque se dá conta da sua fragilidade e
necessidade de purificação, e porque é membro de um povo também ele carecido de
ser purificado: «Ai de mim, estou perdido, porque sou um homem de lábios
impuros, que habita no meio de um povo de lábios impuros» (v. 5). Deus
purifica-o, e Isaías dispõe-se a ser profeta no meio do seu povo: «Um dos
serafins...trazia na mão uma brasa viva... tocou na minha boca e disse: foi
afastada a tua culpa, e apagado o teu pecado!.. Então eu disse: «Eis-me aqui,
envia-me».
O
temor de Deus é uma atitude complexa em que confluem o respeito reverente, a
obediência, a adesão profunda, a adoração, o amor. Foi sentido por muitos
profetas e santos, que fizeram a experiência do encontro com Deus, três vezes
santo. Diante Dele, damo-nos conta da nossa condição de criaturas e da impureza
da nossa vida. Já o salmista rezava: «Senhor, nosso Deus, como é admirável o
teu nome em toda a terra! Adorarei a tua majestade, mais alta que os céus...
que é o homem para te lembrares dele, o filho do homem para com ele te
preocupares?" Mas, se nos deixarmos penetrar por esta atitude, também
poderemos ter toda a confiança na sua misericórdia. Jesus une o temor de Deus e
a confiança: «Não se vendem dois pássaros por uma pequena moeda? E nem um deles
cairá por terra sem o consentimento do vosso Pai! ... Não temais, pois valeis
mais do que muitos pássaros» (vv. 29.31)
Ambas
as leituras nos falam da experiência de temor na presença de Deus, que Se nos
revela e chama a uma missão. Mas também em ambas as leituras escutamos a
palavra do Senhor que nos diz: «não tenhas medo», «não temais». Aquele que nos
ama, nos chama e nos envia, purifica-nos e está conosco: «Não temas: eu estarei
contigo»; «não temais, eu estarei convosco» (Ex 3, 12; Dt 31, 6; 31, 15; 1 Cr 28,
20; Jr 1, 17; 46, 28; 30, 11). A Virgem Maria também experimentou a sua
condição de criatura limitada e frágil perante a grandeza e poder de Deus, no
dia da Anunciação. Por isso, o Anjo lhe diz: «Não tenhas medo, Maria » (Lc 1,
30).
O
medo e a desconfiança, na relação com Deus, mas também na relação conosco ou
com os outros, paralisam-nos, transformam-nos em escravos. Mas Paulo
adverte-nos: «Vós não recebestes um espírito de escravidão para recair no medo,
mas recebestes um espírito de filhos adotivos, por meio do qual gritamos:
"Abbá, Pai!". O mesmo Espírito atesta ao nosso espírito que somos
filhos de Deus» (Rm 8, 15-16). «Se vivemos do Espírito, caminhemos segundo o
Espírito» (Gl 5, 25). Na relação com Deus, embora conhecendo os nossos limites
e os nossos pecados, temos consciência de estar perante um Pai, cheio de amor e
de misericórdia. No exercício da missão que nos confia, na sua obra de salvação
do mundo, sabemos que não estamos sós, mas que Ele está conosco.