Podemos ajudar com caridade o nosso próximo, levando-o a reconhecer o erro,
aclarando a consciência, infundindo coragem e força, edificando e construindo.
Viver é
relacionar-se. Eis um paradigma que se comprova no cotidiano, no modo como nos
relacionamos com as pessoas e com os acontecimentos. Do modo como nos
relacionamos, viveremos em harmonia e em paz, ou, desarmonizados e em brigas.
Muita gente vive triste porque se relaciona mal, incapaz de um contato
verdadeiro e sincero. O relacionamento cristão fundamenta-se no amor, seja com
os fatos da vida, que evita irritações destemperadas, seja com os outros, pela
fraternidade, que favorece a paz interior. Paulo diz que o relacionamento no
amor fraterno é o cumprimento pleno da lei (2ª leitura) porque, se
existe amor cria-se a impossibilidade de prejudicar o próximo com
agressividades que machucam o corpo ou o coração.
O ponto alto do relacionamento amoroso e fraterno é o perdão, porque só é capaz de perdoar quem cultiva amor no seu coração. Um rancoroso jamais conseguirá perdoar, porque seus relacionamentos são irritadiços. Dada nossa natureza humana, é impossível um relacionamento 100% de entendimento; sempre temos e teremos desentendimentos. Alguns podem fugir de nosso controle e provocar danos profundos na vida de pessoas com quem convivemos.
Existem diferentes graus de desentendimentos e tudo depende no modo como nos relacionamos com eles: se remoemos desentendimentos em nós, possibilitamos a criação de mágoas e raivas em nossos corações; se somos capazes de perdoar quem nos ofende e nos ofendeu, como rezamos no Pai nosso, possibilitamos a criação da paz interior e da serenidade.
A cura de mágoas no coração acontece pelo perdão, de onde a insistência de Jesus para buscar o perdão de todas as formas e em todos os momentos da vida (Evangelho). Perdoar-se e oferecer perdão é remédio que cura e restabelece a vida a partir do amor cultivado no coração.
Na luz do relacionamento amoroso inclui-se também a correção fraterna (1ª leitura e Evangelho). A correção fraterna não se propõe a “reformar” o outro, mas em favorecer no outro um processo capaz de introduzir novos comportamentos e novas atitudes. Por isso, só é capaz de corrigir quem se faz irmão e quem ama; sem amor e sem fraternidade a correção torna-se dominação e promove relacionamentos agressivos de cobranças. A correção fraterna tem a finalidade de reorientar a vida para o bem, mudando rumos de vida que conduzem à morte (1ª leitura) para preservar a vida do outro, seja no presente e em vista do futuro. Por isso, a correção é um gesto de amor, de caridade fraterna.
Os passos propostos por Jesus para a correção fraterna a caracterizam como processo com duas condições: discrição e paciência. Chamar o outro e ser discreto para que abra os olhos e se corrija e, na necessidade de reforçar a correção, indicar outras pessoas que possam ajudá-lo a não perder a vida (Evangelho). Mas, a correção tem um limite e este não está em quem se dispõe a corrigir, mas em quem recusa a correção. Quando o processo de corrigir não der resultado, então é preciso ficar de consciência tranquila (1ª leitura e Evangelho)porque a recusa do caminho do bem e da vida impede a ação do amor em quem está necessitado da correção.
- Uma Liturgia que faz pensar
Trago esse tema da família em minha homilia por dois motivos: pela proximidade do Sínodo; já que estamos tão perto, vamos nos preparar pensando e rezando pelo bom êxito do Sínodo. O outro motivo, é que a Palavra que ouvimos coloca-nos em sintonia com o tema familiar, especialmente presente no tema da correção fraterna. Todos temos alguma experiência que a correção fraterna é uma necessidade na família. Uma família que sabe corrigir-se fraternalmente viverá bem, na amizade e no respeito porque, como diz São Paulo, na 2ª leitura: não ficará devendo nada a ninguém (na família) a não ser o amor mútuo. Corrigir é um gesto de amor, desde que a correção seja fraterna, isto é, seja feita com amor e por amor. Não é fácil, porque nossas reações diante de atitudes corretivas dos pais ou mesmo dos filhos nem sempre são amorosas, nem sempre seguimos o conselho de Jesus, no Evangelho, de corrigir alguém em particular. Em vez de conversar para propor um novo modo de agir, tendemos a apontar erros e condenar.
- Agressões dentro de casa
O texto evangélico que ouvimos fundamenta a clássica “correctio fraterna” — correção fraterna. A palavra “correção” é composta por “cor”, que em latim significa “coração” e pelo verbo “regere”, que em latim significa “organizar”. Numa tradução bem coloquial, significa ajudar a reorganizar a vida; reorganizar o caminho. Alguém que estava caminhando em estradas tortas e perigosas é corrigido, quer dizer, ouve uma proposta para mudar de direção e se encaminhar para o caminho do bem.
A 1ª leitura dizia que o ímpio, aquele que vive longe de
Deus, caminha para a morte, porque está num caminho que o leva a perder a vida.
A correção, portanto, tem a finalidade de salvar a vida, de reorientar o
caminho, de mostrar qual o caminho para viver bem e melhor. O problema é que
isso nem sempre é feito de modo amoroso. A tendência, ao ver o mal,
especialmente nas famílias, é partir para julgamentos, apontar o erro e para o
ataque agressivo, de onde surgem as brigas, as discussões acaloradas, as
agressividades nos filhos e os revides que os filhos fazem aos pais, com suas
desobediências. Corrigir é um ato de amor e feito com amor. E isso nem sempre é fácil, principalmente quando temos pessoas com
temperamentos agitados dos dois lados.
cf. liturgia.pro