A profecia faz parte do projeto divino; é um meio ou um instrumento escolhido pelo próprio Deus para anunciar seu projeto de vida à humanidade. Por isso, é preciso repetir e repetir muito que profecia não tem nada a ver com adivinhação, como compreende o senso comum, entendendo o profetizar como algo conectado a previsões futuras. Do ponto de vista bíblico, a profecia é um meio usado por Deus para anunciar uma proposta de vida para o seu povo e para toda a humanidade. Por isso, o profeta não fala por si mesmo, mas sempre fala aquilo que Deus pede para ser falado, em vista do seu projeto divino. O profeta, como ouvimos no início da 1ª leitura, não escolhe ser profeta, mas é escolhido e formado por Deus para ser profeta. Isto significa que ninguém se faz profeta porque quer, mas porque é escolhido por Deus.
É no contexto da vocação profética que o evangelista Lucas apresenta Jesus, no Evangelho deste Domingo. Como todos os profetas, Jesus não fala para agradar seus ouvintes, mas para anunciar o projeto divino e isto incomoda tanto seus conterrâneos, a ponto de decidirem que o matariam, empurrando-o precipício abaixo. Seus contemporâneos ficaram irritados por dois motivos. No primeiro, porque Jesus era um deles e se fazia profeta e, no segundo, porque Jesus coloca diante da cara deles que nenhum profeta é bem aceito em sua terra. É isso que Jesus experimentou e é isso que experimenta aquele e aquela que começam a testemunhar profeticamente o Evangelho, no cotidiano de sua vida. Seja pelo testemunho de palavras, seja pelo testemunho de atitudes e de comportamentos. Se você procura viver sua fé e testemunhá-la no meio da sociedade, então encontrará muitos amigos, mas se deparará, sim, com tantos que criticarão sua conduta e o quererão, a exemplo de Jesus, expulsá-lo da comunidade. Parece que faz parte da vida profética ser rejeitado, porque o verdadeiro profeta não agrada e nem promete privilégios, apenas diz a verdade em nome de Deus e, nem sempre, a verdade agrada.
Agora, na segunda parte da minha reflexão, chamo atenção para os carismas, cantados de modo magistral, tanto pela poesia como pela Teologia, na 2ª leitura. Hoje, na Igreja, fala-se muito em carismas. Existem pessoas carismáticas (mesmo não pertencendo ao movimento da Renovação carismática) pelo testemunho da fé em sua comunidade. O carisma, como sabemos, é um dom do Espírito Santo. Ninguém precisa pertencer a um movimento na Igreja para ter um carisma. Todos recebemos carismas no Batismo e fomos confirmados no dia da Crisma, com um carisma para o bem da comunidade. O carisma não é um prêmio, é um presente que recebemos gratuitamente de Deus. Se recebemos os carismas de Deus, como graça, não temos o direito de usá-los em favor próprio, para tirar vantagens pessoais. Todo carisma, toda a pessoa que vive o seu carisma, age em função e para o bem de toda a comunidade.