O Mistério da Transfiguração
Vou iniciar minha homilia com uma pequena reflexão sobre o Mistério da Transfiguração. A mesma servirá de luz para compreendermos como este Mistério da vida de Jesus Cristo fala e atinge nossa vida, especialmente neste tempo quaresmal, no contexto do Ano Santo da Misericórdia. A Transfiguração de Jesus tem a ver com a sua desfiguração. No Monte Tabor, como ouvimos no Evangelho, Jesus se transfigura; no outro monte, o Monte do Calvário, Jesus é desfigurado pelo sofrimento. Foi justamente por tal motivo que Jesus levou consigo seus discípulos para que, ao vê-lo desfigurado na Cruz, não perdessem a fé e nem mesmo a esperança de que o seu projeto, o Reino de Deus, que ele tanto pregara, não dera em nada. Jesus se transfigura para que possamos conhecer a sua glória, escondida sob os véus da humanidade. A Cruz machucou a humanidade de Jesus, mas não foi capaz de atingir a sua glória, com a qual ele ressuscita, no terceiro dia, conforme sabemos das Escrituras e professamos em nossa fé.
Transfigurar-se
O Mistério da Transfiguração de Jesus não acontece de fora para dentro, mas de dentro para fora. Com isto eu estou dizendo que Jesus não foi iluminado por uma luz exterior, mas deixou que seus discípulos contemplassem a sua luz interior, manifestada de modo resplandecente. A Transfiguração de Jesus nada mais é que a manifestação (uma epifania, em termos teológicos) da presença da luz divina que Jesus trazia dentro de si. Assim como nossos rostos se transfiguram num momento de forte emoção, seja em tristeza que em alegria, assim Jesus manifestou toda a sua luz divina no momento da Transfiguração. Naquela luz estava o amor divino presente no Coração de Jesus, estava luz misericordiosa do amor divino. É neste ponto, no contexto do Ano Santo da Misericórdia, que podemos compreender como a Transfiguração nos atinge e como ela pode atingir nossa sociedade. Se em Jesus, a Transfiguração preparava os Apóstolos para a sua desfiguração na Cruz, hoje, nós temos um movimento inverso: a desfiguração humana, marcada pelo pecado, pela indignidade humana, pela exploração e, aqui no nosso Brasil, pela imoralidade da corrupção. Nós, não poucas vezes, fechamos os olhos ou desviamos o olhar diante da humanidade desfigurada.
Transfigurar a sociedade
Hoje, nossa missão não pode ficar na piedade de contemplar a glória do Senhor, porque ele está desfigurado em tantos rostos que sofrem ao nosso redor e perto de nós. É aqui que entra a atividade e a atitude missionária como resposta. Misericórdia é ir ao encontro de quem está caído, de quem perdeu a dignidade da vida, de quem vive na solidão ou com um vazio existencial. É ir ao encontro de quem não pode se transfigurar porque a luz que iluminava seu coração foi apagada por tantos motivos, que nem sempre conseguimos entender. Por isso, minha primeira proposta é para todos nós que conseguimos manter acesa a luz do amor, da alegria, da dignidade e do respeito pela vida. Nós que nos transfiguramos pela alegria e pela vontade de viver até mesmo nos momentos mais desafiadores, não deixemos de ser misericordiosos com quem vive apagado ou apagou a luz de sua existência. Ser misericordioso é ajudar a transfigurar, a iluminar um rosto triste com um sorriso, a enxugar uma lágrima com um abraço, a fazer brilhar um olhar com uma palavra de conforto e de amizade.
PEDINDO MISERICÓRDIA E FORÇAS
Senhor Jesus, Tu me amas tanto! Tu me compreendes,
acolhes, socorres e, apesar de meus pecados,
Tu me queres como sinal do teu amor infinito
e misericordioso. Em meu coração “quero ver
o direito brotar como fonte e a justiça correr igual
a um riacho que não seca!” Quero um mundo de
paz, fraternidade, respeito à natureza, solidariedade
com os pobres e misericórdia transbordando
em todos os lugares. Sei que este mundo só
vai acontecer quando todos fizerem a parte que
lhes cabe, quando eu fizer a parte que me cabe.
Por isso, Senhor Jesus, eu te peço: dá-me forças,
convida-me, empurra-me, arrasta-me, envolve-
-me. Toma conta do meu coração para que eu seja
um sinal do teu amor. Amém!
