A nossa espiritualidade cristã é denominada também como espiritualidade evangélica. Ou, espiritualidade que se fundamenta, que se ilumina, no Evangelho. Hoje, se fala de espiritualidade com outros tons e cores, como por exemplo: espiritualidade econômica, espiritualidade psicológica, espiritualidade religiosa... A espiritualidade econômica, por exemplo, é uma espiritualidade de quem cultiva em seu espírito os valores do ter, do poder, de conquistas financeiras. Compreendemos que quem assim age tem todas as condições para se tornar avarento, mesquinho, egoísta... porque seu espírito está voltado para o capital. A espiritualidade cristã fundamenta-se nos valores do Evangelho: no amor, na caridade, na fé, na esperança, na partilha... e, neste tempo especial do Ano Santo, destacamos o valor espiritual da misericórdia. Uma espiritualidade que, como ensina Jesus no Evangelho que ouvimos, a ser cultivada discretamente, sem alarde e sem trombetas, mas com um sorriso sereno nos lábios, própria de quem convive com uma grande paz em seu coração.
Ano Santo da Misericórdia e Quaresma
No decorrer desta Quaresma, teremos oportunidade de refletir profundamente sobre a atividade misericordiosa de Deus em nossas vidas. Já fizemos referência, em outras reflexões, que misericórdia não significa somente ter sentimentos de dó e de piedade para com os outros, mas que misericórdia significa ter atitude de aproximação, de acolhimento, de compreensão para com todos, especialmente aqueles que são miseráveis, aqueles que sofrem. Um tempo para aprender a acolher aquela pessoa que vive na minha família e sofre com uma mágoa que, para mim (talvez) não tem motivo de ser, mas que para ela é uma dor insuportável. Ter relacionamento de compreensão para com aquela pessoa que conheço e vive um complexo de inferioridade muito grande é ter um relacionamento misericordioso. Além disso, ser misericordioso com aquele que sofre agruras na sua vida pelo desemprego, pela crise econômica que passamos... fazendo-nos próximos destas pessoas. É sendo misericordiosos que realizamos aquilo que Paulo dizia na 2ª leitura: nós nos tornamos colaboradores de Cristo; ou seja, assumimos as mesmas atitudes divinas em relação a quem sofre e precisa de nossa presença, de nossa palavra, de nosso apoio.