Ela é
para nós escola de fé destinada a nos conduzir e a nos fortalecer no caminho
que conduz ao encontro com o Criador do céu e da terra... ‘Permaneçam na escola
de Maria. Inspirem-se em seus ensinamentos... Quando a Virgem de Guadalupe
apareceu ao índio São Juan Diego, disse-lhe estas significativas palavras: “Não
estou eu aqui que sou tua mãe? Não estás sob minha proteção? Não sou a fonte de
tua alegria? Não estás sob meu manto, no cruzar de meus braços?’ (Bento XVI)”
(Doc. Aparecida, 269-270 e discurso inaugural). Que ela seja também a força e a
luz da “nova Evangelização para a transmissão da Fé cristã”.
A fé
coerente produz uma nova conversão, a mudança de mentalidade (“metánoia”, em
grego) que pregava São João Batista, consequência natural de quem colocou
Cristo em sua vida. Conversão que exige violência para conosco, ou seja, o
“agir contra” de Santo Inácio de Loyola. Essa é a violência que Deus quer de
nós: a luta contra nossas paixões desordenadas, contra o pecado e o mal: “O
Reino dos Céus é conquistado à força, e são os violentos que o conquistam” (Mt
11,12). Não é apenas com um verniz
cristão, combinada com uma vida mole, que seremos fiéis ao nosso Batismo.
Não
foi isso que se propuseram os nossos primeiros missionários que, deixando o
conforto de seus países, aqui derramaram suor, lágrimas e sangue para
evangelizar o novo mundo. Violentos contra suas próprias paixões e cheios de
mansidão para com o próximo: “Bem-aventurados os que promovem a paz” (Mt 5, 9):
esse é o programa cristão.
Falando
ultimamente sobre o “sensus fidelium ou sensus fidei”, o nosso Papa teólogo
explica que “o mesmo ‘sentido sobrenatural da fé’ é também um baluarte contra o
preconceito de que ‘as religiões, e especialmente as religiões monoteístas,
seriam intrinsecamente portadoras de violência, principalmente por causa da
alegação de que elas ultrapassam a existência de uma verdade universal’, enquanto
que, pelo contrário, o ‘politeísmo dos valores’ garantiria ‘a tolerância e a
paz civil’.
Jesus em primeiro lugar, terminando na cruz, “atesta uma rejeição
radical de toda forma de ódio e violência em favor do primado absoluto do
ágape". Qualquer forma de violência cometida em nome de Deus, não é
portanto, devida ao monoteísmo, mas sim “a causas históricas, principalmente
aos erros dos homens.”
Pelo contrário, é o “esquecimento de Deus”, que,
juntamente com o relativismo e a negação de uma verdade objetiva, “gera
inevitavelmente a violência”, porque é negado o diálogo. Se não houver abertura
para o transcendente “o homem torna-se incapaz de agir de acordo com a justiça
e de comprometer-se pela paz” (Bento XVI, audiência à Comissão Teológica
Internacional, 7/12/2012).
Preparando-nos
para celebrar o nascimento do “Príncipe da Paz” (Is 9,6), Jesus Cristo, em cujo
Natal os anjos, mensageiros de Deus, cantaram “Glória a Deus nas alturas e paz
na terra aos homens que ele ama” (Lc 2, 14), reflitamos que jamais se pode usar
sua religião como instrumento de violência. “Senhor, fazei de mim um
instrumento da vossa paz” (São Francisco de Assis).
*Bispo
da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney