Este Deus que partilha os nossos sofrimentos, o
Deus que Se fez homem para levar a nossa cruz, quer transformar o nosso coração
de pedra chamando-nos a partilhar os sofrimentos alheios, quer dar-nos um “coração
de carne” que não fique impassível diante dos sofrimentos alheios, mas se deixe
comover e nos leve ao amor que cura e ajuda.
“SE ALGUÉM QUISER VIR APÓS MIM, RENEGUE-SE A SI MESMO,
TOME A SUA CRUZ E SIGA-ME” (MT 16, 24).
Com todas estas palavras, o próprio Jesus nos dá a
interpretação da “Via-Sacra”, ensina-nos como devemos fazê-la e segui-la: a
Via-Sacra é o caminho da perda de nós mesmos, isto é, o caminho do amor
verdadeiro.
Ele precedeu-nos neste caminho; este é o caminho que a
devoção da Via-Sacra nos quer ensinar. E isto leva-nos mais uma vez ao
grão de trigo, à Santíssima Eucaristia, na qual se torna continuamente presente
entre nós o fruto da morte e da ressurreição de Jesus. Na Eucaristia, Ele
caminha conosco, como outrora com os discípulos de Emaús, fazendo-Se
constantemente nosso contemporâneo. Cardeal Joseph Ratzinger 04/2005 “Papa Emérito Bento XVI”
"Vamos participar da festa da Páscoa", por enquanto ainda
em figuras, embora mais claramente do que na antiga lei
(a Páscoa legal era, por assim dizer, uma figura muito velada da própria figura).
Mas, em breve, participaremos de modo mais
perfeito e mais puro, quando o verbo vier beber conosco o vinho novo no reino
de seu Pai, revelando definitivamente o que até agora só em parte nos mostrou.
A nossa Páscoa é sempre nova.
Qual é essa bebida e esse conhecimento?
A nós compete dizê-los; e ao Verbo compete ensinar e
comunicar essa doutrina e a seus discípulos. Porque a doutrina daquele que
alimenta é também alimento.
Quanto a nós, participemos também dessa festa ritual, não
segundo a letra mas segundo o Evangelho; de modo perfeito, não imperfeito; para
a eternidade, não temporariamente.
Seja a nossa capital, não a Jerusalém terrestre, mas
a cidade celeste; não a que é agora arrasada pelos exércitos, mas a que é
exaltada pelo louvor e aclamação dos anjos.
Sacrifiquemos não novilhos ou carneiros com chifres e
cascos, vítimas sem vida e sem inteligência; pelo contrário ofereçamos a Deus um sacrifício de louvor
sobre o altar celeste, em união com os coros angélicos.
Atravessemos o primeiro véu, aproximemo-nos do segundo
e fixemos o olhar no Santo dos Santos.
Direi
mais: imolemos-nos a Deus, ou melhor, ofereçamo-nos a ele cada dia, com todas
as nossas ações.
Façamos o que nos sugerem as palavras: imitemos com
os nossos sofrimentos a Paixão de Cristo, honremos com o nosso sangue o seu sangue, e subamos corajosamente à sua cruz.
Se és Simão Cirineu, toma a cruz e segue a Cristo.
Se, qual o ladrão, estás crucificado com Cristo, como homem íntegro, reconhece a Deus.
Se por tua causa e por teu pecado ele foi tratado como malfeitor,
torna-te justo por seu amor. Adora aquele que foi crucificado por tua causa.
Preso à tua cruz, aprende a tirar proveito até da tua própria iniquidade.
Adquire a tua salvação com a sua morte, entra com
Jesus no paraíso, e saberás que bens perdeste com a tua queda. Contempla as belezas daquele lugar, e deixa que o ladrão rebelde fique dele excluído, morrendo na sua blasfêmia
Se és José de Arimatéia, pede o corpo a quem o mandou
crucificar; assim será tua a vítima que expiou o pecado do mundo.
Se és Maria, ou a outra Maria, ou Salomé, ou Joana,
derrama tuas lágrimas por ele. Levanta-te de manhã cedo, procura ser o
primeiro a ver a pedra do túmulo afastada, e a encontrar talvez os anjos, ou, melhor ainda, o próprio Jesus.
Vamos
participar da festa da Páscoa.
São Gregória de Nazianzo, bispo , Século
IV
cf. Liturgia das Horas , Volume II , páginas
352-353, Ofício das Leituras V sábado da Quaresma.
22/03/2013 - sexta-feira da V semana da Quaresma