Em
sua mensagem “Urbi et Orbi” para 01 de janeiro de 2020, o Dia Mundial da Paz, o
Papa Francisco toma como tema “A Paz como caminho de esperança: diálogo,
reconciliação e conversão ecológica”: “A paz é um bem precioso, objeto da nossa
esperança; por ela aspira toda a humanidade. Depor esperança na paz é um
comportamento humano que alberga uma tal tensão existencial, que o momento
presente, às vezes até custoso, ‘pode ser vivido e aceite, se levar a uma meta
e se pudermos estar seguros dessa meta, se esta meta for tão grande que
justifique a canseira do caminho’ (Bento XVI) Assim, a esperança é a virtude
que nos coloca a caminho, dá asas para continuar, mesmo quando os obstáculos
parecem intransponíveis”.
“A
nossa comunidade humana traz, na memória e na carne, os sinais das guerras e
conflitos que têm vindo a suceder-se, com crescente capacidade destruidora,
afetando especialmente os mais pobres e frágeis. Há nações inteiras que não
conseguem libertar-se das cadeias de exploração e corrupção que alimentam ódios
e violências. A muitos homens e mulheres, crianças e idosos, ainda hoje se nega
a dignidade, a integridade física, a liberdade – incluindo a liberdade religiosa
–, a solidariedade comunitária, a esperança no futuro. Inúmeras vítimas
inocentes carregam sobre si o tormento da humilhação e da exclusão, do luto e
da injustiça, se não mesmo os traumas resultantes da opressão sistemática
contra o seu povo e os seus entes queridos”.
“As
terríveis provações dos conflitos civis e dos conflitos internacionais,
agravadas muitas vezes por violências desalmadas, marcam prolongadamente o
corpo e a alma da humanidade. Na realidade, toda a guerra se revela um
fratricídio que destrói o próprio projeto de fraternidade, inscrito na vocação
da família humana”.
“Sabemos
que, muitas vezes, a guerra começa pelo fato de não se suportar a diversidade
do outro, que fomenta o desejo de posse e a vontade de domínio. Nasce, no
coração do homem, a partir do egoísmo e do orgulho, do ódio que induz a
destruir, a dar uma imagem negativa do outro, a excluí-lo e cancelá-lo. A
guerra nutre-se com a perversão das relações, com as ambições hegemônicas, os
abusos de poder, com o medo do outro e a diferença vista como obstáculo; e
simultaneamente alimenta tudo isso”.
“Como
fiz notar durante a recente viagem ao Japão, é paradoxal que o nosso mundo viva
a dicotomia perversa de querer defender e garantir a estabilidade e a paz com
base numa falsa segurança sustentada por uma mentalidade de medo e
desconfiança, que acaba por envenenar as relações entre os povos e impedir a
possibilidade de qualquer diálogo. A paz e a estabilidade internacional são
incompatíveis com qualquer tentativa de as construir sobre o medo de mútua
destruição ou sobre uma ameaça de aniquilação total. São possíveis só a partir
duma ética global de solidariedade e cooperação ao serviço dum futuro modelado
pela interdependência e a corresponsabilidade na família humana inteira de hoje
e de amanhã”.
Fonte:
Dom Fernando Arêas Rifan