1 –
Dois movimentos da Epifania
A
Epifania tem dois movimentos que ajudam a compreender a sua espiritualidade. O
primeiro movimento está no significado da palavra: Epifania significa
manifestação, portanto, é realizado por Deus, que manifesta, apresenta, seu
Filho como luz do mundo. O segundo movimento encontra-se na atitude dos Reis
Magos; é o movimento de quem percebe uma nova luz na terra, de quem pesquisa o
que esta luz significa e, por fim, se coloca a caminho para entrar em contato
com a nova luz. A espiritualidade da Epifania, portanto, indica de quem sai de
um modo de viver para outro modo de viver. É uma espiritualidade marcada pela atração
do brilho da luz divina: “nós vimos a sua luz”, diziam os Reis Magos. Ter esta capacidade
de ver a luz de Deus brilhando na pobreza do presépio, por exemplo, na simplicidade
de uma família pobre, no silêncio de Belém.
2 –
Dois tipos de atitudes
Além
dos dois movimentos, de manifestar e peregrinar, colocar-se a caminho, a
Epifania apresenta duas reações importantíssimas, do ponto de vista da
espiritualidade. A primeira reação está implícita na atitude dos Reis Magos:
veem a estrela, pesquisam, estudam e se colocam a caminho. É a imagem de uma
espiritualidade dinâmica. A outra reação é aquela de Herodes e dos sacerdotes
que ele chamou para se informar. São Mateus não esclarece se Herodes e os
sacerdotes tinham visto a estrela. Possivelmente não, porque estamos em nível de
Teologia simbólica. Não viram a estrela, mas conheciam a profecia que o Messias
nasceria em Belém. Conheciam, mas permaneceram parados em seus conhecimentos,
em seus livros, em sua própria Bíblia. Não foram capazes de, nem mesmo por
curiosidade, acompanhar os Magos até Belém. Neste caso, não se pode falar de
espiritualidade; estamos na esfera do conhecimento, porque a espiritualidade
sempre exige sair do orgulho, de imaginar que se sabe tudo, para se fazer
buscador da face divina na pobreza de um presépio.
3 – A
espiritualidade cristã da Epifania
Na
conclusão de nossa reflexão, consideremos que a Epifania desenha uma imagem da espiritualidade
cristã que merece e, talvez, devesse ser considerada no decorrer deste novo ano
que estamos apenas iniciando. Faz parte da dinâmica da nossa espiritualidade
cristã rezar, celebrar os sacramentos, conhecer a Bíblia... mas não podemos
parar nestas atitudes. Quem se contenta em viver sua espiritualidade fazendo
sempre as mesmas coisas, com o passar do tempo não encontra a luz divina, mas o
tédio religioso. A nossa espiritualidade é uma viagem, uma peregrinação em
busca da luz divina porque somos atraídos pela luz de Deus. Quem nega esta
dimensão, perde o sentido da vida. O problema é que essa luz nem sempre é esplendente,
luminosa. Na maior parte das vezes, é uma luz tênue, brilhando na pobreza de um
presépio. Somente quem vive buscando o rosto de Deus percebe sua luz na
simplicidade e na pobreza do presépio. Amém!