No segundo dia da sua visita apostólica ao Egipto o Papa Francisco celebrou a Missa no Estádio da Aeronáutica Militar do Cairo e na homilia, falando dos dois discípulos de Emaús que deixaram Jerusalém, resumiu o Evangelho do dia em três palavras: morte, ressurreição e vida.
Na Morte estão representados os dois discípulos que voltam à sua vida quotidiana, repletos de desânimo e desilusão – disse Francisco – porque o Mestre morreu e se sentiam desorientados, enganados e desiludidos, sem saberem que, na realidade, eram eles os mortos no sepulcro da sua limitada compreensão, disse o Papa:
“Quantas vezes o homem se autoparalisa, recusando-se a superar a sua ideia de Deus, um deus criado à imagem e semelhança do homem! Quantas vezes se desespera, recusando-se a crer que a omnipotência de Deus não é omnipotência de força, de autoridade, mas é apenas omnipotência de amor, de perdão e de vida!”
Mas os discípulos reconheceram Jesus no ato de «partir o pão», na Eucaristia – prosseguiu Francisco, sublinhando que também nós, se não deixarmos romper o endurecimento do nosso coração e dos nossos preconceitos, nunca poderemos reconhecer o rosto de Deus.
Em seguida Francisco falou da Ressurreição ressaltando que o Ressuscitado fez ressurgir os dois discípulos do túmulo da sua incredulidade e tristeza e acharam o sentido da aparente derrota da Cruz. Nós também não podemos encontrar Deus, sem crucificar primeiro as nossas ideias limitadas dum deus que reflecte a nossa limitada compreensão da omnipotência e do poder.
A seguir Francisco falou da Vida. O encontro com Jesus ressuscitado transformou a vida dos dois discípulos, disse o papa, porque encontrar o Ressuscitado transforma toda a vida e torna fecunda qualquer esterilidade. Os discípulos de Emaús compreenderam isto e voltaram a Jerusalém para partilhar com os outros a sua experiência, observou ainda Francisco:
“A experiência dos discípulos de Emaús ensina-nos que não vale a pena encher os lugares de culto, se os nossos corações estiverem vazios do temor de Deus e da sua presença; não vale a pena rezar, se a nossa oração dirigida a Deus não se transformar em amor dirigido ao irmão; não vale a pena ter muita religiosidade, se não for animada por muita fé e muita caridade; não vale a pena cuidar da aparência, porque Deus vê a alma e o coração e detesta a hipocrisia. Para Deus, é melhor não acreditar do que ser um falso crente, um hipócrita!”
E o Papa fez breve síntese da verdadeira fé ressaltando que Deus só aprecia a fé professada com a vida, e que o único extremismo permitido aos crentes é o da caridade, e qualquer outro extremismo não provém de Deus nem Lhe agrada:
“A fé verdadeira é a que nos torna mais caridosos, mais misericordiosos, mais honestos e mais humanos; é a que anima os corações levando-os a amar a todos gratuitamente, sem distinção nem preferências; é a que nos leva a ver no outro, não um inimigo a vencer, mas um irmão a amar, servir e ajudar; é a que nos leva a espalhar, defender e viver a cultura do encontro, do diálogo, do respeito e da fraternidade; é a que nos leva a ter a coragem de perdoar a quem nos ofende, a dar uma mão a quem caiu, a vestir o nu, a alimentar o faminto, a visitar o preso, a ajudar o órfão, a dar de beber ao sedento, a socorrer o idoso e o necessitado. A verdadeira fé é a que nos leva a proteger os direitos dos outros, com a mesma força e o mesmo entusiasmo com que defendemos os nossos”.
E Francisco terminou convidando os presentes a voltar à sua Jerusalém, como os discípulos de Emaús, isto é, à sua vida diária, suas famílias, seu trabalho e sua amada pátria, cheios de alegria, coragem e fé, sem medo de amar a todos, amigos e inimigos.
Que a Virgem Maria e a Sagrada Família, que viveram nesta terra abençoada, iluminem os nossos corações e vos abençoem a vós e ao amado Egipto que, ao longo da história, deu muitos mártires e uma longa série de Santos e Santas! – concluiu Francisco. (BS)