quinta-feira, dezembro 13, 2012

A FÉ E A VIOLÊNCIA por Dom Fernando Arêas Rifan*


Ela é para nós escola de fé destinada a nos conduzir e a nos fortalecer no caminho que conduz ao encontro com o Criador do céu e da terra... ‘Permaneçam na escola de Maria. Inspirem-se em seus ensinamentos... Quando a Virgem de Guadalupe apareceu ao índio São Juan Diego, disse-lhe estas significativas palavras: “Não estou eu aqui que sou tua mãe? Não estás sob minha proteção? Não sou a fonte de tua alegria? Não estás sob meu manto, no cruzar de meus braços?’ (Bento XVI)” (Doc. Aparecida, 269-270 e discurso inaugural). Que ela seja também a força e a luz da “nova Evangelização para a transmissão da Fé cristã”.

A fé coerente produz uma nova conversão, a mudança de mentalidade (“metánoia”, em grego) que pregava São João Batista, consequência natural de quem colocou Cristo em sua vida. Conversão que exige violência para conosco, ou seja, o “agir contra” de Santo Inácio de Loyola. Essa é a violência que Deus quer de nós: a luta contra nossas paixões desordenadas, contra o pecado e o mal: “O Reino dos Céus é conquistado à força, e são os violentos que o conquistam” (Mt 11,12).  Não é apenas com um verniz cristão, combinada com uma vida mole, que seremos fiéis ao nosso Batismo.

 Não foi isso que se propuseram os nossos primeiros missionários que, deixando o conforto de seus países, aqui derramaram suor, lágrimas e sangue para evangelizar o novo mundo. Violentos contra suas próprias paixões e cheios de mansidão para com o próximo: “Bem-aventurados os que promovem a paz” (Mt 5, 9): esse é o programa cristão.

Falando ultimamente sobre o “sensus fidelium ou sensus fidei”, o nosso Papa teólogo explica que “o mesmo ‘sentido sobrenatural da fé’ é também um baluarte contra o preconceito de que ‘as religiões, e especialmente as religiões monoteístas, seriam intrinsecamente portadoras de violência, principalmente por causa da alegação de que elas ultrapassam a existência de uma verdade universal’, enquanto que, pelo contrário, o ‘politeísmo dos valores’ garantiria ‘a tolerância e a paz civil’. 

Jesus em primeiro lugar, terminando na cruz, “atesta uma rejeição radical de toda forma de ódio e violência em favor do primado absoluto do ágape". Qualquer forma de violência cometida em nome de Deus, não é portanto, devida ao monoteísmo, mas sim “a causas históricas, principalmente aos erros dos homens.”

 Pelo contrário, é o “esquecimento de Deus”, que, juntamente com o relativismo e a negação de uma verdade objetiva, “gera inevitavelmente a violência”, porque é negado o diálogo. Se não houver abertura para o transcendente “o homem torna-se incapaz de agir de acordo com a justiça e de comprometer-se pela paz” (Bento XVI, audiência à Comissão Teológica Internacional, 7/12/2012).

Preparando-nos para celebrar o nascimento do “Príncipe da Paz” (Is 9,6), Jesus Cristo, em cujo Natal os anjos, mensageiros de Deus, cantaram “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens que ele ama” (Lc 2, 14), reflitamos que jamais se pode usar sua religião como instrumento de violência. “Senhor, fazei de mim um instrumento da vossa paz” (São Francisco de Assis).

*Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney