Depois de 20 séculos de cristianismo é difícil ouvir
as instruções de Jesus aos seus sem empalidecer. Não se trata de vivê-las ao pé
da letra. Não. Trata-se simplesmente de não atuar contra o espírito que elas
contêm.
Jesus envia seus discípulos pelas aldeias da Galileia
como “cordeiros no meio de lobos”. Quem crê hoje que esta deve ser nossa
identidade numa sociedade atravessada por todo tipo de conflitos e
enfrentamentos? E, no entanto, não precisamos entre nós de mais lobos, e sim de
mais cordeiros.
Cada vez que, da parte da Igreja ou de seu entorno, se alimenta
a agressividade e o ressentimento, ou se lançam insultos e ataques que tornam
mais difícil o entendimento mútuo, estamos agindo contra o espírito de Jesus.
A “primeira coisa” que os discípulos de Jesus devem
comunicar ao entrarem numa casa é: “PAZ A ESTA CASA”, a paz é o primeiro sinal
do reino de Deus. Se a Igreja não introduz paz na convivência , nós cristãos
estamos anulando pela raiz nossa tarefa primeira.
A outra instrução é mais desconcertante: “NÃO LEVEIS
BOLSA, NEM ALFORJE, NEM SANDÁLIAS”. É claro que Jesus nos pede um
empobrecimento material , porém o surpreendente é que Jesus não está pensando
no que devem levar consigo, mas precisamente no contrário: naquilo que não devem
levar, para não se distanciarem demasiado dos pobres.
Como se traduzir hoje este espírito de Jesus numa
sociedade do bem-estar? Não simplesmente recorrendo a um traje que nos
identifique como membros de uma instituição religiosa ou responsáveis por um
cargo na Igreja. Precisamos, cada um de nós, rever com humildade que nível de
vida, que comportamentos, que palavra, que atitude nos identificam melhor com
os últimos.
O Evangelho não é só nem sobretudo uma doutrina, o
Evangelho é a pessoa de Jesus: a experiência humanizadora, salvadora,
libertadora que começou com Ele. Por isso, evangelizar não é só propagar uma
doutrina, mas tornar presente, no próprio coração da sociedade e da vida , a
força salvadora da pessoa de Jesus Cristo.E isto não se pode fazer de qualquer
maneira.
“Pai
santo, Senhor do céu e da terra, por Cristo, Senhor nosso. Pela vossa Palavra
criastes o universo e em vossa justiça tudo governais. Tendo-se encarnado, vós
nos destes o vosso Filho como mediador. Ele nos dirigiu a vossa palavra,
convidando-nos a seguir seus passos. Ele é o caminho que conduz para vós, a
verdade que nos liberta e a vida que nos enche de alegria. Por vosso Filho,
reunis em uma só família os homens e as mulheres, criados para a glória de Vosso Nome, redimidos pelo Sangue de sua Cruz e marcados com o Selo do vosso Espírito”.
Para tornar presente esta experiência libertadora, os
meios mais adequados não são os de poder, mas os meios pobres dos quais se
serviu o próprio Jesus: amor solidário aos abandonados, acolhida a cada pessoa, oferecimento do perdão de Deus, criação de uma comunidade fraterna, defesa
dos últimos.
Então, o importante é contar com testemunhas em cuja
vida se possa perceber a força humanizadora contida na pessoa de Jesus quando é
acolhida de maneira responsável. A formação doutrinal é importante, mas só
quando alimenta uma vida evangélica.
O TESTEMUNHO TEM PRIMAZIA ABSOLUTA. LEVAI CONVOSCO MEU ESPÍRITO.