Cantemos
à glória de Deus, cantemos ao nosso Rei, porque Ele é Rei de toda a terra (SI
47,6-8). É a ascensão do Senhor o coroamento da Sua Ressurreição. É a entrada
oficial naquela glória que cabia ao Ressuscitado após as humilhações do
Calvário, é a volta ao Pai, já por Ele anunciada no dia da Páscoa: “Subo para
meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus” (Jo 20,17).
Aos
discípulos de Emaús: “Não era preciso que o Messias sofresse essas coisas e que
assim entrasse em sua glória?” (Lc 24,26). Esse modo de exprimir-se indica não
tanto volta e glória futuras, mas imediatas, já presentes, porque estritamente
unidas à Ressurreição. Todavia, para confirmar os discípulos na fé, era
necessário que tal acontecesse de modo visível, como se verificou 40 dias
depois da Páscoa.
Como
aconteceu a Ascensão do Senhor?
Imagem
ilustrativa: Benjamin West
Ascensão
do Senhor: quando começa a missão dos discípulos
Aqueles
que tinham visto o Senhor morrer na cruz, entre insultos e escárnios,
precisavam ser testemunhas da sua suprema exaltação no céu. Referem o fato os
Evangelistas com muita sobriedade, todavia, suas narrações salientam o poder de
Cristo e sua glória: ‘Foi-me dado todo poder no céu e na terra’, lê-se em
Mateus (28,18) e acrescenta Marcos: ‘O Senhor Jesus subiu ao Céu e está
assentado à direita de Deus’ (16,19). Lucas, porém, recorda a última grande
bênção de Cristo aos apóstolos: ‘Ao abençoá-los, afastou-se deles e ia
elevando-se ao céu’ (24,51).
Também
nos últimos sermões de Jesus resplandece sua majestade divina. Fala como quem
tudo pode e prediz aos discípulos que em seu Nome ‘expulsarão demônios, falarão
novas línguas, pegarão em serpentes e, se beberem algum veneno mortífero, não
lhes fará mal, imporão as mãos aos doentes e recobrarão a saúde‘ (Mc 16,
17-18). Provam os Atos dos Apóstolos a realidade de tudo isto.
Em
seguida, Lucas, tanto na conclusão do seu Evangelho como nos Atos, fala da
grande promessa do Espírito Santo que confirma os apóstolos na missão e nos
poderes recebidos de Cristo: “Eis que enviarei sobre vós o Prometido por meu
Pai” (Lc 24, 49), “recebereis força com a vinda do Espírito Santo sobre vós, e
sereis minhas testemunhas… até aos confins do mundo. Dito isso, elevou-se para
o alto, à vista deles, e uma nuvem o ocultou a seus olhos” (At 1, 8-9).
Espetáculo
magnífico que deixou os apóstolos atônitos, “com o olhar fixo no céu”, até que
dois anjos lhes apareceram. E o cristão chamado a participar de todo o mistério
de Cristo e, portanto, também de sua glorificação. Ele mesmo o havia dito: ‘vou
preparar-vos um lugar. E quando eu tiver ido, voltarei novamente avós e vos
tomarei comigo, afim de que onde eu estou estejais também vós’ (Jo 14, 2-3).
Esperança
Constitui,
portanto, a Ascensão grande argumento de esperança para o homem que, no seu
peregrinar terreno, sente-se exilado e sofre longe de Deus. A esperança que
implorava São Paulo para os Efésios e queria viva em seus corações. “O Deus de
Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, ilumine os olhos de vossa
inteligência para compreenderdes qual a esperança a que vos chamou” (Ef 1,
17-18). E onde fundava o apóstolo essa esperança? No grande poder de Deus
‘manifestado em Cristo, ressuscitando-o dos mortos e fazendo-o sentar-se à sua
direita nos céus, acima de todo Principado e Poder (ou seja, dos anjos) e de
qualquer outro nome” (ibidem, 20-21).
A
glória de Cristo exaltado acima de toda criatura é, no pensamento paulino, a
prova do que fará Deus por quem, aderindo a Cristo pela fé e pertencendo a Ele
como membro do único Corpo de que é Cabeça, participará de sua sorte. Isso
requer Cristianismo autêntico: crer e alimentar firme esperança de que, como
hoje o fiel, nas tribulações da vida, participa da morte de Cristo, assim um
dia participará da Sua glória eterna.
Os
anjos, que no monte da Ascensão dizem aos apóstolos: ‘Esse Jesus, que do meio
de vós subiu ao céu, um dia virá do mesmo modo com que o vistes ir para o céu’
(At 1, 11), e os fiéis, que, enquanto aguardam a volta final de Cristo,
precisam pôr a mão na obra. Com a Ascensão, termina a missão terrena de Cristo
e começa a dos discípulos.
“Ide
ensinar todas as nações, batizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito
Santo” (Mt 28,19), devem eles perenizar no mundo sua obra de Salvação pregando,
administrando os sacramentos, ensinando a viver segundo o Evangelho.
Todavia,
quer Cristo que tudo isso seja precedido e preparado pela oração, na
expectativa do Espírito Santo que deverá confirmar e corroborar seus apóstolos.
Começa, assim, a vida da Igreja não com a atividade, mas com a oração, junto de
‘Maria, a Mãe de Jesus’ (At 1,14).
Eduardo
Rocha Quintella